Desenvolvimento zero

Durante muitos anos, o PT e outras forças de esquerda bateram duro no governo, em especial, e com maior força, no de Fernando Henrique Cardoso. Não lhe perdoavam a política econômico-financeira, que reservava uma larga parcela do superávit primário para pagar juros da dívida externa, o que consideravam desviar dinheiro dos programas sociais, do desenvolvimento interno e da geração de empregos, para satisfazer aos banqueiros. Política neoliberal, xingavam. No governo atual, oposição de ontem, faz-se a mesma coisa em gênero e caso, mas não em número. Este reserva parcela bem maior do PIB para pagar os banqueiros, acreditando que vale a pena, por ora, deixar a meta de desenvolvimento econômico para depois e postergar até mesmo os programas sociais, mesmo que isso represente um aflitivo e até perigoso aumento do desemprego.

O ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, em entrevista à revista norte-americana Newsweek, que o chamou de pão-duro, mas elogiou sua política, disse que é cedo para o Brasil retornar ao crescimento econômico. Para ele, sua política econômica conservadora visa colocar o País nos trilhos. Com FHC, o superávit primário chegou a 3,75/%. Com Lula e Palocci, chegou a 4,25%, o que justifica os aplausos que recebe nos países aos quais devemos e as críticas que começam a engrossar aqui no Brasil, onde não há crescimento econômico e o desemprego está chegando a níveis insuportáveis. Quanto aos programas sociais, estão sendo organizados, ou melhor, reorganizados, mas ficarão para depois.

Talvez o ministro Palocci possa, com alguma lógica, explicar essa política de pão-durismo e justificar os crescentes sacrifícios a que submete a nação. Essa lógica só não tem sentido para o pai de família que perde o emprego; para o empresário que entra em concordata ou falência; para os cidadãos de bem, inclusive membros do próprio governo federal, que são vítimas da crescente criminalidade. Agora surge um dado espantoso que põe em xeque toda essa política de pão-durismo. Revela o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que somente São Paulo, Rio e Belo Horizonte gastam por ano 5% do PIB no combate à criminalidade. Aí não estão considerados as demais capitais e todo o interior, onde também há criminalidade e seu combate é oneroso.

Alguma coisa está errada nesse absurdo orçamento. Para os banqueiros estrangeiros, 4,25% do PIB; para o combate à criminalidade, 5% do PIB, considerando-se somente três de nossas capitais. E para o desenvolvimento do País, para a geração de empregos, para os programas sociais, nada ou quase nada.

Parece que o que é preciso, para colocar o País nos trilhos, como prega o ministro da Fazenda, é alocar melhor essas rubricas baseadas no Produto Interno Bruto. O combate à criminalidade está sendo excessivamente caro, principalmente considerando-se sua ineficiência. O dinheiro para os banqueiros é a segunda mais alta rubrica desse psicodélico orçamento. E para o Brasil, seu desenvolvimento e geração de empregos, praticamente não sobra nada, pois ainda existe uma imensa máquina administrativa e burocrática que precisa ser sustentada.

Como é certo que o desenvolvimento com geração de empregos e um combate mais inteligente e eficiente à criminalidade, a diminuiriam, que tal repartir melhor essas grossas fatias do PIB? Dar um pouco menos para os banqueiros, muito mais para o desenvolvimento e geração de empregos e fazer um combate ao banditismo eficiente e inteligente, o que não significa, necessariamente, caro.

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