Termina a trégua entre gangues no Parolin, em Curitiba

A guerra entre gangues do Parolin, que já dura quase 12 anos e parecia ter sido pacificada nos últimos meses, voltou ao bairro. Na noite de segunda-feira, tiroteio aterrorizou moradores e matou dois amigos. A Delegacia de Homicídios não descarta a possibilidade de as mortes ser resultado do duelo entre grupos rivais. Entre o fim de 2011 e início de 2012, a rivalidade levou quatro pessoas ao cemitério e feriu outras cinco. Dois dos baleados, incluindo uma criança de 4 anos, foram atingidos por balas perdidas.

Na confusão de anteontem, homens armados tentaram se esconder em comércios e outros correram atrás de inimigos por quase uma quadra. Quem passava pela região, tentou se proteger como pôde. O tiroteio começou depois de uma discussão em frente a um barracão de reciclagem, na Rua Rubens Elke Braga, depois das 20h. Pelo menos quatro pessoas armadas se espalharam disparando em várias direções. Dois entraram em um bar, perto da Rua Montese, se esconderam atrás de um fliperama e continuaram atirando. Outros desceram a rua em perseguição, na direção da Avenida do Canal.

Corpos

Quando os tiros cessaram e os homens armados fugiram, Ronaldo Rodrigues, 35 anos, que estava com o documento do irmão, foi encontrado caído na rua, com quase 15 tiros. Ele foi socorrido mas morreu a caminho do hospital. A menos de dez metros dele Adalberto de Oliveira, 37 anos, foi morto com três tiros no peito. No caminho entre o bar e os corpos, peritos do Instituto de Criminalística recolheram mais de dez estojos de pistolas calibre ponto 40 e 380.

Adalberto e Ronaldo moravam em Campina Grande do Sul. De acordo com o delegado Fábio Amaro, familiares de Adalberto relataram que ele costumava ir ao Parolin visitar os filhos, que moram com sua ex-mulher. Porém o delegado também não descarta a hipótese que os dois amigos tenham ido armados ao bairro por outro motivo.

Apesar dos familiares de Ronaldo terem dito ao delegado que o rapaz portava uma pistola calibre 40, nenhuma arma foi localizada com nenhuma das duas vítimas. Adalberto já esteve preso, por quase sete anos, por roubo. Ronaldo tinha passagem pelo mesmo crime, inclusive com mandado de prisão em aberto.

Ações policiais frearam criminalidade

Há mais de uma década, a briga de poder na região envolve duas gangues – a “De Cima” (ou “Morro do Sabão”) e a “De Baixo” (ou “Cidade de Deus”). Em anos anteriores, não é possível saber quantas mortes a rivalidade resultou. Mas em 2010, por exemplo, o Parolin teve 16 homicídios. Em 2011, outras 11 mortes. No ano passado, foram 12 assassinatos e, neste ano, mais quatro.

A Unidade Paraná Seguro (UPS), instalada no bairro em maio do ano passado, e as operações da Delegacia de Homicídios feitas na região meses antes, em busca de envolvidos com as gangues, frearam a criminalidade.

Mas, com o confronto de anteontem, os bandidos mostraram que já perderam o medo da polícia e voltaram a brigar.

Líder

A briga de gangues ficou “escancarada” quando a “Gangue de Baixo” assassinou João Doracil Cardoso Júnior, no início de dezembro de 2011. Ele era segurança de Maycon de Almeida, o “Miroca”, um dos líderes da “Gangue de Cima”, executado logo em seguida. A morte dele fez os ânimos das gangues se acirrarem e eles se armaram para iniciar nova “guerra”. Um dos inocentes feridos na época foi Rielli Aline Ramos de Oliveira, 4 anos. O tiro que ela levou no braço era direcionado a seu primo, Wesley Patrick Magali Fernandes. Wesley também foi ferido, mas sobreviveu. Quem também foi vítima de bala perdida, numa possível briga das gangues, foi Elvis Henrique Iriguti, na época com 12 anos, que morreu quando ia à farmácia, em 2007, num domingo de “Dia das Mães”.