Descrença geral

Pesquisa da DataFolha revela que, atualmente, 49% da população brasileira acredita que não existem políticos honestos. É a metade dos brasileiros. Se existem políticos honestos, não são conhecidos. O pior é a ignorância em que é deixada a população, ou melhor, a confusão, na medida em que ao se botar fé em um político, é possível que breve seja provado que ele não merecia confiança. Nada menos de 28% das pessoas consultadas disseram não saber quem são os honestos e 21% foram incisivas: honesto, nenhum.

Tal fato leva a comportamentos como o que foi recomendado, há décadas, na campanha de Adhemar de Barros ao governo de São Paulo. Com fama de ladrão, o político paulista beneficiava-se com a propaganda: ?Rouba, mas faz?. Agora os brasileiros, como naquela época, podem tender a votar nos que são capazes de realizar obras em benefício do povo, não importando quanto roubem ao mandar executá-las. Vide recentes experiências na capital paulista.

Lula, para 19% dos entrevistados, está na categoria minoritária dos honestos. Não é um percentual muito representativo, mas é suficiente salvaguarda em meio à descrença geral. Na ponta contrária aparece Roberto Jefferson (PTB-RJ), desonesto confesso, mas que faz: faz denúncias e põe lenha na fogueira, procurando desvendar para a opinião pública quais são os seus colegas também desonestos. Está conseguindo, mas nesse bloco ainda falta muita gente. Foi Jefferson quem denunciou o escandaloso esquema do mensalão.

Depois de sua denúncia, pilastras do PT, dentre elas José Dirceu, despencaram.

Depois de Lula, os entrevistados lembram como honestos José Serra e Geraldo Alckmin, respectivamente prefeito da capital paulista e governador do Estado de São Paulo, ambos do PSDB. Entre os mais lembrados como honestos está também a senadora Heloísa Helena, expulsa do PT por votar com os trabalhadores na reforma da Previdência. Sete por cento apontaram Lula como desonesto. Igualaram-no a Paulo Maluf, que recebeu a mesma nota negativa. Será que Lula estaria sendo beneficiado desse esdrúxulo conceito de que merece encômios o político que, apesar de roubar, algo realiza? Lembremo-nos que o atual presidente, embora não seja apontado pelos brasileiros como desonesto, por pouquíssimos é indicado como político realizador.

Constrói-se, assim, uma imagem dos políticos brasileiros, aos olhos da população, indicativa de que se o voto fosse facultativo, seria muito possível que muito pouca gente se abalaria a ir às urnas. Há um ditado freqüentemente confirmado e, felizmente, algumas raras vezes desmentido, que ?política é coisa boa só para rico vaidoso e pobre sem-vergonha?.

A enxurrada de escândalos a que estamos assistindo e as que já assistimos no passado, desmascarando políticos e instituições políticas, nos leva a crer que, se ?roupa suja se lava em casa?, está na hora de transformar o Brasil numa gigantesca lavanderia. Não será só para limpar a nossa política, mas para salvar a nossa ainda incipiente democracia e o respeito pelo nosso País, para o qual o mundo já olha com fundadas desconfianças. E nós, brasileiros, participamos desse mesmo sentimento pessimista.

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