Doleiro repete ao Ministério Público denúncias feitas na CPI

O doleiro Antônio Oliveira Claramunt o Toninho da Barcelona, confirmou hoje (19) em depoimento de aproximadamente quatro horas ao Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba, as denúncias feitas terça-feira a integrantes da CPI dos Correios em conversa informal em São Paulo. Como naquela ocasião, não apresentou qualquer prova sobre as insinuações de que políticos teriam se utilizado de doleiros para o envio de dinheiro ao exterior.

"É difícil acreditar na palavra de uma pessoa que está presa e condenada. É preciso ouvir tudo com bastante cautela", ponderou o procurador Vladimir Aras, um dos integrantes da força-tarefa do MPF que investiga a evasão de divisas. "Se ele tiver documentos que comprovem o que ele diz, vai ser considerado pelo Ministério Público e será levado ao Judiciário. Só com palavra, não." Ele foi trazido a Curitiba para falar principalmente sobre as operações da offshore Trade Link Bank, instituição com sede nas Ilhas Cayman, ligada ao Banco Rural, e que tinha uma conta no antigo Banestado, em Nova York, pelo qual eram feitas remessas de dinheiro. As denúncias feitas por Toninho da Barcelona são de que essa offshore concentraria as remessas ilegais nas quais estariam envolvidos políticos.

"Para nós, o depoimento não acrescentou nada", acentuou Aras. "O que ele falou foi exatamente o que tinha dito na CPI." O procurador tinha acompanhado a sessão informal em São Paulo. "Ele falou sobre offshores e doleiros que já conhecíamos e citou vários nomes que já tinham sido divulgados anteriormente por ele próprio e pelos parlamentares que o ouviram." Reafirmando declarações de uma nota divulgada minutos antes do término do depoimento, Aras não comentou detalhes, alegando sigilo legal e judicial.

E também não quis confirmar se ele voltou a repetir os nomes do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, do deputado federal José Dirceu e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Todos já tinham negado qualquer irregularidade relativa a remessa de valores para o exterior após as afirmações de terça-feira. "Declaração a respeito de pessoas com foro privilegiado não cabe a essa força-tarefa investigar. Diz respeito ao procurador-geral da República", acentuou.

O advogado de Toninho da Barcelona, Ricardo Sayeg, negou que tivesse tentado o privilégio da delação premiada para seu cliente. "Não se faz barganha com a Justiça", destacou. Segundo ele, essa informação teria sido utilizada para desacreditar o doleiro que está preso em Avaré (SP), cumprindo pena de 25 anos por crimes contra o sistema financeiro. "Na medida em que colabora voluntária e efetivamente passa a ter direito público de ter qualquer tipo de benefício, independentemente de fazer acordo", argumentou.

Para Sayeg, o doleiro está prestando colaboração voluntária para "ajudar o Brasil a ser passado a limpo". "Ele simplesmente foi lá e reiterou os pontos que falou em São Paulo" afirmou. Diferentemente dos procuradores, que querem provas do que Toninho da Barcelona afirma, o advogado entende que seu cliente é uma testemunha e exigir provas dele "não tem o mínimo sentido". "Para ele provar o que tinha que falar, tinha que ter um distintivo e começar a apurar os fatos", justificou. "Não cabe a ele isso."

Depois do depoimento, Toninho da Barcelona foi levado à sede do Comando de Operações Policiais Especiais (Cope), da Polícia Civil do Paraná, onde deverá passar a noite.

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