Documentos dos Estados Unidos revelam mais contas secretas de publicitário

Documentos sigilosos enviados pelo governo americano às autoridades brasileiras na semana passada revelam a existência de mais seis contas secretas ligadas ao publicitário Duda Mendonça no exterior. Além disso, os investigadores norte-americanos também rastrearam outra empresa mantida pelo marqueteiro fora do País, batizada de Stuttgart Company.

A explosiva papelada remetida pelo governo americano, à qual a Agência Estado teve acesso, mostra uma complexa rede, ligada a Duda, de contas no exterior e operações com doleiros em paraísos fiscais, que vai muito além das transações com o valerioduto. "A conta da Dusseldorf no Bankboston é só a ponta do iceberg", explica um dos investigadores. As novas informações indicam que o fluxo de dinheiro de caixa 2 ligado ao publicitário pode ser muito maior.

Os dados também complicam de vez a vida de Duda, que tem depoimento marcado para quarta-feira na CPI dos Correios. Até agora, só se sabia da existência de uma empresa em nome dele (a Dusseldorf) e de quatro contas ligadas ao publicitário nos Estados Unidos – uma no nome da Dusseldorf, outra no nome dele e as últimas tendo como beneficiárias Zilmar Fernandes Silveira, sócia do publicitário, e Eduarda Martins Mendonça, filha do marqueteiro. Todas foram abertas no BankBoston da Flórida.

Segundo a documentação do governo americano, já foram rastreadas no total dez contas ligadas ao publicitário lá fora. Três das seis novas contas descobertas também foram abertas no BankBoston da Flórida: uma em nome da Stuttgart Company (nova empresa de Duda), outra em nome de Rita de Cássia Santos Moraes, ex-mulher do publicitário, e a terceira tendo como beneficiário Eduardo de Matos Freiha, sócio do marqueteiro. As outras três pertencem à Dusseldorf, sendo uma delas no BAC Florida Bank. Não há informações sobre os bancos das outras duas.

Como confessou à CPI, Duda recebeu lá fora R$ 10,5 milhões do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, dinheiro injetado por doleiros brasileiros na já conhecida conta da Dusseldorf no Bankboston de Miami. Ele jurava que essa era a única conta aberta por ele no exterior. O dinheiro se referia ao pagamento de caixa 2 da campanha presidencial vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo a papelada, a conta da Dusseldorf registrada no BAC Florida Bank tem movimentação semelhante à aberta no BankBoston. Assim como esta, a do Florida Bank recebeu uma série de depósitos eletrônicos de contas-ônibus administradas por doleiros. Ao todo, essa nova conta foi beneficiária de US$ 1.169 689,25 provenientes de doleiros, por meio de três depósitos efetuados pelas contas Diamond Comercial, Gedex International e Deal Financial Corporation. Essas três contas também eram mantidas no BAC Florida Bank.

Lavagem de dinheiro

Segundo laudo sigiloso da Polícia Federal obtido pela Agência Estado, pelo menos a Deal Financial Corporation, cuja sede fica no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, tem como dono o doleiro mineiro João Bosco Assunção Neves, que também enviou recursos para a conta da Dusseldorf no BankBoston.

Esses não são os únicos registros de operações com doleiros nas novas contas. De acordo com os documentos, a conta de Rita Moraes no BankBoston, de número 61103285, também fez intensas transações de lavagem de dinheiro. Num comunicado de agosto do ano passado endereçado às autoridades financeiras americanas, o BankBoston informou operações atípicas da ex-mulher de Duda com a conta-ônibus "Belém", operada pela doleira portuguesa Maria Carolina Nolasco no Merchants Bank de Nova York. Nolasco foi doleira de PC Farias, tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Ela foi presa nos Estados Unidos em 2004 e condenada por lavagem de dinheiro.

A mesma conta de Rita também fez transferências entre 1998 e 2002 no valor de US$ 198 mil para as contas Agata Holdings e Maximus, operadas por doleiros brasileiros no MTB Bank. As contas de Duda e de Zilmar também registram transações com os doleiros.

Segundo informações do BankBoston da Flórida ao governo americano, Eduarda Mendonça e Eduardo Freiha tentaram transferir os recursos das contas deles para o Heritage Bank. O banco informou que Freiha também é dono de uma empresa, a Pirulito Company. Por meio de seu advogado, Tales Castelo Branco, o publicitário negou a existência das outras contas da Dusseldorf e também ter qualquer relação com a Stuttgart. "Ele não tem nenhum conhecimento dessas contas", disse o advogado.

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