Contrariando previsões, carne encarece

O surto de febre aftosa no Mato Grosso do Sul e a recente suspeita da doença no Paraná ainda não estão refletindo no preço da carne vermelha. No Paraná, segundo levantamento feito pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), de onze cortes de carne analisados, oito tiveram alta nos preços, e três, queda na semana passada, em relação à semana anterior.

Para o médico veterinário do Deral, Fabio Mezzadri, que atua na pecuária de corte, havia carne estocada nos frigoríficos, daí o fato de os preços ainda não terem caído nas gôndolas. ?Até agora, o pessoal vendeu o que estava estocado. A tendência natural, porém, é que daqui para frente os preços caiam?, afirmou Mezzadri. Isso porque, para o produtor, o preço da arroba do boi já reduziu consideravelmente. No último dia 11, logo após a confirmação do primeiro foco de aftosa em Eldorado (MS), a arroba do boi era comercializada a R$ 55,00 na região de Londrina. Ontem, o preço já havia caído para R$ 48,00, ou seja, queda de quase 13%. Na média do Estado, a arroba passou de R$ 51,00 (dia 11 de outubro) para R$ 49,00 ontem -queda de 5%.

?Muitos frigoríficos podem ter comprado quando o preço da arroba estava alto. Mas agora vão comprar mais barato e isso deve refletir no preço para o consumidor?, apontou. A expectativa, segundo ele, é que já em novembro os preços estejam menores.

Mezzadri lembrou que, não fosse o surto de febre aftosa, a tendência seria de alta do preço da arroba do boi nessa época do ano. ?É quando aumenta o consumo por conta das festas de final de ano e o preço da arroba dá uma melhorada?, explicou. ?Mas este ano está sendo totalmente atípico.?

Curitiba

Em Curitiba, as oscilações do preço da carne vermelha, ocorridas desde o último dia 13, são consideradas normais, segundo o chefe da Divisão da Conjuntura Econômica da Secretaria Municipal de Abastecimento, Henri Paulo Lira. ?São variações consideradas normais. Variações de 15% a 20% sim já refletiriam alguma repercussão?, analisou Lira. Conforme levantamento da secretaria municipal, o corte de carne que mais subiu no período (do dia 13 até ontem) foi a costela ripa, com alta de 9,93%. Outra alta expressiva foi a do acém, com aumento de 6,26%. Assim como em nível estadual, em Curitiba a elevação do preço da carne foi que preponderou – dos 17 cortes analisados, dez tiveram aumento. Já a maior queda foi verificada no coxão mole (-6,93%). ?O que estão vendendo no mercado é o que já havia em estoque?, afirmou Lira. Daqui duas semanas, acredita, deve haver alteração nos preços para cima ou para baixo.

?Não reagindo?

O assessor econômico do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Paraná (Sindicarnes-PR), Gustavo Fanaya, admitiu que o mercado ainda não está reagindo ao surto de aftosa no MS, nem à suspeita de focos no Paraná. ?Houve alguns cortes (de carne) que tiveram, inclusive, alta de preço?, lembrou.

Segundo Fanaya, frigoríficos menores que atendem basicamente o mercado paranaense quase nem foram afetados pela crise. Já aqueles que têm inspeção federal, independentemente se são pequenos, médios ou grandes – incluindo três deles que têm plantas exportadoras, são os que mais estão sentindo os efeitos da aftosa. ?Os grandes, que abatem cerca de 15 mil cabeças (de gado) por mês, são os que mais estão sentindo. Alguns até pararam totalmente?, afirmou. É o caso do Garantia e o Margem, em Maringá e Paranavaí, respectivamente, que são voltados especialmente ao mercado externo.

Em todo o Paraná, segundo Fanaya, existem cerca de 250 frigoríficos, incluindo os que têm inspeção federal, estadual ou municipal. A produção de carne nos frigoríficos com inspeção federal no Estado soma 34,3 mil toneladas por mês, com o abate de cerca de 130 mil cabeças. Desse total, 60% fica no Paraná, 14% vai para outros países, e o restante para outros estados. O Paraná também compra carne de outros estados, especialmente do Mato Grosso do Sul. O consumo de carne no Estado é estimado em 38 mil toneladas por mês. 

Pessuti discute fiscalização em Foz

O vice-governador e secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, vai estar amanhã em Foz do Iguaçu participando de uma reunião com representantes dos governos brasileiro e paraguaio, para discutir o trabalho de fiscalização das barreiras internacionais entre o Paraná e o Paraguai. Estarão presentes o secretário Nacional de Desenvolvimento Agropecuário do Ministério da Agricultura, Gabriel Maciel; o presidente do Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Animal do Paraguai, Hugo Corralez; o diretor-geral da Secretaria da Agricultura, Newton Pohl Ribas; o superintendente regional do Ministério da Agricultura, Valmir Kowaleski; e o diretor do Departamento de Defesa, Fiscalização e Sanidade Agropecuária (Defis), Felisberto Baptista.

A exemplo do trabalho que vem realizando nos postos de fiscalização na divisa com Mato Grosso do Sul, para impedir a entrada de animais suscetíveis a febre aftosa, o Paraná também quer reforçar a vigilância na fronteira com o Paraguai. Por se tratar de divisa internacional, cabe ao Ministério da Agricultura essa função. No entanto, a Secretaria da Agricultura se prontificou a colaborar com o governo federal. ?Queremos trabalhar em parceria no controle das barreiras internacionais e, no momento, estamos disponibilizando técnicos, equipamentos e veículos para que as ações naquela região sejam realmente efetivas?, explica Newton Pohl Ribas.

