BC perde R$ 165 milhões com resgate de títulos

O Banco Central perdeu, em apenas dois dias, R$ 165 milhões com o resgate dos títulos cambiais emitidos em 1998, que venceram hoje. Com a alta do dólar, forçada, em parte, pelos próprios detentores dos papéis, os títulos foram resgatados a R$ 2,515 bilhões, de acordo com cálculos de especialistas do mercado. Sexta-feira, antes da especulação cambial desta semana, os papéis valiam R$ 2,350 bilhões.

Os títulos, chamados de NBC-F, foram emitidos em setembro de 1998, a R$ 584 milhões. Tiveram um extraordinário rendimento de 330% até hoje, puxado, principalmente, pela desvalorização do real do início de 1999 e pela turbulência cambial de 2002. ?Foi uma dívida bem cara para o governo?, disse o economista Alexandre Barros da Cunha, professor do Ibmec Business School.

Os papéis foram resgatados hoje devido ao alto preço pedido pelos investidores para rolar a dívida, segundo informações do mercado. Nos últimos dias antes do vencimento, os detentores dos papéis teriam forçado uma alta na cotação média da moeda norte-americana, chamada Ptax, para aumentar o valor de resgate dos títulos.  

Só hoje, a moeda norte-americana subiu 5,88%, ?Para eles, quanto mais alto o dólar, melhor?, disse o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC. ?Os investidores tiraram a sorte grande?, diz Cunha, com a ressalva de que nem todos os detentores dos papéis no dia do resgate acumularam todo o rendimento. ?Tem gente que pode ter comprado os papéis ontem, por exemplo?, disse.

Mas, para se ter uma idéia do impacto do dólar no vencimento dos papéis, quem comprou estes títulos no primeiro dia de setembro, por exemplo, teve um rendimento de 19,59% em 25 dias. Os ganhos com os títulos incluem os juros, em menor proporção – parte deles também sob influência do dólar.

O BC não divulga os nomes das instituições que detinham os papéis e tampouco é possível saber se quem especulou com dólar nos últimos dias realmente ganhou no resgate dos títulos, avalia Cunha. ?Temos que saber quem estava com os papéis, o tamanho destas instituições e seu peso no mercado para saber se houve influência?, afirmou o economista.

Mas hoje, todas as análises sobre a alta exagerada da moeda norte-americana citavam o vencimento dos títulos e o interesse em inflar o câmbio como uma das causas, aliada aos rumores de pesquisa eleitoral. ?Não acredito que o BC tenha errado em não rolar essa dívida. Foi uma opção por não pagar juros altos?, opinou o professor do Ibmec. Para Freitas, porém, o banco fez a opção errada, dado o ambiente de escassez da moeda americana.

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