De olho no mercado

Palavras como mercado, estratégia concorrência, marketing, são novas no universo das instituições de ensino, sejam elas privadas ou públicas. Mas essa novidade não significa que tenham pouca importância na gestão da educação atualmente. Ao contrário, por vezes são supervalorizadas e utilizadas de forma inadequada.

Tomemos como exemplo, a palavra mercado. Muitos gestores da educação, sejam eles com enfoque administrativo ou pedagógico, incorporaram essa palavra ao seu vocabulário de forma rápida e muitas vezes sem muita reflexão sobre o que ela significa. É certo que é necessário preocupar-se com o mercado, mas para que nossos esforços sejam produtivos, devemos primeiramente saber o que ele é em termos conceituais, mas também, e fundamentalmente, em termos concretos.

Em marketing, o conceito de mercado diz respeito ao conjunto de pessoas e organizações cujas expectativas possam ser atendidas por produtos e serviços, e que dispõem de recursos para adquiri-los. Mas também fazem parte do mercado todas as organizações que produzam esses produtos e serviços, bem como as condições nas quais essa produção ocorre.

O enfoque que quero imprimir ao meu raciocínio nesse artigo diz respeito a uma certa miopia que as instituições de ensino têm ao tentar entender o mercado educacional. Essa miopia é resultado de um entendimento equivocado sobre o que ele é.

Se entendida como o processo de aprender, a educação ocorre independente de sua institucionalização. Estar vivo é estar aprendendo, porém a educação é mais que isso. A partir do momento que a sua produção se institucionaliza, ela passa a ser um processo social, cujo resultado contribui com o desenvolvimento do indivíduo, mas que também contribui com o desenvolvimento da sociedade.

Em virtude dessa natureza particular, a relação entre quem produz a educação e quem a consome adquire a aura de uma ?relação natural? e que é, em essência, falsa. Essa distorção está presente na visão equivocada que se tem do chamado ?mercado educacional?.

Muito do que se ouve falar sobre mercado educacional diz respeito somente à legislação que rege o setor e aos concorrentes que atuam nele. Isso é compreensível, pois justamente por se tratar de um processo social precisa ser regulado pela sociedade e pelo Estado. E quem trabalha com educação sabe muito bem o que isso significa.

Também é compreensível que numa realidade onde, conforme dados do IBGE, decresce o número de pessoas na faixa etária de 0 a 19 anos, e onde, conforme dados do Ministério da Educação, a oferta de vagas públicas e privadas aumenta, a preocupação com os concorrentes esteja exacerbada. Mas ater-se apenas a esses aspectos torna o conhecimento do mercado muito restrito.

A escola é, entre outras peculiaridades, uma instituição que exerce o papel de um ?nó na rede social?. Ela influencia e é influenciada pelas transformações que ocorrem na sociedade como um todo. É por isso que estudar o mercado educacional é estudar essas transformações.

Tomemos uma situação concreta como exemplo: a disponibilização de recursos tecnológicos que estão permitindo a realização de diversas tarefas humanas de maneiras nunca antes experimentadas. Internet, contatos virtuais, auto-serviço, velocidade na disseminação de informações, recursos de multimídia são apenas alguns exemplos. Mais do que mudar a maneira de organizarmos nossas escolas e nossas aulas e nossos concorrentes as deles, esses recursos estão mudando a percepção das pessoas em relação ao mundo à sua volta e a forma delas se relacionarem. Tempo e espaço já não são mais os mesmos.

Estudar o mercado educacional é ir fundo no conhecimento das transformações sociais. É conhecer a família atual com seus defeitos e virtudes, e de que maneira ela se relaciona com a educação hoje e no futuro. É saber como a tecnologia está mudando a relação que temos com o mundo à nossa volta e nossas expectativas em relação a ele. É entender como o nosso sistema de valores está estruturado e quais as tendências futuras. E por fim, é ter consciência clara que a própria educação que oferecemos é mais uma fonte de mudanças.

Quando penso no mercado educacional e na necessidade que os gestores têm de conhecê-lo em profundidade e com perspectivas diversas, percebo que o que falta a esses gestores é, numa palavra, educação.

Ricardo Pimentel (http://ricardo.pimentel.zip.net) é consultor de marketing educacional e professor da FAE Business School/UNIFAE e da Faculdade OPET. 

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