Uma lenda viva!

Ídolo do Coxa, Aladim completa 79 anos com legado de gênio muito além dos gramados

Ex-jogador do Coritiba, Aladim
Na foto, o ex-jogador Aladim e os filhos, André e Elisangela. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Aposentado dos campos, do plenário e, mais recentemente, do balcão, hoje, aos 79 anos, Aladim Luciano, um dos ídolos do Coritiba, vive uma fase da vida menos agitada, comparada há tantas outras que já passou. Com riso solto, cabelos grisalhos e uma mente extremamente lúcida, Aladim prova que suas infinitas versões ainda o acompanham através da memória.

Apesar de não ser “da gema”, Aladim é uma personalidade de Curitiba. Carrega no coração a passagem por um dos times da capital paranaense, já foi vereador da cidade e também experimentou a vida de empreendedor, quando abriu uma panificadora há 40 anos – negócio que ainda segue na família.

Hoje o ex-jogador, ex-vereador e antigo empreendedor organiza a agenda pensando no horário de buscar os netos na escola ou em algumas consultas médicas já agendadas. Apesar da vida pacata, ele segue sendo aquele menino apaixonado por futebol. Não é a toa que, se tem Coritiba jogando, tem Aladim no Couto Pereira prestigiando o time, faça chuva ou faça sol.

Por causa de um erro de registro, os documentos o tornam 15 dias mais novo, mas Aladim garante que nasceu em 25 de setembro de 1946, em Barra Mansa, no Rio de Janeiro. Esperto e considerado o “menino mais lindo da parada”, segundo brinca o próprio ex-jogador, ele se recorda da infância com muito carinho.

O ex-atleta é um dos mais novos, entre sete irmãos. O irmão mais velho do carioca também foi jogador profissional e atuou no Vasco. Ele conta que o futebol sempre esteve presente na sua vida. “Se não tinha bola, chutava pedra”, conta.

Além da inspiração dentro de casa, ao lado da escola municipal em que frequentava quando criança havia um local em que diferentes times do estado jogavam em amistosos. Dos 12 aos 16 anos, sua rotina se resumia a sair do colégio e treinar na categoria infantil do time Barra Mansa, onde o sonho começou virar realidade.

Além de jogador do Coritiba, Aladim foi vereador de Curitiba e proprietário de panificadora. Fotos: Arquivo Pessoal

Ainda antes dos 18 anos, Aladim foi convidado para jogar uma partida contra a Seleção da Marinha. O jogador mostrou o talento que tinha a ponto de chamar a atenção de João Havelange, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na época.

Segundo ele, Havelange tinha ligação com o Fluminense e falou para ele se apresentar no time. Porém, o ex-jogador negou a proposta. Nesse meio tempo, foi chamado para ir para o Bangu. Pelo time, consagrou-se campeão carioca de 1966, aos 20 anos. “Foi a coisa mais maravilhosa que poderia acontecer na minha vida”, recorda.

Em outubro de 1970, foi vendido para o Corinthians e, ao ser emprestado pelo time ao Coritiba, em 1973, descobriu uma paixão que não teve fim.

Aladim tem coração paranaense

Quando criança Aladim torcia para o Vasco, pois o pai era vascaíno. Com o início da carreira no Bangu, o time ganhou um espaço especial no coração do jogador.

No Paraná, ele teve passagens rápidas pelo Athletico Paranaense e no antigo Colorado. Porém, diante de tamanhas vitórias pelo Coritiba, até hoje garante que o coração é alviverde. “Fomos campeões [Coritiba] do Torneio do Povo, aí fomos tricampeões paranaense, em 1974 fomos tetra, em 1975 fomos penta e em 1976 fomos hexa”, relembra.

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Aladim em frente a mural de lembranças que tem dentro da panificadora da família. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

A conexão do ex-jogador com o estado é antiga e começou ainda no começo da carreira. Ele comenta que a primeira viagem de avião foi justamente a Curitiba, para uma partida entre Bangu e Ferroviário, em 1967. Na época, se hospedou próximo ao Teatro Guaíra, no Centro da cidade.

Por coincidência (ou obra do destino), anos mais tarde, ao ser emprestado ao Coritiba, ele retornou a capital e morou por um ano no mesmo hotel até se estabelecer definitivamente na cidade com a família.

Aposentadoria das chuteiras: a primeira ‘pausa’ de Aladim

Em 1985, aos 39 anos, o jogador decidiu aposentar as chuteiras. Na época, ele tinha dois filhos e estava casado há nove anos. Ele revela que a aposentadoria foi uma resposta aos pedidos que o próprio corpo fazia. Desde essa época, Aladim lida com uma artrose no joelho esquerdo que até hoje dificulta seu modo de andar.

