Tragédia

Funcionários não conheciam o risco de trabalhar com impermeabilização

Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Os funcionários da Impeseg, empresa responsável pela impermeabilização do sofá que teria causado a explosão em um apartamento no bairro Água Verde, em Curitiba, no último sábado (29) afirmam em depoimento à Polícia Civil que não sabiam que o produto usado era altamente inflamável. Um deles diz que chegou a fumar dentro do carro enquanto levava o material até a casa de um cliente. A explosão causou a morte de um menino de 11 anos e ferimentos graves em outras três pessoas que seguem internadas.

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Em depoimento à Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (Deam), da Polícia Civil, o supervisor de serviço Heverton Gesse da Costa Skau, de 24 anos, disse que a empresa não fornecia os equipamentos de proteção individual (EPI) e que não havia nem mesmo treinamento para a aplicação do produto.

Skau foi contratado 15 dias antes do acidente para cuidar de toda a parte operacional do serviço e supervisionar os demais funcionários. Ele afirma que nem sequer sabia direito como a aplicação era feita. Conforme declarou à polícia, foi o aplicador Caio Santos, um dos feridos na explosão, quem ensinou como o sistema funcionava. Ainda de acordo com o supervisor, em momento alguns os donos da empresa, o casal Bruna Formankuevisky Lima Porto Correa e José Roberto Porto Correa, falaram sobre riscos.

“O máximo de alerta que fizeram para a gente era que o cheiro do produto era forte”, disse Skau à Gazeta do Povo. “Ainda na sexta-feira [21 de junho, uma semana antes da explosão], antes de eu sair com o Caio, perguntei se podia fumar dentro do carro com o produto dentro e ele disse que era para ficar à vontade”, afirma.

Segundo Skau, ninguém além dos donos da Impeseg sabia quais eram os produtos usados para a impermeabilização dos sofás. O supervisor conta que a empresa não fornecia as notas fiscais do material, que era guardado sem rótulos de identificação em uma sala do lado do refeitório.

Além disso, Skau diz que foi contratado para supervisionar as impermeabilizações mesmo sem possuir curso técnico em segurança do trabalho. Antes de ir para Impeseg, ele trabalhava em uma rede de restaurantes de Curitiba.

“Eu era supervisor e fiz um curso de bombeiro na Cipa”, conta Skau, em referência aos treinamentos oferecidos pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) de seu antigo trabalho. “Toda a experiência que eu tenho na área de supervisão, gestão administrativa e operacional e EPI veio de lá”, ressalta.

+Leia mais: Saiba como funciona equipamento que pode ter causado explosão em apartamento

Falta de equipamentos

Ainda no depoimento, o supervisor disse que, após o acidente no apartamento, recebeu uma ligação da dona da empresa, Bruna Formankuevisky Lima Porto Correa, pedindo para que dissesse que a Impeseg fornecia todos os EPIs necessários para o serviço. No entanto, segundo ele, a realidade era bem diferente disso.

Segundo Skau e outros funcionários ouvidos pela reportagem, a empresa tinha somente uma única máscara de proteção contra produtos químicos para todos os 11 técnicos que faziam os serviços de impermeabilização. Além disso, faltavam luvas, botas e óculos de proteção.

“Quando cheguei na empresa, comecei a pressionar para a compra de material de EPI e eles falaram que o foco não era isso, que o foco era a expansão da empresa e que somente depois viria esse aprimoramento”, conta o supervisor.

A reportagem procurou nesta sexta o advogado do casal dono da Impeseg, Roberto Brzezinski, mas não conseguiu contato. No escritório do advogado, foi informado que ele estaria viajando. A reportagem tentou contactá-lo pelo celular, mas não obteve sucesso.

Brzezinski acompanhou os donos da empresa no depoimento à Deam terça-feira (2). Na oportunidade, ele disse que as instruções de segurança e o método de aplicação foram ensinados e que as declarações por parte do supervisor são infundadas.

De acordo com o advogado, com apenas 11 dias de empresa ele não teria conhecimento sobre os procedimentos adotados na Imperseg.

Feridos

Além do aplicador, segue internado o casal que mora no apartamento, todos no Hospital Evangélico Mackenzie.

Caio Santos teve 65% do corpo queimado e está em estado grave na UTI. Raquel Lamb, 23 anos, é irmã do menino que morreu e teve 55% do corpo queimado. Ela também está em estado grave na UTI. O marido de Raquel, Gabriel Araújo, 29 anos, teve 30% do corpo queimado, mas fora UTI.

De novidade do quadro clínico, Caio e Raquel deixaram de respirar por aparelho nesta quinta-feira (4).

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