Consumo registra primeira queda em 10 anos

À beira de completar uma década de Plano Real, as indústrias de bens de consumo não-duráveis atravessam hoje um cenário inverso à euforia dos primeiros anos de estabilidade econômica, quando o fim da inflação elevou a renda e provocou um “boom” no consumo de produtos de maior valor agregado, como iogurtes. Em 2003, pela primeira vez desde 1994, o consumo de produtos de uso diário caiu em volume, acompanhando o empobrecimento da população.

Segundo um relatório divulgado todos os anos pela AC Nielsen, a queda foi de 0,6% em relação a 2002, confirmando o diagnóstico dos supermercados, de que o ano foi o pior para o setor na última década. O quadro mostra que não há espaço para elevar preços e recuperar rentabilidade sem comprometer a produção. O volume vendido recuou 0,6% enquanto, em valor, as vendas aumentaram 8,7%. Em média, os preços subiram 9,4% no ano passado. Nesta lista estão os produtos comprados nos supermercados, como alimentos, bebidas, itens de higiene, limpeza da casa, beleza e saúde.

As pesquisas da Nielsen também comprovam a percepção dos consumidores, de que os supermercados menores, de bairro, hoje têm preços mais baixos do que as grandes lojas. “Isto é um fato, ocorre mesmo” , afirma Artur Bernardo Neto, gerente comercial da AC Nielsen do Brasil.

“Hoje, ter só um grande poder de barganha (junto aos fornecedores) já não faz a diferença” , afirma Bernardo Neto, que atribui a vantagem competitiva dos pequenos ao mix mais adequado de produtos, mas também à “relativa informalidade na sua forma de administração” . Isto significa o não-pagamento regular de imposto.

O pequeno varejo alimentar aumentou sua participação nas vendas totais de bens de consumo não-duráveis de 36,9% em 2001 para 38,3% em 2003. A fatia dos hipermercados encolheu de 18,8% para 16,2%. A participação dos supermercados médios ficou estável, com um ligeiro aumento de 15,4% para 15,9%, enquanto a fatia dos pequenos supermercados manteve-se em 11,2%.

Nas prateleiras, os líderes em vendas também perderam terreno. Se nos anos entre 1995 e 1997 as marcas líderes vinham em alta, agora, ao contrário, estão em baixa. O consumo migrou para produtos mais baratos e, com o orçamento mais apertado, a infidelidade dos consumidores aumentou.

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