Desenvolvimento já

Vem do próprio PT – e sob o protesto irônico da oposição -o primeiro documento criticando a condução da política econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto o conhecido deputado Babá, liderando a ala radical, define como “estelionato eleitoral” as mudanças de um presumido rumo do governo petista, outros trinta dos 92 parlamentares federais da legenda subscreveram um documento considerando simplesmente “desastrosas” as conseqüências dessa política à economia brasileira. Escreveram que o governo que aí está, submetendo-se à lógica do capital financeiro, deixou o Brasil refém de uma “armadilha recessiva”. Enquanto o PIB – Produto Interno Bruto – norte-americano cresceu 1,9% no primeiro trimestre do ano, o brasileiro caiu 0,1%. E continua em derrocada.

Intitulado “Tomar o Rumo do Crescimento Já”, o documento representa o pensamento da chamada “ala esquerda do PT”, que teve o cuidado de “desconvidar” Babá e os outros radicais. Para não confundir as coisas. Num certo trecho, o texto observa que “cresce o número dos que se apercebem da impossibilidade de combinar política econômica conservadora com política social progressista”. Queremos – dizem os deputados signatários – ser protagonistas do governo e “marcar uma mudança do eixo: sai o vigiar e punir e entra o analisar e influir”, numa clara referência ao jogo de braço entre o núcleo do governo e a ala radical, ameaçada de expulsão por discordar de algumas propostas de reforma, entre outras coisas.

O documento, que provocou rebuliço na Câmara e mal-estar no Planalto, faz referência ao caráter “fiscalista e contábil” da proposta de reforma da Previdência e observa que “superávit primário máximo é sinônimo de Estado mínimo, funcionalismo desmotivado, educação e saúde com verbas cortadas e cultura sem recursos”. E conclui, profético: “Se a esperança que venceu o medo se metamorfosear em expectativa, perplexidade, decepção e, daí, retornar o medo, o custo social e político será altíssimo”.

Correndo por fora, a senadora Heloísa Helena foi mais fundo. A alunos de primeiro e segundo graus em Brasília, ela comparou as táticas do governo Lula àquelas usadas por Joseph Goebels, ministro da propaganda do regime nazista de Adolf Hitler: uma mentira dita seguidas vezes se torna uma verdade. “Por isso ficam repetindo essa história que a Previdência está quebrada por causa dos servidores”…

A atual fase dos debates ainda haverá de ter desdobramentos outros. Mas o primeiro deles foi um aparente recuo da ala governista e do próprio presidente do PT, José Genoíno. Ele garantiu que não haverá punição para a ala desenvolvimentista, já que o que seis integrantes fizeram foi apenas “divulgar uma opinião”. O próprio presidente Lula, certamente informado da explosão em Brasília, disse no Rio de Janeiro, onde estava, que “passados cinco meses, há vários indícios de que a inflação está sob controle e sua tendência é cair para podermos reduzir a taxa de juros”. “Estamos afinando a orquestra e, logo, logo, o espetáculo do crescimento vai começar”, disse ele.

O governo já pegou briga com o Judiciário, com os empresários, com os sem-terra, com os funcionários públicos da ativa e da reserva, com os militares (na questão da compra dos aviões supersônicos), com os postos de gasolina, frustrou os trabalhadores na questão do salário mínimo e está frustrando desempregados e eleitores em geral. Há desemprego maior que antes, estagnação geral da economia (à exceção, por ora, do setor que exporta). A esperança vitoriosa se aproxima perigosamente do medo alhures referido. Não apenas quem tem pressa come cru, mas também aqueles que não têm outra alternativa.

Voltar ao topo