Curitibanices em madeira

Oficina de família na RMC produz capivaras e símbolos de Curitiba em madeira

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

De pai para filho e de avô para neto, o ofício aprendido por Joacir de Pol chegou à terceira geração da família. Embora não tenha sido a primeira escolha do patriarca, a marcenaria se firmou como um trabalho para toda a vida, sustentado pela dedicação e pelo vínculo familiar. Filho de um ex-funcionário da antiga fábrica dos irmãos Mueller, onde hoje está o shopping que leva o mesmo nome , Joacir iniciou sua trajetória em 1972, ao se matricular no curso de marcenaria do Senai. A primeira intenção era cursar Tornearia Mecânica, mas como a turma já estava completa, optou pelo outro ofício. Entre os destaques da produção familiar, estão impecáveis capivaras de madeira.

Cinco décadas do início do curso, seu Joacir ainda se orgulha de ser, como ele mesmo diz, “meio mecânico”. “É meu prazer”, conta. Na oficina da família, ele é o responsável por cuidar das ferramentas e fazer a manutenção das máquinas, garantindo que tudo funcione com precisão. O filho, Antônio, e o neto, Antônio Augusto, seguem o legado, dedicando-se à criação de esculturas em madeira que se tornaram conhecidas na Feirinha do Largo da Ordem.

Todos os domingos de manhã, a tenda da família exibe figuras já conhecidas dos curitibanos: capivaras, gralhas-azuis, peões e araucárias, todas esculpidas com esmero. Embora as formas se repitam, nenhuma peça é idêntica à outra. A madeira, com suas características, garante a singularidade de cada escultura, oferecendo cores e ranhuras únicas.

A igualdade entre elas está apenas no processo, rigorosamente seguido por cada integrante da família. “Tudo começa na serra circular. Ali, pegamos a madeira e cortamos em quadradinhos. Se for uma capivara, por exemplo, fazemos o risco na madeira e levamos na serra de fita, do outro lado do galpão”, explica Joacir. Depois de moldada a base da escultura, as peças ganham escultura a partir do desgaste da madeira. Todas são finalizadas com um verniz, valorizando a coloração da própria madeira. 

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Linha de produção no galpão de casa 

O negócio de Joacir começou com a reforma de móveis antigos que precisavam de restauração. Aos poucos, o ofício foi crescendo junto com a família. Naturalmente, a marcenaria se transformou em herança. “Aprendi vendo ele trabalhar. Com 12 anos, já cutucava ele e aprendi assim”, relembra o filho Antônio.

O mesmo aprendizado se repetiu com o neto. Hoje, aos 19 anos, Antônio Augusto já domina a arte da escultura em madeira e é o responsável pela maior parte das peças vendidas nas feiras de Curitiba. Formado na educação regular e ainda em dúvida sobre cursar ou não uma universidade, ele pertence a uma geração em que poucos jovens dominam um ofício manual tão cedo. O talento, porém, parece ter sido um traço herdado diretamente do avô e do pai.

O galpão ao lado da casa da família, em Almirante Tamandaré, é o coração da produção. É onde as peças ganham forma, seguindo o gosto e as encomendas dos clientes. Cada integrante se concentra em uma etapa diferente da produção. Em um dia comum, a família chega a produzir cerca de 15 capivaras em miniatura. Já os peões, peças mais simples, podem chegar a cinco unidades por hora. Tudo isso acontece sob o olhar de Lupita, a cadela adotada no Centro de Zoonoses de Curitiba, que circula tranquila pelo galpão enquanto o som das máquinas preenche o espaço.

Marcenaria na Grande Curitiba produz incríveis capivaras de madeira.
Lupita é a fiel companheira na fábrica. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Como intermediários, a família também pratica um trabalho de reaproveitamento. A madeira usada nas peças vem de podas urbanas, cedidas por conhecidos que atuam nesse serviço. “Nós temos amigos que trabalham com poda de árvores. De lá, pegamos a madeira. Se não vem para nós, ela é levada para um local onde acaba sendo destruída”, explica Joacir. 

Souvenir curitibano 

Dentro do próprio ecossistema que construíram ao longo dos anos, o perfil dos produtos da família De Pol varia de acordo com o gosto e as necessidades de cada cliente. A oficina funciona como um espaço vivo, onde cada pedido inspira novas criações. Além das peças expostas nas feiras, a família também realiza trabalhos sob encomenda para quem busca algo específico, seja uma escultura personalizada ou um móvel feito com madeira reaproveitada do próprio terreno.

Do tradicional ao inusitado, o catálogo da família é amplo. “Também produzo algumas coisas para umas lojas de São Paulo. São produtos de set, tipo bolinha, pé palito para mesinhas e coisas assim”, explica Antônio, enquanto comenta as encomendas que chegam de diferentes lugares. As demandas variam, mas todas mantêm o mesmo padrão artesanal.

A pequena loja, instalada logo na entrada da casa da família, é uma vitrine do talento coletivo. O espaço exibe dezenas de animais esculpidos, tábuas em formato do mapa do Brasil, mesas feitas a partir de grandes fatias de tronco e até uma curiosa tábua com um zíper talhado em madeira. A criatividade, ali, é o limite, e a natureza, a principal inspiração.

Serviço

Torneado a mão – Design em Madeiras dos de Pol
Encomendas: pelo WhatsApp 41 99536-3604 (Antônio) ou por e-mail designmadeiras.pol@gmail.com
Redes sociais: Instagram @torneado_a_mao e Facebook @artedepol

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