Dirceu discute crise no setor aéreo com Palocci e credores

A delicada situação financeira da Varig volta amanhã à mesa de discussões na Casa Civil, sob o comando do ministro José Dirceu. As avaliações dentro do Executivo são que as constantes renegociações de dívidas da empresa – e também da Vasp – podem abrir precedentes para reivindicações de outras companhias. Uma sinalização que chegou esses dias ao Planalto foi a possibilidade de a empresa Gol pedir uma carência de pelo menos seis meses no recolhimento das taxas aeroportuárias à Infraero, estatal que administra os aeroportos brasileiros.

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e representantes da Infraero, do Banco do Brasil e da Petrobras – principais credores da empresa – também devem participar. Apesar de ter tomado posse, a presença do novo ministro da Defesa, o vice-presidente José Alencar, ainda era dúvida hoje entre os assessores do Palácio do Planalto. O objetivo é mais uma vez acelerar as discussões em busca de uma solução para a crise da empresa.

A Varig está negociando com a Infraero o pagamento parcelado de uma dívida acumulada, só este ano, de R$ 150 milhões nas taxas aeroportuárias. A companhia propôs pagar em 60 meses, mas a Infraero só aceita o máximo de 12 meses, embora setores do governo defendessem que essa pendência fosse resolvida até o final do ano. O Conselho Administrativo da Infraero dará a palavra final nessa operação, até o fim do mês.

Estratégia

No caso da Gol, não há dívidas a saldar, mas a carência seria uma estratégia da companhia para ter fôlego e aumentar seu caixa para investir em novas aeronaves e na modernização do negócio. Assim, a Gol conseguiria uma certa isonomia de tratamento já que, além da Varig, a Vasp ganhou tempo para quitar dívidas com a Infraero.

Presente à solenidade de posse do vice-presidente José Alencar no Ministério da Defesa e questionado sobre o possível pedido, o presidente da Gol, Constantino Oliveira Júnior, foi evasivo. “Não descarto nenhuma possibilidade”, afirmou. “No entanto, ainda estamos fazendo estudos e projeções para o ano que vem e não sabemos quanto vamos precisar para investir”, completou.

Além da Gol, executivos das outras três principais companhias do País também marcaram presença na transmissão de cargo. Em nenhum momento de seu discurso, porém, o novo ministro da Defesa mencionou o setor aéreo.

Já o ex-ministro José Viegas, ao fazer um balanço de suas ações à frente da pasta, afirmou que depois de dois anos de governo Lula “o setor aéreo está revigorado e as empresas voltaram a operar com lucros”.

Os presidentes das companhias procuraram reconhecer o “novo terreno” com a mudança de ministro e evitaram assumir posições claras sobre um eventual programa de ajuda ao setor. Os executivos da TAM e da Gol negaram que as empresas já tenham sido sondadas para participar de uma proposta de reestruturação da Varig. “A TAM é uma empresa que tem suas decisões estratégicas e avalia as oportunidades na medida em que elas surgem”, disse o presidente da companhia, Marco Antonio Bologna.

Os presidentes da Gol e da TAM aproveitaram para comemorar os números do setor divulgados hoje pelo Departamento de Aviação Civil (DAC). Em outubro, a taxa média de crescimento foi de 14,7% nas rotas domésticas e 12,7% nas internacionais, comparado a igual período de 2003. “Estou otimista quanto ao desempenho das empresas”, disse Bologna, projetando 10% de crescimento em 2005. “Há um crescimento vigoroso do setor, apesar da alta do preço do petróleo no exterior que significa um custo importante”, resumiu Constantino Junior.

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