Pandemia covid-19

Empresários e trabalhadores de eventos e restaurantes protestam em Curitiba; setor pede ressarcimentos

Protesto do setor de eventos em Curitiba
Uma noiva vestida de preto simbolizou o "luto" e os prejuízos dos trabalhadores de eventos de Curitiba. Foto: Átila Alberti /Tribuna do Paraná

Cerca de 250 pessoas entre empresários e funcionários dos setores de alimentação fora do lar, hospitalidade e promotores de eventos fazem uma manifestação na tarde desta quarta (24), em Curitiba, pedindo a reparação dos gastos que tiveram nos últimos 11 meses de pandemia. A caminhada, com faixas, cartazes e um carro de som, saiu da Praça 19 de Dezembro, no Centro Cívico, em direção à prefeitura e ao Palácio Iguaçu.

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A mobilização foi organizada para mostrar aos governos estadual e municipal como os setores foram afetados pelos decretos sanitários que restringiram o funcionamento dos estabelecimentos, e provocaram a falência de 40% dos bares, 30% dos restaurantes, 75% das casas noturnas e 80% das empresas de eventos no estado.

O fechamento definitivo de parte considerável do setor provocou a demissão de cerca de 90 mil pessoas entre trabalhadores formais e informais no Paraná ao longo de 2020, sendo 30 mil só na capital. Em âmbito nacional, a Associação Nacional de Restaurantes (ANR) estima em mais de um milhão de desempregados entre formais e informais.

Segundo Nelson Goulart Junior, presidente da seccional paranaense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR), a manifestação contesta os decretos da prefeitura que limitam o atendimento nos estabelecimentos.

“Não é para pedir para reabrir ou baixar as restrições, até porque os restaurantes já estão abertos, mas para a reparação das perdas destes meses todos. O transporte coletivo teve a reparação monetária pela falta de passageiros, receberam uma compensação a fundo perdido da prefeitura, não vão precisar pagar. Já nós não tivemos reparação alguma”, explica.

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Da mesma opinião é o presidente da Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), Fábio Aguayo. Ele considera a caminhada desta tarde como um desabafo do setor.

“A situação é de calamidade, temos 90% dos estabelecimentos endividados, uma programação de retomada só em 2023, mas muitas empresas não têm mais condições de pagar tributos ou contas de água, luz, e nem de gerar caixa operando com tantas restrições, como horários e atendimento reduzidos. É impossível manter um negócio assim”, analisa.

Incoerência

A parada da caminhada na prefeitura terá a entrega de uma carta com o apelo e demandas dos setores ao secretário de governo municipal, Luiz Fernando de Souza Jamur (veja mais abaixo). No documento, as entidades apoiam as medidas de contenção ao coronavírus implantadas na capital do estado, mas criticam o que avaliam como “incoerência de decisões”.

“Sempre que solicitamos operar dentro das regras de prevenção, nos foi negado trabalhar alegando-se o princípio do bem comum e da precaução. Acolhemos resignadamente estes argumentos. Mesmo nossos setores tendo sido os primeiros a propor protocolos rígidos, e não diferirem, substancialmente, em se tratando de ‘aglomeração’, do transporte coletivo por exemplo”, diz trecho da carta.

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Essas restrições das atividades ligadas ao atendimento ao público provocaram uma quebra não só de empregos, mas em toda uma cadeia produtiva segundo Aguayo.

“Somos uma importante atividade econômica, nós beneficiamos uma cadeia econômica produtiva desde o produtor no campo, na cidade nós ajudamos nos estacionamentos, postos de combustíveis, todos se beneficiam da nossa existência. E é isso que queremos do poder público, esse reconhecimento da nossa importância, ter essa reparação e valorização”, explica.

A mobilização das entidades chegou até mesmo à Câmara Municipal, onde o vereador Alexandre Leprevost (Solidariedade) fez um apelo na sessão plenária para que se busquem alternativas de fortalecimento aos setores afetados pela pandemia.

