Dados revelam dramática situação educacional brasileira

A imprensa diária, na semana que passou, deu destaque ao mais recente índice de qualidade de vida. Desta feita, a ONU divulgou o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), incluindo, principalmente, os dados obtidos no Brasil em 2004. Embora o índice tenha passado de 0,788% para 0,792%, nosso país caiu da 68.ª para a 69.ª posição mundial. Compõem esse índice quatro indicadores: expectativa de vida, alfabetização de adultos, taxa bruta de matrícula e PIB per capita em dólares. Não se faz necessária visão crítica aguçada para deduzir que 50% desses quesitos estão relacionados à educação. Esse resultado nos posiciona muito atrás de nossos vizinhos: Argentina (36.º lugar), Chile (38.º) e Uruguai (43.º).

Para tornar mais dramática a situação, o IBGE mostra que 37% dos jovens de 15 a 25 anos não completaram nem o Ensino Fundamental. Dessa porcentagem, 23% já não estudam mais, isto é, são jovens que se auto-excluíram do retorno à escola. Tentam entrar no mundo do trabalho com essa baixa qualificação. Mais graves ainda são as conseqüências para a auto-estima e a imagem que a sociedade e eles mesmos constróem para si.

No Ensino Médio, as estatísticas dão conta de elevada evasão nos últimos anos, a partir de 2003. ?A tendência é que o Ensino Médio completo venha brevemente a ser o nível mínimo de escolaridade aceito pelo mercado formal?, afirma Sônia Rocha, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.

Tornando mais aguda a crise, as tabulações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio PNAD, do IBGE, constataram que, de 25 a 29 anos, apenas 8% dos brasileiros concluíram o ensino superior e outros 9% estudam ou estudavam nesse nível à época do levantamento dos dados. Malgrado todos os esforços governamentais e de setores da sociedade, que incluem certa liberdade de oferta de novos cursos, as universidades amargam, hoje, queda de candidatos ao vestibular. A única universidade brasileira qualificada entre as 200 melhores do mundo, a USP, pública, de rica história e contribuição para a ciência, também viu o número de candidatos diminuir, de 170.474, em 2005, para 142.656, em 2006, o que representa queda de 16,3%.

Cotas, FIES, ENADE, Fundef, bolsas de todos os tipos e assemelhados não são capazes de dar conta dos números da educação brasileira. Nem estamos tratando da qualidade desse ensino. Não se pode afirmar que deixou de haver crescimento no Ensino Superior, mas, tal qual nosso PIB, a alteração foi pífia, de 6% para 7%. Na Malásia foi de 8% para 16%, na Tailândia, de 10% para 16%! O Brasil necessita de cursos e graduados que se preocupem com ciência, tecnologia, humanismo e menos com bacharelismos. Quais são os cursos mais populosos nas universidades? A pouca melhora nos índices educacionais não tem se refletido na melhoria dos comportamentos e saberes. Investigar as causas e superar os defeitos constitui um ótimo programa de governo. Qual dos eleitos se habilita?

Após a tentativa (e por vezes, êxito) de lavagem cerebral dos discursos eleitoreiros, nos deparamos, educadores-contribuintes, com o desmerecimento real da educação. Houve intensificação no atendimento e no número de matriculados em todas as categorias da Educação de Jovens e Adultos EJA, além da procura de modalidades de ensino à distância (mantenho o termo ensino, porque educação, em meu entender, pertence a outra categoria). Eles atestam a busca pelo diploma por vias alternativas, em tempo rápido, que permita ao estudante trabalhar em período integral. Caímos no dilema tostines: é o trabalho que impede a formação escolar completa ou é a formação escolar que impede o trabalho qualificado ?

Por tantas vezes já escrevi sobre o desencontro da qualidade na educação com os números, porcentagens e escusas dos burocratas. Aprendizagem demanda esforço pessoal e tempo de maturação: não se trata de produzir automóveis ou hortaliças, cuja meta é a maior quantidade em menor tempo. O corpo humano demanda tempo: não se adquirem músculos sarados de um dia para o seguinte. Nelson Ascher, ao tratar do paralelo entre cérebro e músculos, afirma: ?A estrutura muscular de um ser humano cresce e evolui até certa idade e depois, para que continue em forma, requer exercícios e disciplina. O mesmo vale para o cérebro.? ?Mesmo que a educação não seja a de melhor qualidade, será sempre melhor do que nenhuma educação?, alegam os otimistas. Esse ?jogo do contente?, à moda de Poliana, de Eleanor Porter, em nada fará melhorar a educação; talvez sirva apenas para mudar as estatísticas.

A verdade é que, nesta terra de bacharéis, uma herança do período colonial, a formação escolar e universitária tem feito alguma coisa para manter corpo e cérebro vivos, mas muito pouco para fazer avançar a ciência e tirar o país da dependência tecnológica. Exportamos jogadores, mulatas e alegria; importamos quase tudo o mais, principalmente o que pode elevar o Brasil desse patamar degradante de desigualdade social e vida sem dignidade. Precisamos, muito mais, de um Índice de Desvio da História de maus resultados, para que seja possível superar todos os Índices de Desinteresse Herdado na área da educação.

Voltar ao topo