Um crime de difícil combate, silencioso e pouco resolvido. Os furtos de fios/cabos e alumínios em geral estão deixando comerciantes de Curitiba assustados e com prejuízos na conta. Esse tipo de furto não é novidade, mas, com a pandemia do coronavírus associada à crise financeira, uma onda de incidência se alastrou por inúmeros bairros de Curitiba, o que tem tirado o sono de muita gente.
Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), os números apontam que de janeiro a maio deste ano, foram 1077 casos de ocorrência de furto de fiação elétrica em Curitiba. Em 2020, foram 1816 situações, ou seja, em apenas cinco meses de 2021, já foi registrado 59,30% da temporada passada.
Délio Canabrava, 50 anos, empresário do ramo gastronômico de Curitiba, e morador do Alto da XV, acredita que os responsáveis estão fazendo a limpa na cidade. Fios, cabos, portão, grades, bueiros e panelas não escapam dos criminosos.
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“Eles estão levando tudo que é metal, vai de portão, grades, tampas de bueiros e cestas de inox. Fiação é só esperar o dia que vai sumir. Já tivemos um caso que deixamos uma panela com óleo quente esfriando e a pessoa levou, mas antes jogou o óleo no chão”, disse Délio, proprietário do restaurante Cantina do Délio, e ex-presidente do Conselho Comunitário de Segurança Pública (Conseg) Alto da XV.
Irrita com os prejuízos (não só da pandemia, mas também dos crimes), Délio já chegou, inclusive, a anunciar em julho do ano passado à Tribuna a doação de um dos bares que tinha no Alto da XV. Relembre o caso!
Outro que passou por apuros foi Marcelo Freitas, responsável pelo restaurante The Mar’s Beer and Food, no bairro Bacacheri. Em decorrência do furto de fiação na semana passada, ele teve um prejuízo acima de R$ 3 mil.
“Se eu levar em consideração que não abri no dia seguinte do furto, queimou uma câmara fria e ainda consequências do fato, o prejuízo é ainda maior . Além disso, a gente tem mais trabalho para fazer a oficialização do acontecido, pois o sistema da Polícia não é integrado. A gente sabe que são as mesmas pessoas, pois verificamos nas câmeras de segurança. São usuários de drogas que furtam pequenas coisas como cadeados”, comentou Marcelo.
O furto de cabos de energia gerou prejuízo também aos cofres públicos. Em 2019, a prefeitura de Curitiba gastou R$ 50 mil em fiação para substituir o material levado de ruas, parques e praças. Os dados são do Departamento de Iluminação Pública da Secretaria Municipal de Obras Públicas. Em 2020, os dados não foram oficializados.
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O esquema!
As pessoas que cometem o crime buscam o cobre, elemento químico utilizado para a produção de materiais condutores de eletricidade (fios e cabos), e em ligas metálicas como latão e bronze. Desde o ano passado o cobre mais que dobrou de preço, diante da valorização do dólar, somado à escassez no mercado e alta demanda.
As ocasionais prisões de indivíduos com algumas quantidades de fios são apenas a ponta de um iceberg do crime, passando também por grupos especializados, receptadores e donos de lojas que compram o material sem comprovação de origem.
Uma das grandes dificuldades que as autoridades de segurança enfrentam é que o material quando subtraído, é dificilmente identificado. Segundo a Polícia Civil do Paraná (PCPR), nos casos de furto de cabos de energia, após o registro da ocorrência, a PCPR realiza uma verificação preliminar de procedência, onde são colhidas informações sobre a procedência da notícia-crime e também elementos indispensáveis à instauração do inquérito. Nele são verificados indícios mínimos de crime e também da possível autoria.
Constatada a existência de crime, inicia-se a investigação e após a conclusão, via de regra, os envolvidos são indiciados por crime de furto, com pena prevista de 1 a 4 anos e multa. Enquadrando-se em uma das possibilidades do furto qualificado, tais como destruição ou rompimento de obstáculo, abuso de confiança, fraude, escalada ou destreza, com emprego de chave falsa ou mediante o concurso de duas ou mais pessoas, a pena pode chegar a 2 a 8 anos de reclusão, acrescida também de multa.
Apesar da Lei, poucos ficam presos por muito tempo. Na última semana, 20 pessoas foram presas em flagrante por furto de energia elétrica em Pontal do Paraná, litoral do Estado. Doze homens e oito mulheres invadiram um terreno público municipal para levarem a fiação. Seis das oito mulheres pagaram fiança e responderão pelo delito em liberdade.
Como coibir esse crime
Alguns empresários tentam esconder ao máximo itens dos seus estabelecimentos. No entanto, como a fiação está na rua, o problema passa a ser público. Alex Dallagnol, 50 anos, proprietário do restaurante japonês King Temaki, no bairro Batel, quase teve o comércio incendiado por uma atitude radical de um criminoso.
Uma pessoa chegou a cortar uma lona para pegar uma haste, e não satisfeito botou fogo na lona. “A sorte que uma vizinha percebeu e acionou os bombeiros. O prejuízo foi razoavelmente grande apesar do seguro. Eu mesmo tirei os televisores dos restaurantes para evitar furtos ou roubos. Acredito que deveria existir um apoio técnico da Copel para buscar uma solução”, sinalizou Alex.
A reportagem da Tribuna do Paraná procurou a Copel e foi informada que grande parte da fiação furtada não é administrada pela empresa, e sim de responsabilidade de quem faz a instalação elétrica. Esse furto de entrada de serviço do cliente são as caixas que são destruídas e os fios são queimados para se transformar em cobre.
Flagrou? Denuncie!
Caso verifique o furto de fios/cabos e alumínios em geral, a principal orientação é ligar para a autoridades policiais. O telefone da Guarda Municipal é o 153, e o da Polícia Civil ( Divisão de Crimes Contra o Patrimônio – Delegacia de Furtos e Roubos) é o 3218-6100 .