E a área política?

Depois do objetivo de reconquista da credibilidade ética, o que mais precisa o governo Lula é um comandante político. A missão fora delegada ao agora ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu. Como a primeira vítima do mensalão, ou seu mentor, como o acusam seus detratores, o homem forte do governo de Lula foi um grande fracasso na missão de gerenciar a administração federal. Mais político que técnico e administrador e ainda comprometendo-se, por ação ou mais provavelmente omissão, no escândalo Waldomiro Diniz, criou inimigos, concorrentes e, em razão do papel que a si se reservou o presidente, o governo ficou quase inativo. Não houve coordenação administrativa nenhuma, gerenciamento nenhum e ainda a coordenação política se desmantelou.

Com a saída de José Dirceu da Casa Civil e sua volta para a Câmara como deputado federal, o presidente Lula acaba de empossar Dilma Rousseff, que ocupou desde o início do governo do PT o Ministério de Minas e Energia, para o importante posto de xerife do Palácio do Planalto. Dilma é mineira, mas fez carreira na política do Rio Grande do Sul. Foi secretária do derrotado governo Olívio Dutra e, na mocidade, militante de esquerda perseguida e punida pelos militares do golpe de 1964. Foi presa e torturada. Tem perfil ideológico bastante claro, fama de honesta e competente e, ao contrário de José Dirceu, é de formação técnica e reconhecida como boa administradora. Teria sido boa sua administração no Ministério de Minas e Energia, segundo observadores e o próprio presidente Lula. Procurou baixar as tarifas de luz e equacionar o problema de fornecimento de energia, para evitar crises maiores, um apagão, como o sofrido no governo FHC.

Assim, até prova em contrário, temos agora uma chefe da Casa Civil que é gerente das ações administrativas do governo, coordenando as ações dos demais ministérios. Uma administradora de formação técnica e, politicamente, com passado ideológico acorde com a história do PT. Mulher que na vida pública não deu até agora motivos para que se suspeite de sua honestidade.

A escolha deve agradar o que resta do grupo ortodoxo esquerdista do PT. Para os que reclamam que o governo não governa, afinal encontraram alguém para gerenciar os programas que, até aqui, ou ficaram nas idéias, no papel ou foram desencadeados apenas parcialmente, não raro com erros comprometedores, a começar pelo fracassado Fome Zero.

Se Dilma vai gerenciar o governo e José Dirceu não tem mais credibilidade para coordenar as bases parlamentares de Lula, quem é que vai liderar politicamente a administração federal? Quem vai ser o comandante político do Executivo? Quem vai exercer as funções de chefe de Estado? Deveria ser o próprio Lula, mas pelo que tem demonstrado até aqui não tem nem vocação nem vontade de, como presidente, presidir, a menos que esteja cercado de quem em seu nome ponha a mão na massa. Prefere lançar-se como líder internacional do terceiro mundo, flanando pelas nuvens em seu jato último tipo, buscando formar blocos de países para enfrentar as nações ricas e participar do Conselho de Segurança da ONU, cuja ampliação reivindica. A nomeação de Dilma é, portanto, uma medida acertada, mas que não resolve o problema essencial do governo, que é decidir quem vai governar.

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