Caminhões demoram para voltar a descarregar soja

Apesar do acordo fechado na madrugada de ontem entre operadores portuários e caminhoneiros, o descarregamento de soja pelos caminhões ainda não se normalizou em Paranaguá. Em reunião intermediada pela Delegacia Regional do Trabalho do Paraná (DRT/PR), a Câmara Setorial de Terminais Portuários da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Paranaguá e os sindicatos dos caminhoneiros assinaram um termo de acordo que garantiu o pagamento de diárias de R$ 0,40 por tonelada/hora para quem chegou na fila antes do dia 22 de março. Porém a demora no cumprimento do acordo impediu o funcionamento do pátio de triagem do porto (com 1,2 mil caminhões) até as 18h. A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) estima que a fila na rodovia -que chegava ao Contorno Leste, em Curitiba – termine em três dias.

Segundo cálculos dos embarcadores, o pagamento das estadias totaliza cerca de R$ 23 milhões. Cada caminhoneiro parado receberá entre R$ 300 e R$ 350 por dia de paralisação. “Não é o ideal, mas alivia bastante o nosso prejuízo”, avalia o coordenador do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), Neuri Leubert. Ficou acertado o pagamento linear de R$ 0,40 por tonelada/hora, condicionado ao envio do numerário aos postos de combustíveis credenciados pelas transportadoras.

A remuneração será contada depois de 28 horas de passagem pelos pedágios da Lapa e São Luiz do Purunã e 26 horas após o pedágio de São José dos Pinhais, até a descarga. A comprovação será feita com base nos tickets dos pedágios.

Entretanto, a sobrestadia não será paga aos caminhões carregados a partir do dia 22 de março, “tendo em vista que era de conhecimento público a paralisação do Pátio de Triagem do Porto de Paranaguá”. “Quem carregou depois desse horário já sabia do movimento, e por isso terá que negociar com o embarcador”, disse o presidente da União Nacional dos Caminhoneiros, José Araújo Silva.

Para o coordenador do Movimento União Brasil Caminhoneiro, Neuri Leubert, “a presença do Ministério do Trabalho foi fundamental, porque a outra parte joga pesado e o diálogo é difícil”. Nos próximos dias, o líder do MUBC encaminhará um convite ao delegado regional do Trabalho, Geraldo Serathiuk, para participar do grupo de trabalho instituído pelo Ministério dos Transportes para valorizar o transporte de cargas e os motoristas.

O pátio de triagem foi reaberto pouco antes do meio-dia, com a chamada de 158 caminhões. Só que os motoristas não concordaram em descarregar enquanto todos os caminhoneiros não tivessem confirmação do recebimento da sobrestadia. Os auditores da DRT foram ao pátio de triagem no período da tarde e entraram em contato com todos os terminais para agilizar a liberação das diárias. Por volta das 16h, 90% das transportadoras já haviam autorizado o depósito das diárias, informou o auditor fiscal Fábio Lantmann, da DRT em Paranaguá. “O caminhoneiro deseja que o dinheiro esteja disponível assim que ele chegar no terminal para descarregar, mas o depósito nos bancos demanda um certo período de tempo”, explicou. “Não é briga nem protesto, é apenas uma questão operacional.”

Somente às 18h, os primeiros sessenta caminhões deixaram o pátio de triagem rumo aos armazéns. O primeiro caminhão da fila entrou no estacionamento do porto às 18h30. Naquele momento, o congestionamento estava no km 106 da BR-116, próximo ao bairro Pinheirinho, em Curitiba.

Enquanto os caminhões continuavam parados, os armazéns eram abastecidos pelos trens. Dos 1.500 vagões da América Latina Logística (ALL) à espera de espaço nos armazéns, 300 descarregaram na quarta e 350 ontem, totalizando 32.500 toneladas de mercadorias – sendo 13 mil de soja. A ALL prevê uma semana para normalizar a descarga de produtos armazenados nos vagões.

