Brasil segue com uma das taxas mais altas do mundo

O Brasil entra com bala na agulha no forte ciclo de desaceleração global que se inicia. Com a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, decidida na quarta-feira (29) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), o País segue com uma das mais altas taxas básicas do mundo e um juro real (descontada a inflação) igualmente nas alturas. Assim, há amplo espaço para estimular a economia com a política monetária, isto é, reduzindo os juros.

O limite para qualquer estratégia de estímulo à demanda é a alta do dólar, que pode provocar pressões inflacionárias mesmo com a economia em desaceleração. De outro lado, o anúncio de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) estendeu ao Brasil um programa de troca (swap) de reais por dólares de US$ 30 bilhões aumenta o fôlego do BC para intervenções e ajuda na tentativa de estabilizar o câmbio. Mais bala na agulha, portanto.

Supondo-se a manutenção do atual nível da Selic por 12 meses, o juro real da taxa básica, descontada a inflação projetada para esse período, é de 8%. Quando se toma o piso das taxas praticadas no mercado para os próximos 12 meses, o juro real sobe para 9,4%. O espaço para redução de juros, portanto, é enorme, comparado com os países ricos, em vários dos quais (como os Estados Unidos) a taxa real já está negativa. Soma-se a esse trunfo o nível elevado de depósitos compulsórios no sistema financeiro, mesmo depois das reduções dos recolhimentos obrigatórios decididas pelo BC. Embora sejam mais tipicamente um instrumento para prover liquidez, eles têm impacto no crédito e, portanto, na demanda.

Joel Bogdanski, economista do Itaú, diz que “o Banco Central tem muitos instrumentos na mão, muita margem de manobra”. Ele cita os juros altos e os depósitos compulsórios, mas acrescenta que a crise global pegou o País num momento bem diferente do ciclo econômico, quando comparado com EUA, Europa e Japão. Essas economias já vinham dando sinais de desaceleração mesmo antes da fase mais violenta da turbulência, após a concordata do banco americano Lehman Brothers, em setembro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.