Consumidor está recorrendo ao ‘vale-presente’ neste Natal

Mote dos presentes de Natais de outrora, o CD há muito deixou de ser um dos principais alvos dos consumidores dispostos a presentear nesta época do ano. Por outro lado, o vale-presente vem ganhando cada vez mais espaço e, nesse Natal, se consolida como o “produto” mais procurado pelo “Papai Noel”. Para alguns estabelecimentos de Curitiba, que oferecem opções diversificadas de produtos, o volume de vendas de vales-presente chega a aumentar 300%.

As lojas de CD, que ainda sobrevivem à pirataria e à facilidade de adquirir arquivos de áudio e vídeo da internet, relatam que o movimento não apresenta um acréscimo significativo no final de ano. A situação, no entanto, se inverte quando o assunto é o vale-CD ou DVD.

O vendedor Sérgio Aparecido Dias conta que a venda de CDs em dezembro há três anos foi “sensacional”. “Mas no ano passado foi ruim e neste ano está sendo péssimo”, reclama. No entanto, Dias, que trabalha há 15 anos no ramo, afirma que as vendas de vale-presente chegam a crescer 20% nesta época.

O fenômeno dos vales presente também é comemorado entre os supermercados da capital. De acordo com o gerente do Supermercado Extra em Curitiba Hamilton Viana, em dezembro de 2007, em todas as lojas do Extra no País, foram comercializados 78,8 mil unidades do que ele chama de “cartão-presente”. Neste mês, até a semana passada, já haviam sido vendidos 110 mil cartões. “De primeiro de dezembro até agora tivemos um aumento de 30% nas vendas do cartão-presente, em relação à primeira quinzena de dezembro do ano passado. Para esta semana, a expectativa é de um crescimento ainda maior”, comenta.

Para Viana, a grande vantagem do vale-presente é que o produto se adapta à possibilidade financeira do consumidor, já que o valor da compra varia de R$ 10 a R$ 500. “Basta a pessoa se dirigir ao caixa e escolher o valor. Quem vai ganhar o presente recebe um envelope para que ele possa fazer a troca”, explica.

Já para o gerente do Supermercado Muffato Evandro Selivon, que relata um crescimento de 300% nas vendas do vale presente em dezembro, o desempenho poderia ser ainda maior. Segundo ele, o consumidor ainda não conhece o produto. “Só compra quem está com dúvidas e não sabe o que comprar para presentear. Dar um vale também pode ser uma saída para quem participa de amigo-secreto, já que muitas vezes a pessoa não sabe medidas de roupas ou gosto do “amigo” para música, por exemplo”, afirma.

Outro ramo que vê as vendas de vales-presente se multiplicarem a cada Natal é o de livrarias. O diretor comercial da Livrarias Curitiba Marcos Pedri conta que em dezembro de 2007 foram vendidos 4,4 mil vales. Neste ano, até a última sexta-feira, já haviam sido vendidos mais de 5 mil. Segundo Pedri, esse aumento de vales vendidos deixa claro que os livros também vêm sendo alvo dos consumidores para o Natal.

Pedri conta que o consumidor pode escolher uma série de produtos culturais e de entretenimento por valores acessíveis. Segundo ele, o valor médio dos livros mais vendidos é de R$ 25. “Hoje os livros estão mais atrativos para presente. Eles aliam sofisticação, qualidade e acabamento de primeira a um baixo custo. É raro um produto que pode competir com isso”, explica.

Mercados esperam vender mais

A crise na economia internacional não deve afetar os negócios dos supermercados neste final de ano. De acordo com a Associação Paranaense de Supermercados (Apras), as vendas do setor devem crescer conforme a média de dezembro dos últimos anos – entre 35% e 40%.

Além do histórico bom desempenho do setor no final de ano, os produtos sazonais da época tendem a apresentar um aumento superior aos demais produtos. Só o grupo Pão de Açúcar espera um crescimento de até 30% nas vendas de itens sazonais comparado ao mesmo período do ano passado.

Segundo o presidente da Apras, Everton Muffato, o aumento de vendas no Paraná deve chegar com crescimento nominal de 10% em relaç&at,ilde;o às vendas do final do ano anterior no setor de alimentos e um crescimento de 5% nos produtos duráveis. “Este ano haverá uma diminuição na procura de bens duráveis e importados devido à crise, mas em compensação um aumento maior na procura de alimentos devido ao aumento de renda e da oferta de emprego da população”, observa Muffato.

Para o gerente do Supermercado Muffato Evandro André Selivon, a facilidade especial de final de ano promovida pelos estabelecimentos torna-se um chamativo irresistível para comprar. “A crise não atingiu o tino do consumidor para aproveitar promoções. Com as facilidades os presentes variam dos mais populares aos refrigeradores, TVs de plasma
e LCD e notebooks”, conta.

Quanto ao crescimento do faturamento do setor no Brasil, de acordo com a Apras, o Paraná segue a média nacional (8,93%). O Estado no acumulado do ano (janeiro a setembro) cresceu 8,98% e deverá fechar o ano entre 8% e 10% de crescimento real. Índices já deflacionados pelo IPCA do IBGE.

O índice mensal também segue o da Abras no Estado. Comparados ao mês de setembro de 2007 o setor cresceu em 5,7% (Brasil: 5,53%), mas em relação a agosto desse ano teve uma retração de 5,2% (Brasil -5,63%).

“Amigo-secreto” até entre família, para economizar

As eminentes confirmações do bom desempenho do comércio não refletem, contudo, o comportamento de alguns consumidores, que, preocupados com o momento instável da economia, preferem se manter comedidos durante as compras de final de ano. Assim, parte deles têm recorrido à uma brincadeira recorrente e característica de final de ano para, além de presentear, economizar. Trata-se do “amigo-secreto”.

Ponderada economicamente, a agente de viagem Carla Mara Berti sugeriu essa iniciativa. “Minha família é muito grande para presentear todo mundo. Somos 16. O jeito foi convencer o pessoal para não acabar com um rombo na conta em janeiro”. Idéia prontamente aceita, ela conta que foi estipulado um valor mínimo de R$ 50 para cada participante.

Carla explica que foi fácil persuadir os parentes de que é mais econômico presentear um, com um produto de maior valor, do que comprar para todos com presentes de valores mínimos.

A estudante de publicidade Helenice Mendes conta que sorteia os nomes do amigo-secreto entre sua família há três anos. Segundo ela, o vale-presente pode ser uma boa opção quando a pessoa não tem certeza se o “amigo” vai gostar de um determinado produto. “É mais difícil errar e a pessoa fica mais à vontade para escolher o que mais gosta”, diz.
Já para o publicitário Rafael Maia, o amigo-secreto é uma maneira de todos de sua família ganharem presentes. “A gente não pode se dar o luxo de dar uma coisa mais cara. Nessa época difícil a gente tem que pensar em prioridades e o amigo- secreto é uma boa saída.”