Classe C faz dívidas além do que pode

A classe C ampliou o endividamento e impulsionou o consumo em 2005. Os brasileiros, em média, levaram para casa no ano passado um volume 6% maior de alimentos, bebidas, artigos de higiene pessoal e limpeza doméstica e gastaram 9% a mais na compra desses itens em relação a 2004.

Enquanto isso, as famílias de classe C, com renda média mensal de R$ 1.255, aumentaram em 7% os volumes desses itens em relação o ano anterior e desembolsaram 10% a mais por isso. Tanto em volume como no gasto, o consumo da classe C superou o da média nacional no ano passado às custas de um maior endividamento, revela a pesquisa da Latin Panel.

Em 2005, as famílias de classe C gastaram mensalmente 8% a mais do que receberam, acima da média nacional que foi de 3% para o mesmo período. De acordo com a pesquisa, que audita o consumo de 71 categorias de produtos semanalmente em 8,2 mil domicílios, hoje 85% dos brasileiros compram a prazo e 60% têm alguma dívida. Na classe C, o endividamento chega a 20%.

"Não é positivo o aumento do endividamento", observa a diretora Comercial da Latin Panel, Margareth Ikeda Utimura. Ela pondera que o aumento do consumo em 2005 acima do esperado não resultou apenas do maior endividamento, mas também do esforço por parte das empresas. Os bancos e as lojas, por exemplo, ampliaram o crédito, inclusive o consignado. As indústrias reduziram o tamanho das embalagens na tentativa adequar o produto ao bolso do consumidor.

O elevado nível de endividamento indica que o consumidor está com o orçamento apertado. Tanto nas classes C como na D/E , que juntas representam 74% do consumo dos bens não duráveis em valor, o gasto médio mensal supera a renda. Na classe C, para uma renda média mensal de R$ 1.255, o consumo mensal está em R$ 1.369, uma diferença R$ 114. Nas classes D/E, a renda média mensal é de R$ 910 para um consumo mensal de R$ 926, o representa um diferencial de R$ 16. Apenas nas classes A/B, renda cobre o consumo, mesmo assim de forma muito apertada. Para uma renda média familiar de R$ 2.278, o consumo mensal é de R$ 2 256.

Aspiração – Além do endividamento, houve ganho real médio de renda de 4% de 2004 para 2005 para os brasileiros, segundo os cálculos da consultoria. Esses fatores criaram as condições para que a classe C realizasse o seu sonho de consumo.

Margareth ressalta que a classe C tem aspiração de compras de camadas mais abastadas, por isso o seu comportamento de consumo é mais próximo das camadas A/B, embora a sua renda esteja mais perto das camadas D/E. A pesquisa mostra, por exemplo, que a classe C compra 42 categorias pesquisadas, enquanto a classe A/B, 45. A classe C também está gastando mais com itens menos básicos. Em 2004, essa classe destinava 33% dos gastos com não duráveis para itens que não eram essenciais. Em 2005, esse índice subiu para 35%.

"A classe C é a classe dos ‘às vezes’", brinca a responsável pela pesquisa. Isso significa que ela não consegue manter o padrão de compras de um determinado item mais sofisticado em razão do orçamento apertado. Entre os campeões de compras dessa camada de renda estão o desodorante, o creme pós-xampu, suco em pó, catchup e salgadinhos, com taxas de crescimento na faixa de 20% de um ano para outro.

Outro dado surpreendente da pesquisa é o fato de 82% dos consumidores da classe C experimentarem novas marcas e 49% optarem por uma determinada marca antes de sair de casa.

Margareth lembra também que, por região, a Grande São Paulo foi a praça que registrou maior crescimento dos volumes, de 8% ante 6% da média nacional, e dos gastos, de 10% ante 9% da média nacional para 71 itens.

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