Desindustrialização e castigo

O volume atual do comércio exterior brasileiro está ancorado no desempenho de apenas três produtos: petróleo e derivados, minério de ferro e soja em grão. De janeiro a abril deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, eles foram responsáveis por mais da metade (51,5%) do aumento das exportações, que passaram de US$ 33,6 bilhões para US$ 39,2 bilhões, com o apreciável acréscimo de US$ 5,5 bilhões.

Analistas de mercado afirmam que o saldo comercial brasileiro ainda se manterá elevado em 2006, mas não conseguirá suplantar o recorde obtido no ano passado (US$ 44,8 bilhões). A estimativa mais aceita é algo em torno de US$ 38 bilhões. Todavia, apontam no reduzido número de commodities exportáveis um gargalo que, a médio prazo, levará nosso comércio exterior a uma situação de grave perplexidade.

A grande preocupação é com o fraquíssimo desempenho exportador de outros ramos importantes da indústria, como veículos automotivos, máquinas e equipamentos, têxteis e calçados, entre outros, que já revelam seu desespero ao governo federal. A mais recente Carta do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) bate na surrada tecla do câmbio como um dos fatores precípuos – senão o mais letal – que levam o País a ingressar num ruinoso processo de desindustrialização. A rigor, alguns poderiam supor que o processo está relacionado com a internacionalização da empresa brasileira que vinha ocorrendo e ganhou força nos últimos anos em função da reestruturação do setor.

Segundo a Carta do Iedi, a empresa brasileira adquiriu capacidade técnica e gerencial para ampliar a produtividade, modernizar instalações e equipamentos e reduzir os níveis de endividamento, cuja somatória resultou na configuração de melhores condições para concorrer no mercado externo e até comprar e/ou instalar unidades industriais no exterior em escala crescente. Os exemplos lembrados foram a WEG e a Marcopolo, grandes exportadoras brasileiras e maiores empresas do mundo na produção de motores elétricos e ônibus, que planejaram a localização de fábricas no exterior premidas pela fuga das condições favoráveis na atual conjuntura econômica nacional.

Empresas desse porte são obrigadas a tomar decisões de tal relevância não apenas forçadas pelo câmbio desfavorável, embora aí resida a causa primordial, mas também por um conjunto de fatores adversos, como infra-estrutura deficiente, juros altos e carga tributária excessiva, além da ausência de uma política industrial séria e conseqüente. O Iedi reconhece que o colapso da atividade de exportação, e o agronegócio é hoje a situação mais candente, fez com que muitas empresas buscassem melhor sorte no estrangeiro, posto que o resultado lastimável sob todos os ângulos seja o início prematuro da desindustrialização.

Grandes empresários da indústria concordam que o dólar valendo em torno de R$ 2 corresponde à migração do emprego brasileiro para a Índia, Rússia, Portugal e Argentina, países onde várias empresas brasileiras estão se instalando, realidade aziaga que parece não ser do conhecimento da insensível casta que habita Brasília. Não se cogita, ainda, o fechamento de fábricas no Brasil, mas o prosseguimento dos fatores adversos decerto trará a descontinuidade da produção industrial e o aceleramento da transferência da geração de empregos daqui para outros países. Ou seja, uma inclemência a mais sobre aquela parcela da população sem perspectivas imediatas de melhoria de vida.

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