Dirceu presta depoimento e desmente Jefferson

Em depoimento a portas fechadas na comissão de sindicância da Câmara, o deputado
José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil, admitiu que conhece Marcos
Valério Fernandes de Souza, sócio da SMP&B e DNA Propaganda de Belo
Horizonte, mas negou que tenha informação sobre operações de recursos feitas
pelo publicitário. O depoimento de Dirceu na comissão aconteceu cerca de 24
horas após ele ter reassumido seu mandado de deputado federal e durou 40
minutos.

Dirceu negou vários pontos dos depoimentos do presidente
licenciado do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), na mesma comissão e no
Conselho de Ética da Câmara, segundo contaram pessoas que acompanharam as
declarações do ex-ministro. Na versão de Dirceu, não houve o encontro relatado
por Jefferson no qual o presidente do PTB alertou o então ministro de que o
tesoureiro do PT, Delúbio Soares, estava pagando o "mensalão", o suposto esquema
de pagamento de R$ 30 mil por mês a deputados do PP e do PL em troca de apoio ao
governo. De acordo com Dirceu, não houve o encontro nem o soco na mesa, como
Jefferson declarou e que ele só soube do chamado "mensalão" quando o ‘Jornal do
Brasil’ publicou a matéria no ano passado.

Dirceu também negou que tenha
participado ou homologado o acordo relatado por Jefferson pelo qual o PT
entregou para o PTB R$ 4 milhões para serem usados na campanha eleitoral do ano
passado. De acordo com Dirceu, não existe na Casa Civil a sala na qual o
presidente do PT, José Genoino, Delúbio e o secretário-geral do PT, Sílvio
Pereira, teriam feito reuniões, como afirmou Jefferson. Para ressaltar que não
havia esse "gabinete", Dirceu afirmou aos deputados da comissão que nem os
funcionários aceitariam essa invasão de privacidade.

De acordo com
deputados, Dirceu, em seu depoimento, procurou sempre separar a figura do
ministro com a de dirigente partidário. Ele disse que, quando cabia a ele a
função de articulador político, antes da nomeação do ministro da Coordenação
Política, Aldo Rebelo, ele recebia dirigentes partidários e, como Genoino,
Delúbio e Silvio Pereira não são parlamentares, a presença deles chamavam mais a
atenção.

Em meio a várias negativas, Dirceu confirmou que esteve no
apartamento de Jefferson, acompanhado do líder do PTB na Câmara, José Múcio
(PE), para pedir que o deputado retirasse a assinatura no requerimento que
criava a CPI dos Correios, argumentando que o assunto já estava sendo apurado
pelos órgãos federais e que a CPI seria apenas exploração
política.

Pessoas que acompanharam o depoimento na comissão de
sindicância afirmaram que Dirceu respondeu a todas as perguntas, cerca de 70, e
em um raro momento fez censura a Jefferson, questionando por que o petebista não
fez as denúncias antes ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na tribuna da
Câmara como sugeriu o deputado Miro Teixeira (PT-RJ).

O corregedor da
Câmara e coordenador da comissão de sindicância, deputado Ciro Nogueira (PP-PI),
disse que o depoimento de Dirceu serviu para esclarecer os fatos. Segundo ele, a
comissão avaliará se será necessária uma acareação entre Jefferson e Dirceu
depois da conclusão de todos os 41 depoimentos. Hoje, além de Dirceu, a comissão
ouviu os depoimentos do líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), e do líder do
PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE).

Mabel repetiu o depoimento que
prestou ontem (22) no Conselho de Ética da Câmara, negando que tenha feito a
oferta de dinheiro para que a deputada licenciada Raquel Teixeira (PSDB-GO)
trocasse de partido. "A deputada colocou ingredientes no episódio que não
existem", disse Mabel, repetindo reiteradas vezes que não ofereceu dinheiro à
deputada.

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