“Algumas das vezes que se solicitado autorização (sic) para o trabalho, estes segmentos tiveram negadas as possibilidades com a alegação de princípio do bem comum e de preocupação, sempre sendo acolhidos estes argumentos. Os próprios segmentos estão, por todo esse período, propondo protocolos rígidos que, sinceramente, comparado com ônibus cheios, estão à frente na preocupação com os cuidados com o Covid”, disse.

Na noite desta terça (23), o prefeito Rafael Greca afirmou em um comentário em uma rede social que “a bandeira deve mudar. A pandemia não acabou”, mas sem detalhar o que será reavaliado. A secretária municipal de saúde, Márcia Huçulak, afirmou que Curitiba está “a frente de uma nova onda [de Covid-19], provavelmente a terceira onda”.

“Se está vindo uma terceira onda e os bares estão fechados, então não são os bares que estão transmitindo diretamente o vírus. São vários outros fatores que estão envolvidos”, disse Gustavo Grassi, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Gastronomia, Entretenimento e Similares de Curitiba (Sindiabrabar), que representa diretamente o setor de bares da capital paranaense. Os estabelecimentos estão proibidos de operar nesta categoria de alvará.

Carta aberta

Veja o que diz a carta de apelo que as entidades entregarão à Prefeitura de Curitiba durante a mobilização desta tarde:

“Aos cidadãos de Curitiba.

Caminhada por reparação.

Primeiramente pedimos a Deus que conforte os corações daqueles tantos que tiveram em suas famílias uma vida retirada por esta terrível doença. Queremos também pedir a Ele que ilumine e proteja nossos heróis e heroínas da saúde de nossa Curitiba.

Nossa caminhada não é pela reabertura, é pela justa reparação.

Alguns setores estão há 11 meses sem poder trabalhar, outros enfrentam restrições tão severas que inviabilizam sua operação. As demissões em eventos, hotéis, agências de viagem, restaurantes e bares, ultrapassam 12.000 pessoas em nossa cidade.

Sempre que solicitamos operar dentro das regras de prevenção, nos foi negado trabalhar alegando-se o princípio do bem comum e da precaução.

Acolhemos resignadamente estes argumentos.

Mesmo nossos setores tendo sido os primeiros a propor protocolos rígidos, e não diferirem, substancialmente, em se tratando de “aglomeração”, do transporte coletivo por exemplo. Ao contrário, eventos, como um casamento têm controle de presença, medição de temperatura, higienização, distanciamento entre mesas (todas com álcool gel), proibição de pista de dança, máscara durante todo o tempo em que estiver de pé, etc.

Fomos obrigados a aceitar que somos diferentes e que temos de nos sacrificar mais que outros setores pelo bem e a saúde da comunidade de nossa querida cidade.

Mas, já que não pode haver justa igualdade na distribuição do ônus da grande crise ocasionada pela Covid 19, que haja REPARAÇÃO pois, mesmo proibidos por decreto de funcionar, continuaram as faturas de aluguel, de impostos como IPTU, de luz, de condomínio, de folha de pagamento dos funcionários com estabilidade do decreto 936 etc.

Se essa proibição ou severa restrição de funcionamento é do interesse da coletividade, que seja assim, a coletividade representada pelo poder público, que editou a norma que nos proíbe de trabalhar, de ganhar o pão, a nos fazer a justa reparação.

Normas que concorrem ao interesse da coletividade, necessitam mecanismos do poder público que obrigam a população a se comportar passivamente. Nesse caso deve-se obedecer. Entretanto não podemos negar que resistir é um direito reconhecido aos cidadãos em certas condições. A resistência é legítima em nossa condição quando a ordem que o poder impõe está divorciada da justiça.

ABAV-PR, ABEOC-PR, ABIH-PR, Abrabar, Abrasel, ACP, Sindabrabar, Sindhoteis, Sindiprom, Curitiba Convention & Visitors Bureau, Liga das Hamburguerias De Curitiba, Centro Europeu, Inspirar Gourmet, Família Camisa Preta, profissionais do setor de eventos sociais, infantis e correlatos.