Não vacile!

Mortes por covid-19 caem em Curitiba, mas ainda é muito cedo pra comemorar

Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

Em Curitiba, a quantidade de casos diários de covid-19 tem ficado estável neste mês de setembro. Análise da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da Universidade Federal do Paraná (UFPR) demonstra que não só Curitiba, mas todo o Paraná tem apresentado estabilidade no número de casos. Quinta-feira (21), por exemplo, o estado teve o menor número de infectados desde o mês de junho, com 601 casos. Além disso, as mortes demonstraram queda em Curitiba.

Porém, mesmo com esses indicadores, o presidente da comissão da UFPR, o bioquímico Emanuel Maltempi, diz que ainda é preciso cautela. “Não podemos comemorar precipitadamente”, enfatiza.

Enquanto que o número de novas mortes diárias ficou na média de nove nos últimos 20 dias, a quantidade de novos casos diários em Curitiba tem se aproximado de 400, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde em setembro. Para Maltempi, a estabilidade com média de 400 novos casos por dia é muito alta. “A qualquer descuido, podemos ter um crescimento exponencial da doença”, avalia o pesquisador.

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Setembro iniciou em bandeira amarela de alerta para o coronavírus. Mas a partir do dia 4, a cidade voltou para a bandeira laranja, com regras sanitárias mais rígidas, incluindo o fechamento de setores econômicos. Curitiba apresentou certa estabilidade da doença no início de agosto. Foi quando em 17 de agosto a prefeitura decidiu a troca da bandeira para laranja, com restrições mais brandas de funcionamento do comércio. A atitude foi vista por especialistas como precipitada e o aumento dos casos nas semanas seguintes fez a prefeitura voltar atrás. A partir de 4 de setembro, a bandeira laranja com mais restrições voltou a vigorar.

“É preciso elogiar o posicionamento da prefeitura. No momento em que notaram que houve repique no número de casos, imediatamente voltaram atrás. E é isso que precisamos, não ter medo de voltar atrás, de restringir quando for preciso”, analisa o presidente da comissão de combate à covid-19 da UFPR. 

Neste momento, na visão de Maltempi, a cidade apresenta estabilidade, porém com leve tendência para queda. No entanto, estamos preparados para poder voltar à bandeira amarela, com mais flexibilidade?

“Tenho a impressão de que é bem possível que os números estejam abaixo da classificação da bandeira laranja. Mas para evitar um aumento de casos novamente, o ideal seria esperar mais uma semana para uma mudança de bandeira”, avalia o professor.

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De acordo com Maltempi, os próximos meses deverão apresentar declínio lento no número de casos. “Acho que até é possível dizer agora que o pior já passou, eu quero acreditar que o pior já passou. Mas ainda temos três meses pela frente até o final do ano. Passamos por uma catástrofe humana, muito maior que a econômica. Até dezembro, eu acredito que vamos passar das 200 mil mortes no Brasil. São quase 200 mil famílias atingidas, uma catástrofe humana sem proporções”, avalia. 

Duas hipóteses para a queda de mortes

Desde o início da pandemia, a maior preocupação das autoridades de saúde é conseguir dar assistência médica e hospitalar a todas as pessoas infectadas, mantendo o controle da doença da melhor maneira possível, no equilíbrio entre distanciamento social e funcionamento da economia. Como a doença é recente, os médicos aprenderam como lidar com os sintomas graves da covid-19 gradativamente nos últimos seis meses. 

Ao comparar a relação de casos versus número de mortes, pode-se dizer que a covid-19 está fazendo menos vítimas atualmente – embora a doença ainda seja um risco a todos, independente da idade e condições de saúde. De acordo com o professor Emanuel Maltempi, os médicos aprenderam que quanto mais cedo iniciar o tratamento, mais chances de sucesso.

“Tratamentos com corticoides, anticoagulantes, estão bem estabelecidos. Do início da pandemia para cá, o tratamento da doença evoluiu muito. A hipótese para a queda do número de óbitos pode ser essa”, aponta.

Existe também uma outra possibilidade para a queda de mortes, relacionada ao grupo de pessoas mais infectadas nos últimos dias. “É possível que o decréscimo de óbitos seja porque há mais jovens infectados. Como a letalidade do vírus é menor em adultos entre 20 a 40 anos, o número de óbitos é outro. Esse pode ser o motivo da queda”, explica.

Se expor ao vírus “é uma grande tolice”

Com a hipótese de mais jovens infectados pelo novo coronavírus, há o risco de que esse grupo que tem apresentado menos casos de complicações estar se expondo mais ao vírus. Nos fins de semana, aglomerações de jovens tem sido frequentes em bares e passeios ao ar livre.

O discurso de parte da juventude é contrair logo a covid-19 para garantir imunidade. Mas o presidente da comissão de combate à covid-19 da UFPR faz um alerta aos jovens: esse raciocínio é uma grande tolice.

“Isso expõe toda a comunidade. A gente sabe que existe uma porcentagem de pessoas que não sabe que pegou o vírus. Então se expor dessa forma expõe a comunidade de uma forma geral. Segundo ponto: letalidade menor não quer dizer letalidade zero. Nunca se sabe se você tem algum fator para desenvolver a forma grave da doença. Pensar em contrair logo a covid-19 é totalmente ilógico. Você pode estar expondo a pessoa que você ama sem saber”, alerta o professor. 

Enquanto a vacina ainda não está disponível, é preciso continuar convivendo com o risco da doença. “As pessoas estão incorporando o risco covid como um risco diário. O coronavírus é uma coisa nova, que aumentou o risco de morte. É como um risco de ser atropelado, de ser assaltado. É preciso se precaver e incorporar na rotina”, explica. Por isso, é tão importante seguir com uso de máscaras, distanciamento social e higiene das mãos. Três práticas que devem ser seguidas juntas, sem exceção.