SP interdita propriedades

Araçatuba (AE) – Para fechar o cerco à febre aftosa, o Estado de São Paulo vai ampliar o número de propriedades interditadas com animais provenientes dos estados de Mato Grosso do Sul e Paraná. Até ontem, 38 propriedades, que receberam 1.943 animais (entre bovinos, suínos, ovinos e caprinos) do Paraná, tinham sido interditadas em 41 municípios paulistas. Nenhum dos animais, segundo a Coordenadoria de Defesa Agropecuária, apresentou sintomas de febre aftosa. O objetivo agora é isolar os bovinos levados do Mato Grosso do Sul para São Paulo nos últimos 60 dias. A coordenadoria não soube informar quantos são e em quantas propriedades eles estão espalhados, mas somente na região de Araçatuba, que faz divisa com Mato Grosso do Sul, cerca de 60 propriedades receberam bovinos daquele estado nos últimos dois meses.

O coordenador da Defesa, Enoch Tadeu Mendonça, disse que a medida serve para cumprir normas internacionais de controle sanitário. Ele afirmou que a maioria do gado já foi abatida e afirmou não haver entre os animais nenhum que tenha saído dos municípios atingidos pelos focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul. Apesar disso, São Paulo recebeu bovinos da região contaminada.

61% dos recursos empenhados

Brasília (AE) – Para defender-se das acusações de não ter gasto o dinheiro repassado pela área econômica do governo, e de lentidão nos repasses de verbas aos estados, o Ministério da Agricultura divulgou ontem um balanço mostrando quanto foi gasto em cada programa de defesa sanitária e animal. As críticas ganharam força depois da confirmação de casos de febre aftosa no rebanho de Mato Grosso do Sul, onde já foram confirmados 11 focos da doença. De acordo com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), até o dia 19 de outubro, do limite orçamentário total destinado à Secretaria de Defesa Agropecuária para este ano, de R$ 91,1 milhões, cerca de R$ 55,4 milhões (61%) estão empenhados, ou seja, comprometidos com o pagamento de algum produto ou serviço. O valor que ainda não foi empenhado, R$ 35,7 milhões, está reservado a ações em diversos estados, informou o Ministério da Agricultura. Do total de R$ 55,4 milhões comprometidos até agora, R$ 24,3 milhões (26,6%) já foram efetivamente pagos e R$ 31,1 milhões continuam empenhados. ?Trata-se de despesas comprometidas com licitações e com convênios com vários estados, em fase de liquidação?, informou a nota.

No caso de Mato Grosso do Sul, o valor empenhado soma R$ 3,5 milhões, mas a liberação efetiva depende da apresentação de um programa estadual para combate da febre aftosa. Outra condição é que o governo local não pode ter pagamentos pendentes ao governo federal. O ministério esclareceu em nota que a portaria número 51 dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, que definiu o limite orçamentário da pasta, foi publicada no dia 11 de março. Somente a partir da definição desse limite é que a secretaria começou a programar e contratar mercadorias e serviços para as ações que são executadas em todo o Brasil. O balanço mostra que, do limite orçamentário de R$ 91,1 milhões da secretaria, cerca de R$ 68 milhões foram destinados à área animal, dos quais foram empenhados, até o dia 19 de outubro, R$ 43,8 milhões. Para ações de erradicação e controle da febre aftosa estão comprometidos, até agora, R$ 13,6 milhões, de um limite total de R$ 20 milhões. Também na área animal foram destinados R$ 18,1 milhões para funcionamento do sistema laboratorial, e empenhados até o momento R$ 15,2 milhões, dos quais R$ 10,2 milhões foram liquidados e estão em fase de pagamento.

Conversa amável com Palocci

Brasília (AE) – Depois de levar a culpa pelo foco de aftosa em Mato Grosso do Sul, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, chamou ontem a bancada ruralista para uma conversa pacificadora. No encontro, o ministro confirmou a liberação de R$ 300 milhões para apoiar a comercialização de arroz, trigo, algodão e farinha de mandioca, e de R$ 33 milhões para ajudar os pecuaristas que tiverem seus rebanhos abatidos por causa da doença. Ambos os dados já haviam sido divulgados pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

Em outra ação, o Ministério da Agricultura anunciou um pacote de R$ 554 milhões para apoiar a comercialização de grãos. Porém, o secretário de Política Agrícola, Ivan Wedekin, negou que o programa tivesse relação com a crise da aftosa ou com a conversa de Palocci com a bancada ruralista.

O presidente da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, Ronaldo Caiado (PFL-GO), disse que a conversa com Palocci ?foi amável porque o governo sentiu que a aftosa e o embargo de vários países à carne brasileira pode ter impactos econômicos?. Outro motivo que pode ter sensibilizado o governo, segundo ele, é o fato de a doença ter atingido um importante estado da pecuária de corte. ?A credibilidade da carne brasileira pode estar sendo colocada em dúvida, um trabalho de muitos anos pode ser deteriorado em alguns minutos?, disse Caiado.

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