Comércio entre Brasil e EUA poderia ser maior

A relação comercial entre o Brasil e os Estados Unidos é boa, mas poderia se tornar ainda maior e melhor do que é hoje. A opinião é do diretor da Câmara do Comércio dos Estados Unidos, Mark Smith, em entrevista exclusiva ao O Estado do Paraná. ?O relacionamento bilateral é forte, mas na nossa perspectiva poderia ser bem melhor?, apontou Smith. Segundo ele, o excesso de burocracia brasileira e a infra-estrutura precária são desafios que ainda precisam ser vencidos.  

?O Brasil é uma grande economia, mas nosso relacionamento comercial ainda é muito pequeno. O movimento de mercadorias através dos portos brasileiros é muito custoso e pouco prático?, comentou. Segundo ele, o tempo necessário entre o descarregamento do navio e o carregamento nos caminhões no Brasil ?é, às vezes, chocante?. ?São processos que devem ser olhados com mais cuidado?, disse. Ainda na área de infra-estrutura, Smith defende melhorias nas redes rodoviárias e ferroviárias.

Outro problema, diz, é o excesso de burocracia. ?Há um desafio em termos burocráticos. O Brasil tem tantos regulamentos que custam muito e mudam de um dia para outro?, criticou. Para Smith, o governo federal ?é um dos principais atores? do contexto, mas ele não tira a responsabilidade dos governos estaduais, municipais, além da iniciativa privada. ?Muitos estados têm como criar uma melhor infra-estrutura, melhorar os portos, criar incentivos fiscais para aumentar a relação comercial. O governo, porém, não vai fazer tudo o que é necessário sem a participação do setor privado. As empresas também são responsáveis?, disse.

Burocracia atrapalha

O coordenador do Centro Internacional de Negócios no Paraná (CIN-PR), que faz parte do Sistema Federação das Indústrias no Estado do Paraná (Fiep), Vinicius Ruete Gasparetto, concorda que o excesso de burocracia atrapalha. ?Só este ano, duas empresas norte-americanas deixaram de se instalar no Paraná por conta da burocracia. Uma delas tinha investimento previsto de US$ 10 milhões e geraria cerca de 400 empregos?, contou. Sem citar os nomes das empresas, Gasparetto afirmou que uma é da área de equipamentos de segurança do trabalho e outra atua na área de tecnologia.

A infra-estrutura precária, principalmente no que se refere aos portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, também pesa negativamente. ?A demourrage (tempo de espera para que o navio possa atracar) está fazendo com que o Brasil perca mercado, perca competitividade. O País está pecando pela falta de infra-estrutura?, criticou.

?Nos Estados Unidos é possível saber, através do GPS, onde está a carga, e fazer todo o controle desde despachar a mercadoria do navio para o trem e daí ao cliente. Aqui ainda estamos trabalhando para que isso seja feito?, comparou Gasparetto, que trabalhou nos Estados Unidos durante oito anos representando produtos paranaenses. ?Existe insegurança em todos os níveis, e a questão é a forma como isso é colocado na imprensa internacional.?

Balança comercial

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) apontam que, no ano passado, o Brasil vendeu aproximadamente US$ 22,4 bilhões aos Estados Unidos. Na pauta de exportações incluíam produtos como ferro fundido bruto, aeronaves, terminais portáteis de telefonia celular, óleos brutos de petróleo e outros. Por outro lado, importou cerca de US$ 12,6 bilhões, resultando em superávit comercial – exportações menos importações – de US$ 9,8 bilhões. Em 2002, o superávit com os Estados Unidos era de US$ 5 bilhões. Para este ano, a previsão é que as exportações brasileiras para o país norte-americano feche em cerca de US$ 25 bilhões.

