O Laboratório de Bioensaios de Segurança e Eficácia de Produtos Cosméticos (Labsec), vinculado ao Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), passou a produzir modelos de pele humana artificial para testes de dermocosméticos. O laboratório, localizado em Curitiba, desenvolve um método alternativo para avaliar a capacidade de os produtos atravessarem a pele, conhecido como ensaio de permeação cutânea.
A iniciativa integra uma parceria tripartite entre a UFPR, a Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar) e a empresa brasileira de dermocosméticos Creamy Skincare. Coordenado pela professora Daniela Maluf, o projeto utiliza pele humana descartada de cirurgias realizadas no Hospital Nossa Senhora das Graças, respeitando todos os protocolos éticos e técnicos exigidos.
Para preservar a viabilidade do tecido, a equipe do Labsec fornece ao hospital meios específicos de cultura e transporte. A partir da chegada do material ao laboratório, tem início a etapa de dissociação celular.
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“Primeiro realizamos uma fragmentação mecânica com bisturi. Em seguida, aplicamos tratamentos enzimáticos e centrifugações para separar queratinócitos, fibroblastos e outras células. Depois disso, elas são transferidas para meios de cultivo específicos, onde podem se proliferar”, explica Daniela.
As células cultivadas são então multiplicadas e aplicadas em uma matriz em gel com o auxílio de uma bioimpressora 3D. Trata-se de um processo complexo, que exige impressão tridimensional precisa e o desenvolvimento de uma biotinta capaz de sustentar a vida celular.
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“A biotinta reúne componentes como colágeno, ácido hialurônico, fatores de crescimento e outros elementos que garantem suporte para que as células se proliferem dentro dessa matriz”, detalha a coordenadora.

Diferentemente dos modelos de pele artificial já disponíveis no mercado, o produto desenvolvido pelo Labsec busca manter as células vivas e funcionais, atendendo a exigências específicas da Creamy. O objetivo é criar um modelo que reproduza, de forma mais fiel, as características da pele humana real, ampliando a precisão dos testes laboratoriais.
Estratégia e avanço tecnológico
Além de atender à legislação que proíbe testes em animais para cosméticos, a iniciativa representa um avanço tecnológico para a empresa. “Além de substituir testes em animais, esse avanço deve acelerar o desenvolvimento de produtos, ampliar a capacidade de inovação e oferecer ainda mais segurança ao consumidor. É também uma oportunidade de fortalecer a pesquisa nacional e abrir caminho para cosméticos mais sustentáveis e tecnologicamente avançados”, afirma Luiz Romancini, médico dermatologista e cofundador da Creamy.
No modelo adotado, a empresa é responsável pelo financiamento da pesquisa, enquanto a professora e suas alunas conduzem a parte científica. Já a Funpar atua na gestão dos recursos. Desde o início da parceria, em 2023, a Creamy tem adquirido insumos, equipamentos, oferecido bolsas de pesquisa e garantido todos os recursos financeiros necessários para o desenvolvimento do projeto. A exclusividade sobre o produto final permanece com a empresa.
A previsão é que o modelo de pele artificial esteja pronto para uso em maio de 2026. Após a conclusão, caberá à Creamy decidir se o produto será disponibilizado à Rede Nacional de Métodos Alternativos (Renama) e ao Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), etapa que pode viabilizar sua futura comercialização.



