Virou bagunça?

Uso de celulares, regras diferentes e desconfiança; candidatos detonam concurso do TJPR

Imagem mostra o que seria uma das salas de aplicação das provas do concurso do TJPR.
Imagem mostra o que seria uma das salas de aplicação das provas do concurso do TJPR. Foto: Colaboração.

Ao entrar na sala para realizar a prova do Concurso Público do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), no último domingo (24), Mariana Teixeira* percebeu que a realidade não correspondia ao que estava previsto no edital. Segundo ela, na Universidade Positivo, Praça Osório, cada sala do bloco de provas tinha suas próprias regras. Em algumas, o detector de metais era usado. Em outras, os fiscais não exigiam o lacre dos celulares e equipamentos eletrônicos.

Na Uniandrade, Caíque Sousa* também testemunhou diferenças na aplicação da prova entre as salas. Ele percebeu fiscais liberando candidatos para o banheiro em horários determinados. Quando conseguiu sair, encontrou pessoas conversando em grupos sobre questões do exame.

A bagunça não se restringiu apenas aos locais de prova dos dois. Em entrevistas à Tribuna do Paraná, candidatos relataram problemas semelhantes na aplicação de provas nos campi da Universidade Positivo Ecoville, UniCuritiba e Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Em Maringá, no interior do estado, o cenário foi parecido no campus da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

A desorganização no dia da prova refletiu fora das salas. Nas redes sociais, nos comentários da publicação oficial do TJPR sobre o concurso, candidatos multiplicaram relatos de indignação e dúvidas quanto à organização do processo. As críticas apontavam desde a ausência de regras claras até a postura dos fiscais diante das irregularidades. Confira abaixo o post com as reclamações:

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Uma publicação compartilhada por Tribunal de Justiça do Paraná (@tjproficial)

“Esse conjunto de falhas evidentes, como o não uso do detector de metais, a falta de fiscalização em relação aos celulares e a ausência de providências após os sucessivos toques de aparelhos, levanta sérias questões sobre a integridade e a segurança do ambiente de prova”, desabafou Mariana. 

Lotada no mesmo local de prova de Mariana, Luíza Silva* decidiu formalizar uma denúncia ao Ministério Público do Paraná (MPPR). Ela relatou que, no único momento em que foi ao banheiro, outra candidata foi liberada no mesmo instante pelo fiscal. Com receio de ser prejudicada, registrou os horários e o local da prova na denúncia anônima. 

“Muita gente quer pegar carona na confusão, tumultuando e pedindo anulação porque a prova estava difícil. Quem está seriamente tratando do assunto apenas quer que o Ministério Público investigue a situação”, afirmou.

Flagras no uso de celulares

Durante a aplicação das provas na PUCPR, Rodrigo Soares* presenciou o uso de celulares e relógios digitais durante o certame. A prática, proibida pelo edital no item 12.5.3.1, veda expressamente o uso de aparelhos eletrônicos em qualquer dependência física onde ocorrem as provas, exceto no momento de identificação, caso o candidato apresente documento digital.

No grupo de mensagens formado por candidatos, um participante chegou a enviar uma foto em visualização única para comprovar que era possível usar o celular durante a aplicação da prova. Na imagem, não há fiscal na sala no momento em que o aparelho foi manuseado.

Nas fotografias compartilhadas no mesmo grupo, outra falha foi apontada. Sobre uma das carteiras, aparecia uma folha amarela que, segundo os candidatos, correspondia ao gabarito da prova. Para Luíza Silva*, acostumada à rotina de concursos, a cena pareceu um erro grave.

Ela explica que, em condições normais, tanto as provas quanto as folhas de gabarito chegam em envelopes lacrados, que só podem ser abertos após o fechamento dos portões e já dentro das salas, com todos os candidatos presentes e com os aparelhos eletrônicos devidamente desligados e lacrados em sacos individuais. O procedimento ainda exige a assinatura de três candidatos como testemunhas, confirmando que os lacres não foram violados antes do horário oficial.

“O papel amarelo indica que os envelopes de prova já estavam abertos antes do horário, o que representa uma violação da isonomia entre candidatos. Caso tenham sido abertos no momento correto, a falha é ainda mais grave, pois havia celular ativo dentro da sala. Em qualquer dos cenários, trata-se de um erro sério no universo dos concursos”, explica a concurseira.

Na sala de Mariana, candidatos apenas simulavam guardar os celulares. Durante a prova, três aparelhos diferentes tocaram. “Na terceira vez que isso ocorreu, uma candidata alertou a fiscal de sala sobre o celular tocando novamente, e que já era a terceira ocorrência. No entanto, a fiscal não tomou nenhuma providência, mesmo com todos na sala ouvindo os toques dos aparelhos”, relata.

Irregularidades foram denunciadas

Mariana, Caíque, Luíza e Rodrigo denunciaram os casos ao MPPR. Dos sete candidatos que relataram as mesmas situações à Tribuna, todos abriram solicitações de representação. Por medo de represálias, preferiram permanecer anônimos. As denúncias também foram encaminhadas à Ouvidoria do TJPR e à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Procurado pela Tribuna, o Ministério Público informou que as denúncias serão repassadas à Promotoria de Justiça, responsável pela análise. O TJPR declarou que a aplicação do concurso é de responsabilidade da banca contratada, mas que irá averiguar os relatos recebidos. 

O Instituto AOCP, responsável pela organização do concurso, afirmou em nota que investigará as irregularidades. A entidade ainda reiterou o “compromisso com o desenvolvimento da sociedade, fomentando e executando projetos voltados à assistência social, à educação e às seleções públicas, sendo reconhecido como agente de transformação, que preza pela ética, respeito, responsabilidade, segurança, trabalho em equipe e satisfação do público-alvo.”

*Os nomes dos entrevistados foram alterados a pedido dos denunciantes.

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