Burocracia prejudica os negócios

O empresário Yadutan Naftali, sócio-proprietário da empresa de chá orgânico Tribal Brasil, instalada em Campo Largo, conhece bem a burocracia brasileira. Após iniciar as exportações para os Estados Unidos, há cerca de seis anos, e partir para outros mercados como o Canadá, Alemanha, França, Espanha, Inglaterra, China e Austrália, Naftali verificou que também havia demanda no mercado brasileiro. Resolveu apostar. Não sabia, porém, que encontraria uma série de dificuldades para vender em seu próprio país.

?Aqui no Brasil foi tudo bem difícil. Levou quase um ano para a empresa se adequar às normas. Havia protocolos, registros no Ministério da Saúde, as embalagens seguiam para a Anvisa, voltavam. Isso sem contar a greve nos órgãos públicos, que atrasavam tudo?, contou o empresário, que passou a vender para o mercado interno há cerca de dois meses. Nos Estados Unidos, todos os procedimentos burocráticos levaram cerca de dois meses, comparou ele. ?Nos Estados Unidos é muito fácil trabalhar, basta entender a cultura do país. Eles querem prazo, garantia, produto de qualidade, fazem um trabalho sério. Já o brasileiro é muito acostumado com o ?jeitinho?, com atrasos?, criticou. A Tribal Brasil produz cerca de 110 toneladas de chá orgânico à base de erva-mate por ano – a maior parte (80 toneladas) segue para o mercado norte-americano.

Sem agregar valor, Estado fica na contramão do mercado

Enquanto as estimativas apontam para o aumento de US$ 3 bilhões no volume de exportações do Brasil para os Estados Unidos este ano na comparação com 2005 – passando de US$ 22,4 bilhões para US$ 25 bilhões – no Paraná, o volume deve cair em US$ 100 milhões. No ano passado, o Paraná exportou US$ 1,345 bilhão para aquele país, segundo dados da Secretaria do Comércio Exterior (Secex).

Para o coordenador do Centro Internacional de Negócios no Paraná, Vinícius Gasparetto, a queda se deve à pauta de exportações paranaense, baseada sobretudo em produtos agroindustriais. ?São produtos cotados em commodities. Quem tem o produto mais barato, vende?, disse, referindo-se ao câmbio elevado, que tem tirado a competitividade do Paraná lá fora. ?Se fossem produtos mais elaborados, as exportações certamente se manteriam.?

No entanto, apesar do câmbio desfavorável, é grande o número de empresas do Paraná que querem vender para o mercado externo. ?A exportação é a garantia de especialização do produto no mercado internacional. Há empresas que têm se preocupado em estar globalizadas, que querem desenvolver a cultura exportadora dentro da empresa?, apontou Gasparetto. Na Fiep, há cerca de 1,5 mil empresas exportadoras e mais de mil importadoras – só para os Estados Unidos, são 517 empresas vendendo, a maioria delas de pequeno e médio porte. ?Nosso objetivo é orientar o empresário sobre mercados novos?, comentou.

Entre os novos nichos que têm atraído o mercado norte-americano, Gasparetto cita o ramo de orgânicos, o setor da construção civil – especialmente na reconstrução pós-Katrina – e o segmento sucroalcooleiro. ?O Brasil pode exportar quase R$ 1 bilhão em orgânicos. É uma das grandes oportunidades de negócios?, comentou. Ele lembrou ainda que os Estados Unidos produzem o álcool de milho, que não possui a mesma eficiência do derivado de cana-de-açúcar.

Na comparação com outros estados brasileiros, o Paraná ocupou no ano passado a sexta posição entre os que mais exportaram para os Estados Unidos, com participação de 5,99% do volume total. Ficou atrás de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Já nas exportações gerais (incluindo todos os países), mantém a quarta posição (com participação de 8,47% do volume total), atrás de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Em 2005, o volume exportado pelo Paraná ao resto do mundo foi de US$ 10,022 bilhões e o importado, US$ 4,524 bilhões. O principal cliente do Paraná é o mercado norte-americano (13,43% do volume total), seguido pela Alemanha (10,94%), Argentina (7,29%) e China (6,07%).

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