A ideia de ficar parado provocou uma “necessidade urgente” de encontrar um novo desafio profissional. A princípio, Aladim pensou em abrir uma lanchonete. Porém, apesar de gostar de uma “cervejinha”, não tinha interesse em mexer com bebidas alcoólicas.

Dessa forma, a ideia de abrir uma panificadora foi tentadora. Por isso, no momento em que guardou as chuteiras, Aladim abriu as portas do próprio negócio, no endereço que segue o mesmo há 40 anos: Av. Pref. Erasto Gaertner, número, 2335, bairro Bacacheri e que leva o mesmo nome dele.

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Aladim é conhecido por oferecer balas aos clientes e moradores da região. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Carreira política de Aladim foi por acaso

No início dos anos 2000, Aladim se lançou na política. Ao ser questionado sobre o motivo de ser candidato e eleito vereador de Curitiba, ele responde que é uma “bela pergunta”, pois tudo começou por acaso.

De acordo com ele, a ideia surgiu a partir do convite de um amigo que já era vereador pelo Partido da Frente Liberal (PFL), o mesmo do prefeito da época eleito em 2000, Cássio Taniguchi.

“Marcaram um encontro e, em uma bela tarde, estava eu de bermuda e chinelo. Não imaginava que o prefeito estaria lá e ele chegou de terno e gravata. Eu não sabia onde enfiar a cara. Papo vai, papo vem, me trataram maravilhosamente bem, acabei assinando lá”, conta.

Depois de ter se filiado ao PFL, o Partido Verde (PV) procurou Aladim. Em mais uma reunião de bermuda e chinelo, o ex-jogador se sentiu mais confortável em tentar uma cadeira pelo PV.

Ele conseguiu ser desfiliado do PFL e foi eleito vereador pelo PV. Segundo Aladim, a campanha foi a mais simples possível, com santinho feito à mão, entregue no caixa da panificadora. “Foram uns 4.174 votos, mas eu esperava mais, esperava uns 10 mil, o olho é grande, né?”, brinca.

Aladim se manteve como vereador de Curitiba por três mandatos, eleito em 2004, 2008 e em 2012. Ele diz que a experiência foi ótima, mas com o tempo, apareceram “coisas obscuras” que ele não quis descobrir e preferiu se retirar. “Como jogador ou como político, fui mais cobrado como político. Jogar depende só da gente, a política não”, afirma.

Legado passado de geração

Aladim é pai de três: dois homens e uma mulher, e avô de cinco netos. Para Elisangela Luciano, a filha do meio, o pai é sinônimo de simplicidade e alegria.

André Luciano, o caçula dos três irmãos, conta que o pai é uma grande inspiração para todos pelo seu jeito de ser, não só pelo talento que o tornou conhecido. “Eu nasci um ano depois que ele parou de jogar, então, até hoje procuro vídeos para conseguir ver ele jogando. Gosto de futebol por causa dele”, revela André.

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Aladim ao lado dos filhos André (à esquerda) e Elisangela (à direita). Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

São poucas as lembranças dos filhos de quando Aladim jogava, pois na época eram muito pequenos. Porém, o legado deixado por ele a partir da memória dos que acompanharam todas as trajetórias é o que move a família a manter o negócio criado por ele e a esposa, Elisa Biancalana Luciano.

Desde 2020, durante a pandemia da covid-19, o ex-vereador deixou de tocar a panificadora Aladim. Há cinco anos, os filhos tomam conta de 100% do negócio.

Para André, apesar de ser um desafio, é gratificante fazer parte de toda a história do local. O caçula relembra até de uma foto que ele tem quando ainda era um bebê de colo dentro da panificadora.

“Não tem como tirar daqui essa essência que é dele também, que é um negócio familiar. Para nós como família, mas que se estende para o cliente e aos funcionários”, destaca André.

Atualmente, o estabelecimento conta com 17 funcionários. Ao menos cinco, já passam de 20 anos de casa. Segundo Aladim, a panificadora já aposentou muitos colaboradores.

Para Elisangela, cuidar de um negócio com tamanho valor é uma grande responsabilidade. “Tem o nome dele, a importância que ele representa para Curitiba, então tentar manter o legado para os nossos filhos e netos é desafiador”.

A filha afirma que não tem como ser como o pai, visto que “ele é uma lenda”, mas a família garante que faz o melhor para manter a essência do que ele ensinou: sempre com caráter e focado na fidelidade ao cliente. “Todo dia eu tento me inspirar nele para que os clientes saiam satisfeitos daqui”, diz Elisangela.

Diante de tamanha dedicação dos filhos e da união da família, Aladim diz que não tem palavras para agradecer a Deus pela vida que tem. Ele garante que realmente não é fácil manter um negócio consolidado, mas torce para que os filhos sejam felizes no que fazem.

“Só desejo que eles sejam felizes, não sou muito exigente. Eu mesmo não me arrependo de nada, faria tudo de novo”, finaliza.

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