Movimento no porto

A atracação do navio grego Galene, às 16h, marcou o primeiro carregamento de soja pelo Porto de Paranaguá desde o dia 19. O navio, que vai levar 62,9 mil toneladas para a Índia, recebeu cargas dos silos da Appa, Cargil, CBL e Centro Sul. Dois dos seis ship loaders existentes foram usados para acelerar o embarque. Cada um tem capacidade para embarcar 1.500 toneladas/hora. Quinze navios estavam atracados no Porto de Paranaguá, movimentando cerca de 370 mil toneladas – a maior parte era milho e soja. Desde o reinício das atividades no porto, quatro navios foram despachados, com contêineres, óleo de soja, milho e farelo de soja. Ao largo, 47 embarcações esperam para atracar no Porto, sendo 19 para embarque de 938 mil toneladas de soja. Nas próximas 48 horas, está prevista a chegada de mais 17 navios, a maioria para descarga de contêineres e fertilizantes.

Desbloqueio começou pela manhã

A BR-277, sentido Curitiba-Paranaguá, começou a ser liberada no final da manhã de ontem pelos caminhoneiros que reivindicavam o pagamento de estadia pelos dias parados no acostamento da estrada. Os manifestantes resolveram desbloquear a pista depois de serem informados sobre a assembléia realizada na madrugada de ontem, entre representantes da categoria e dos terminais responsáveis pelo embarque da soja, no pátio de triagem do porto.

Na reunião, foi decidido que todos motoristas que estão na fila vão receber R$ 0,40 por hora/tonelada até o momento da descarga. Segundo Diumar Bueno, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros do Paraná, os valores já estão sendo depositados pelos terminais portuários como garantia de recebimento. “Foram desconsiderados os contratos firmados anteriormente, que iriam pagar R$ 0,15 por hora/tonelada. Queremos que os R$ 0,40 sejam estabelecidos a partir de agora pelo governo”, comenta. Bueno afirma que 98% dos caminhoneiros concordaram com o novo valor. A assembléia contou com a presença de auditores do Ministério do Trabalho e 1,6 mil caminhoneiros.

O desbloqueio da rodovia não aconteceu imediatamente após o encontro porque houve dificuldade na comunicação do resultado aos caminhoneiros. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que o trânsito permaneceu lento e com congestionamentos durante a manhã, pois os caminhões manobravam, retornando aos poucos para o acostamento. O ponto mais crítico era a região do Contorno Leste. A PRF estimava que o fluxo se normalizaria à tarde. (Joyce Carvalho)

Claspar intensifica a fiscalização

Além de impedir a entrada de soja transgênica no Porto de Paranaguá, a Claspar, empresa vinculada à Secretaria da Agricultura, e responsável pela classificação de produtos no Paraná, está fiscalizando todos os caminhões que chegam ao pátio de triagem para evitar que cargas com outras impurezas sejam embarcadas.

Os carregamentos são fiscalizados e classificados um a um, segundo o diretor administrativo da Claspar, Nilo Lucietto. “Geralmente são feitas de 8 a 10 perfurações em pontos diferentes da carga para coletar o material. Depois, essa amostra é homogeneizada e classificada”.

Os grãos coletados não podem passar de 1% de impureza e 13% de umidade. Já para o produto avariado, a tolerância é de 8% com no máximo de 5% para ardidos (grãos com tendência a mofar). Caso a carga ultrapasse esses valores, é devolvida para armazéns de retaguarda no porto, onde passam por um rigoroso processo de limpeza.

Antaq manda liberar

A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) determinou que a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) “se abstenha de tomar qualquer medida restritiva” em relação ao embarque de soja transgênica no Porto de Paranaguá. A agência federal oficiou no dia 10 de março o superintendente da Appa, Eduardo Requião, reiterando os termos da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que garante a livre circulação dos transgênicos no Paraná.

Segundo o deputado federal Eduardo Sciarra (PFL-PR), que recebeu ontem cópia da resposta da Antaq à solicitação do PFL, o diretor-geral da agência, Carlos Alberto Nóbrega, informou que um relatório da fiscalização realizada em fevereiro foi encaminhado ao Ministério dos Transportes, “para conhecimento e eventual adoção de medidas cabíveis”.

No relatório, de acordo com Nóbrega, foram “constadadas, preliminarmente, algumas irregularidades”. Os problemas, lamentou Sciarra, são a falta de dragagem dos berços e do canal de acesso ao Porto de Paranaguá. A Antaq solicitou esclarecimentos da diretoria da Appa, mas ainda não obteve resposta.

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