Agropecuária do Estado ignora crise e cresce

O Paraná não é mais o maior produtor brasileiro de soja, perdeu a liderança na produção de algodão, acumula prejuízo de R$ 9,7 bilhões por conta das safras frustradas de 2004 a 2006 -segundo estimativa da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) -, mas segue firme no agronegócio. Com produção de quase 24 milhões de toneladas de grãos em 2006 – volume 42% maior do que em 1997 -, o Paraná viu o valor bruto da produção agropecuária saltar 195% nos últimos dez anos em termos nominais e 25,5% em termos reais, passando de R$ 8,7 bilhões para R$ 25,7 bilhões e segue liderando a produção de milho, trigo e feijão.  

O aumento da produtividade foi a principal característica do cenário agrícola do Paraná. Nos últimos dez anos, a produção de feijão cresceu 50%, apesar da redução de 6% da área cultivada. Mesmo caso do trigo, que teve sua área reduzida em 6%, mas ainda assim a produção cresceu 38%. ?Aumentou muito a tecnologia no campo nos últimos anos. No caso do milho, a área cultivada aumentou apenas 17% entre 97 e 2006, enquanto a produção, 88%?, comparou Flávio Turra, assessor técnico-econômico da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná). Para Turra, o aumento da produtividade se deve a novas variedades de sementes e insumos. Gilda Bozza, economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), complementa: ?O plantio direto ajudou muito, além do uso racional do solo, economia de escala. Os agricultores também estão usando produtos mais adequados, com melhor rendimento?, destacou.

Contratempos

O bom desempenho da agropecuária paranaense ocorreu apesar dos conflitos entre entidades do setor e o governo do Estado. Assuntos polêmicos como transgênicos, Porto de Paranaguá e pedágio acirraram – e seguem acirrando – discussões.

?O governo do Estado cometeu um erro grave, tratando o transgênico como se fosse um produto demoníaco?, criticou o assessor especial da Faep, Carlos Augusto Albuquerque. Para ele, o grande desafio do setor, não só em nível estadual, mas nacional, é avançar neste tema. ?Estamos muito atrasados em relação ao resto do mundo. Enquanto outros já estão na terceira geração sobre transgênicos, nós ainda não saímos da primeira. Com a modificação genética, é possível agregar vitaminas, nutrientes aos grãos?, destacou. Albuquerque criticou, ainda, o excesso de interferência do governo. ?Ele quer ensinar o agricultor a produzir e o que produzir. Também acha que é ele quem exporta, quando são as empresas. Essa interferência é extremamente negativa.?

Para João Paulo Koslovski, presidente do Sistema Ocepar, a grande preocupação é com relação à infra-estrutura precária. ?Estamos perdendo competitividade da porteira para fora, por conta do estado das ferrovias, rodovias, portos, carga tributária. Se não houver um investimento maciço, não há como o País aumentar a produção agrícola?, destacou o dirigente. Segundo ele, cooperativas do Paraná estão investindo cerca de R$ 230 milhões em infra-estrutura de armazenagem porque há déficit no Estado. Até 2010, a idéia da Ocepar é investir R$ 3,5 bilhões em infra-estrutura e, principalmente, na agroindustrialização.

Sobre o pedágio, Koslovski afirmou que não é contra a cobrança, mas os valores. ?Pelo estado das rodovias, com pista simples, o valor é muito alto. Além disso, em alguns casos, o peso do pedágio chega a 4% dos custos. Isso tira a competitividade do setor produtivo?, comentou. Apesar dos contratempos, tanto Albuquerque como Koslovski avaliam como positivo o desempenho do agronegócio paranaense nos últimos dez anos. ?Aumentou a produção, a produtividade?, afirmou Koslovski. ?O produtor do Paraná é capaz de absorver uma tecnologia nova com rapidez incrível?, acrescentou Albuquerque. (No próximo domingo, o comércio do Paraná nos últimos dez anos)

Pecuária de corte ainda busca recuperação

Com um rebanho aproximado de 9,49 milhões de cabeças, a pecuária de corte do Paraná tenta se recuperar do ?baque?causado pela febre aftosa. Quase dois anos depois do surgimento da suspeita de focos da doença, o Estado ainda luta para reconquistar o status de livre de aftosa com vacinação, mérito conquistado em 2000.

?As portas se fecharam e isso complicou tudo. E para quem o Paraná exporta, os valores pagos são muito baixos?, apontou o médico veterinário Fabrício Amorim Monteiro, da Faep. Segundo ele, o Paraná exportou entre janeiro e julho deste ano cerca de US$ 551 milhões do complexo carne – aves, suínos e bovinos – contra US$ 411 milhões no mesmo período do ano passado. Do montante, apenas US$ 8,75 milhões vieram do segmento bovino este ano.

Para os criadores de pecuária de corte, a boa notícia é que o preço da arroba aumentou, passando de R$ 23,00, em média, em 97, para R$ 57,00 no primeiro semestre deste ano. Segundo Fabrício Monteiro, a produtividade também cresceu: era 28% em 97 e passou para 35% este ano. ?Isso significa que nossa genética está melhor, o manejo também. O setor se profissionalizou.?

A produção leiteira do Paraná também cresceu ao longo dos dez últimos anos, passando de 1,6 bilhão de litros, em 97, para 2,6 bilhões conforme estimativa para este ano – o crescimento de 65% é bem maior do que o nacional. No mesmo período, a produção nacional cresceu 36%, passando de 18,7 bilhões de litros para 25,4 bilhões.

Cooperativas

Elas aumentaram em quantidade, em número de associados, funcionários e, principalmente, em faturamento nos últimos dez anos. São as cooperativas agropecuárias, que somam 77 em todo o Paraná – eram 60 em 1997 -, contam com cerca de 119,5 mil associados – contra 108,3 mil dez anos atrás – e 45,5 mil funcionários – 68% mais do que em 1997. Mas é no faturamento que elas mais se destacam: no ano passado, segundo dados do Sistema Ocepar, faturaram juntas cerca de R$ 14 bilhões: 193% mais do que em 97.

?Houve aumento no recebimento da produção e agregação de valor via industrialização?, explicou Flávio Turra, assessor técnico-econômico do Sistema Ocepar. ?Hoje, 35% das agroindústrias do Paraná são cooperativas?, acrescentou. (LS)

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