Dissidente sugere que Dirceu seja levado à Comissão de Ética

Luix Costa, da Comissão de Ética do PT, está indignado. Ele não acredita que a simples expulsão de Delúbio Soares, pivô do ‘mensalão’, tenha sido suficiente para acabar com a crise política que abalou a credibilidade do partido do presidente Lula.

"Livraram-se do cadáver no meio da sala", sustenta Luix, que redigiu voto em separado propondo abertura de processo disciplinar contra José Genoino, ex-presidente do partido, o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) e outros seis parlamentares citados no esquema de mesadas no Congresso.

"O cheiro do relatório alternativo vai continuar existindo", avisa o rebelado. "Mesmo que o conjunto do novo Diretório Nacional, refletindo o domínio da maioria, dê ao PT as características da velha/nova direção."

A decapitação de Delúbio ocorreu na tarde de sábado (22) durante reunião do Diretório Nacional em São Paulo. Votaram 56 dirigentes – 37 pela pena máxima, 16 pela suspensão por 3 anos, e 3 se abstiveram. Luix não estava lá – reclama não ter sido convocado para a reunião -, mas distribuiu uma carta aberta aos companheiros.

"O que aconteceu é um desrespeito porque não foi só o Delúbio quem fez", protesta, referindo-se ao envolvimento de outros petistas, inclusive parlamentares, na formação do caixa 2 da agremiação e na captação de recursos do ‘mensalão’. "Tem um monte de gente envolvida, a investigação deve ser mais ampla e aprofundada. É preciso separar a questão jurídica da questão da ética."

Luix recomenda ação da Ética nos Estados. "Não estou condenando ninguém, mas temos que cobrar também da esquerda que não se comportou de acordo com a ética do partido", insiste. "Jogaram tudo nas costas do Delúbio." Antes da votação que o mandou para a rua, o ex-tesoureiro disse para seus julgadores: "Não traí, não sou delator. Atribuir-me toda responsabilidade por essa crise e me expulsar para resolver o problema é trabalhar com injustiça e com fatos não verdadeiros."

O rebelado anotou no primeiro relatório da comissão que estava caracterizado – a partir dos depoimentos e documentos recolhidos – "que os equívocos políticos e os desvios de conduta eram fruto da ação de um grupo". No entanto, segundo Luix, na reunião do dia 12 a maioria "conseguiu também unificar os outros quatro membros da Comissão de Ética em torno da idéia de que a responsabilidade por tudo, planejamento, captação e distribuição de milhões de reais, foi de uma única pessoa".

"Ele (Luix) é filiado ao partido, pode fazer uma representação à Executiva Nacional", sugere Ricardo Berzoini, presidente do PT. "Se ele quiser não tem nenhum impedimento. O problema é que queria transformar a Ética numa comissão permanente, genérica." Berzoini advertiu que o estatuto do partido não permite a ampliação da investigação.

"Não pode extrapolar", reiterou, citando como parâmetro as ações de natureza judicial, que não autoriza inclusão de novos réus se a denúncia formal é apenas contra uma pessoa. "Se esse Luix fosse uma pessoa séria faria uma representação."

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