BC compra, mas não consegue sustentar o dólar

O dólar comercial não parou de cair ontem e rompeu a barreira histórica dos R$ 2,70, mesmo com o novo leilão de compra de dólares feito pelo Banco Central. No encerramento dos negócios, o dólar desabou 1,25% e fechou cotado a R$ 2,677 para venda, em seu menor valor desde o dia 17 de junho de 2002, quando atingiu R$ 2,66. O índice de risco-país do Brasil acentuou o ritmo de queda no final da tarde e bateu os 388 pontos, em queda de 2,02%. No acumulado deste ano, esse indicador já cedeu 16,2%. Trata-se do menor nível para o índice desde 23 de outubro de 1997, quando atingiu os 374 pontos.

Operadores entenderam que o Banco Central "lavou as mãos" para a taxa cambial neste ano e pode inclusive deixá-la desabar ainda mais. Eles afirmam que o BC realmente cumpre à risca sua determinação de apenas adquirir moeda para as reservas, sem influenciar a formação da taxa, apesar das especulações em contrário no início dos leilões neste mês.

O Banco Central anunciou um novo leilão às 15h29 e só aceitou os preços correntes de mercado – só aceitou pagar até R$ 2,685.

"Se o BC quisesse realmente agir sobre a taxa poderia aceitar taxas de corte mais altas, mas não é isso o que tem acontecido", afirma Paulo Shiguemi, da corretora Socopa.

A taxa cambial já nas primeiras cotações apontou forte queda de 0,44% sobre o fechamento anterior, acentuando o ritmo de baixa no correr da manhã. Por volta das 11h49, quando quebrou o piso de R$ 2,70 pela primeira vez neste ano, começaram a circular as especulações sobre a ação iminente do Banco Central, que somente aumentaram quando a taxa rompeu os R$ 2,69, por volta das 13h.

Operadores comentam que o BC não tem adquirido lotes significativos no mercado (entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões por leilão), o que contribui para o baixo impacto no mercado cambial.

"O volume de negócios está baixo e o fluxo cambial está positivo", afirma Shiguemi, que aponta os exportadores como presença constante no mercado.

Macroeconomia

Os últimos números da economia brasileira reforçam a tendência de desvalorização do dólar. O saldo do câmbio contratado (fluxo de entrada e saída de moeda) em dezembro até o dia 15 ficou positivo em US$ 1,228 bilhão.

O superávit da balança comercial na terceira semana do mês bateu os US$ 643 milhões, ante expectativas de US$ 500 milhões, enquanto o volume de investimentos estrangeiros diretos atingiu US$ 1,319 bilhão contra projeções de US$ 1,1 bilhão em novembro.

No entanto, o saldo de transações correntes, que é a medida das principais transações do País com o exterior mais a contratação de serviços e transferência de renda, teve déficit de US$ 242 milhões, enquanto estimava-se um superávit de US$ 100 milhões.

Cenário internacional

O dólar emenda uma nova sequência de perdas também no cenário internacional. Contra o euro, a cotação subiu de US$ 1,3283 na sexta-feira para US$ 1,3383 hoje, apesar da promessa do presidente americano em combater os déficits dos EUA, o principal fator estrutural de desvalorização da moeda americana.

A taxa de risco-país brasileira (o Embi Brasil) recuava 1,76% no final da tarde desta segunda-feira, aos 389 pontos, pouco acima do piso histórico de 374 pontos, em outubro de 1997. O título da dívida soberana C-Bond subiu 0,30% enquanto o Global-40 avançava 0,93%.

A melhora dos indicadores de risco representa um aumento do nível de confiança na economia brasileira pelos investidores internacionais e representa um custo financeiro menor para empresas brasileiras captarem recursos no exterior.

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