CNI prevê aumento do ingresso de importados em 2011

O gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, avalia que o ingresso volumoso de produtos industrializados importados deve crescer em 2011, em função da grande oferta de manufaturados no mundo e da expectativa de que a taxa de câmbio permaneça valorizada. “Muito provavelmente, a tendência é de que deve avançar o ingresso de importados”, disse Castelo Branco, em entrevista à imprensa em São Paulo, na qual foi apresentada a pesquisa “Investimentos na Indústria”, realizada no País pela entidade com 454 empresas de todos os setores fabris.

A avaliação de Castelo Branco é reforçada pelo resultado da pesquisa. Dos empresários que informaram que vão comprar máquinas em 2011, 67,6% afirmaram que vão adquirir ao menos um equipamento no exterior. Desse universo de companhias, 40,6% acreditam que vão elevar suas compras internacionais em relação a 2010. Segundo o economista, o levantamento não detalha qual vai ser a proporção de máquinas que os empresários pretendem comprar no Brasil e no exterior.

Para Castelo Branco, “é preocupante” o ingresso vigoroso de produtos acabados e de máquinas e equipamentos no País, pois isso prejudicaria as empresas nacionais e colaboraria no processo, mesmo que incipiente, de desindustrialização nacional. “O câmbio, embora seja um fator muito importante, não é o único elemento que está trazendo efeitos negativos à competitividade da indústria”, destacou. “Entre outros elementos, há questões tributárias e gargalos de logística.” Ele afirmou que a queda de 0,2% da produção brasileira de máquinas e equipamentos em outubro na comparação com setembro, como apontou o resultado da produção industrial divulgado hoje pelo IBGE, ressalta que um número expressivo destes equipamentos está sendo adquirido no exterior. “Infelizmente, parte do consumo interno de mercadorias já prontas para o consumo e de máquinas está sendo drenada para o exterior, através dos importados”, disse.

Segundo o economista, os exportadores brasileiros enfrentam dificuldades em função da longa demora da devolução de créditos tributários aos exportadores por parte dos poderes executivos. Na esfera federal, ele ressalta a cobrança de PIS e Cofins, e no caso dos Estados, a cobrança do ICMS. “O ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel estimou que o montante de créditos tributários relativo a estes três (impostos) chega a R$ 32 bilhões”, comentou. “É um volume de recursos expressivos. Esse é um direito do empresário, que, por não recebê-lo, provoca impactos no seu orçamento e na gestão de seus negócios”, acrescentou.

Castelo Branco ressaltou que o exportador quando enfrenta dificuldades para manter a competitividade, sobretudo em seus custos, perde os incentivos para produzir não só para outros países, mas também para o Brasil. Em função da boa qualidade do seu produto, esta categoria de empresas não atende exclusivamente clientes no exterior, mas também vende suas mercadorias no território nacional. Nesse contexto, se fatores como câmbio e tributos tiram os incentivos para este grupo de empresários, cai também a oferta de mercadorias disponíveis no mercado interno, o que diminui as chances do País de atender o avanço da demanda agregada doméstica com mercadorias nacionais. Com isso, sobem as importações e aumenta o déficit de contas externas do País.

Para o economista, contudo, há uma “expectativa muito forte” dos industriais de que a administração da presidente eleita, Dilma Rousseff, fará uma gestão de política econômica que será “positiva” para a continuidade do desenvolvimento do País. Segundo ele, há uma avaliação de que o novo governo vá dedicar atenção especial à gestão das contas públicas, a fim de diminuir as pressões de demanda e dar mais espaço para que o Banco Central inicie uma trajetória gradual de redução dos juros. E o movimento de queda da Selic, ressaltou, será importante tanto para aumentos dos investimentos como para diminuir a valorização do real ante o dólar.

A pesquisa “Investimentos na Indústria” retrata uma avaliação otimista dos empresários quanto à evolução da economia brasileira em 2010 e traça expectativas bem favoráveis para a ampliação da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em 2011. Dos entrevistados, 89,6% afirmaram ter investido neste ano, sendo que deste total 61,4% disseram ter aplicado o que planejaram. Para o ano que vem, 92% das companhias destacaram que vão ampliar a FBCF, sendo que 77,8% daquele universo de companhias destacaram que vão investir principalmente ou exclusivamente para atender ao mercado interno. “As expectativas com o País são favoráveis, mas há desafios sérios que precisam ser enfrentados pelo governo, incluindo o nível de escolaridade dos cidadãos, para o avanço da competitividade da indústria nos próximos anos”, destacou o gerente-executivo da unidade de pesquisas da CNI, Renato da Fonseca.

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