Desafetos de Severino festejam renúncia com queima de fogos

João Alfredo PE (AE) – Uma queima de 11 mil fogos de artifício, no Alto do Cruzeiro, um dos pontos mais altos da cidade de João Alfredo, expressou a alegria dos desafetos e oposicionistas do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, diante da sua renúncia. Na pizzaria "Sabor em Pedaço", no centro da cidade de 27 mil habitantes, cerca de 100 pessoas acompanharam o discurso de Severino, que foi vaiado pelo menos quatro vezes. "Já vai tarde", "pega o beco", gritavam os conterrâneos do ex-deputado. As vaias se seguiam especialmente às declarações de que ele era inocente, que foi condenado antes da sentença, que está mais pobre, foi injustiçado, que agora vai voltar para sua querida terra natal.

A derrocada do filho mais ilustre de João Alfredo estava representada numa placa, na entrada da cidade, caída para o lado – que dizia "sejam bem-vindos à terra de Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados" – e no rosto de pessoas que afirmam terem sido prejudicadas pelo político, vítimas de cheques sem fundo.

"Ele é uma vergonha nacional", afirmou Maviael Veloso, 36 anos, que disse ter sofrido calote de R$ 24 mil (recebeu dois cheques sem fundos de R$ 12 mil) e mais R$ 31 mil em promissórias em 1996. Depois de dois anos recebeu parte do débito (R$ 23 mil) em jóias "preciosas", que depois descobriu serem falsas. "A renúncia é pouco", reagiu ele, apresentando um cheque de R$ 12 mil assinado por Severino, que foi guardado pelo irmão, Manoel Veloso, que também se apresenta como vítima do deputado. "Ele devia ser cassado e ir para a cadeia". Maviael é motorista de ambulância do hospital local. "Na época, só não passei fome porque minha família ajudou".

Time derrotado – Os amigos e aliados do político estão acuados. Sem poder confrontar os opositores, se recolheram. Uma corrente de oração escrita pela professora Paula França, 30 anos pedindo proteção divina ao ex-deputado – levada à Igreja Católica durante a crise envolvendo o político – multiplicou-se em cerca de 2 mil fotocópias tiradas por fiéis e foram distribuídas na cidade. Hoje elas pararam de circular. Jaqueline Maria de Lima, 18 anos, que participava de uma festiva eleição de diretorias de duas escolas municipais, estava decepcionada: "Dei meu primeiro voto a ele, porque tinha certeza que era uma pessoa que nunca roubaria, mas ele roubou".

Os que confiam na inocência de Severino Cavalcanti esperam a próxima eleição para lutar pelo renascimento político do ex-deputado. "Ele é um homem, não merecia isso e João Alfredo sai perdendo", disse Antonio Ferreira da Silva, 38 anos, agricultor. Ao seu lado, Edmílson Chaves, eletricista, 32 anos, lembrou que o povo da cidade tem muito a agradecer a Severino, "um homem simples que nunca se nega a ajudar o povo". "Aqui é primeiro Deus e segundo o deputado Zito (como Severino é conhecido na cidade)". Para ele quem fala do ex-parlamentar é porque "tem o rabo preso", é funcionário da prefeitura, ligada à oposição.

Antonio Carlos da Silva, assessor da prefeita Maria Sebastiana Conceição (PFL) qualifica a parte da população ligada a Severino como "fanáticos que parecem seguir uma seita". A prefeita não estava na cidade e recomendou que não se fizesse nenhuma manifestação pública contra o seu opositor, para evitar problemas, prometendo punir os servidores que não seguissem a orientação. "O povo de Zito é capaz de pegar briga, de fazer como os homens-bomba", justificou um primo do ex-presidente da Câmara, o ex-vereador Josué Ferreira Cavalcanti, 42. Ele entrou na política pelas mãos do primo, sendo eleito pela primeira vez pelo mesmo partido – então PPB. Dois anos depois passou para o PMDB e para a oposição. Elegeu-se para mais um mandato e hoje trabalha na prefeitura. "Ele dita normas, é do tempo do coronelismo".

Os velhinhos que conversavam nas calçadas da cidade, chapéu na cabeça, calados, não gostam de se posicionar, preferem não se envolver. "Se ele está pagando é porque está devendo, ninguém paga sem dever", disse um mais ousado, Manoel Soares Cordeiro, 69 anos. Agricultor, José Quarino de Souza, 70 anos, montado em um cavalo, afirmou ser analfabeto, mas ter consciência do que é certo e o que é errado. "Não voto nele,nem me vendo, nem me troco".

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