Largo da Ordem

Em antiquário de Curitiba, raridade: Geraldo conta histórias em idioma até extinto

Foto: Gerson Klaina / Tribuna do Paraná.

O Antiquário Candelária fica no calçadão da Rua Mateus Leme, esquina com a Rua 13 de Maio, no Largo da Ordem, em Curitiba. É uma portinha de frente para o Conservatório de MPB de Curitiba, cheia de bugigangas antigas que ainda funcionam e itens de colecionador carregados de história. Aos sábados, dia da Feirinha do Largo, o antiquário “bomba” de gente. O dono do lugar, Geraldo Schaldach, 76 anos, é quem dá a magia ao espaço. Químico industrial aposentado, ele é bom de papo, fala seis idiomas, pega ônibus todos os dias para ir trabalhar e conhece em detalhe cada um das centenas de itens à venda no acervo. Até quem não está procurando nada acaba levando alguma coisa para casa.

Quando a equipe da Tribuna entrou no antiquário pedindo uma entrevista, a resposta veio em inglês. “Of course”, disse ele. Em português, na tradução, a resposta foi “é claro”. Feitas as apresentações, Geraldo contou que nasceu em União da Vitória, Sul do Paraná. 

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Descendente de imigrantes austríacos, ele fala cinco línguas, inclusive uma delas já é um dialeto extinto, o qual ele chamou de “hungarês”. “É uma língua morta. Eu aprendi o básico do hungarês com meus tios. Não se fala mais. Surgiu porque no Império Austro-Húngaro, naquela época, os austríacos falavam alemão e o húngaro falava húngaro. Para se entenderem, acabou surgindo a língua”, explica.

Além do inglês, do hungarês e do português, os outros idiomas dominados pelo dono do antiquário são o alemão, o italiano e o espanhol. O aprendizado foi possível por conta da vida profissional. Lá pelos 22 anos, Geraldo veio morar em Curitiba e se tornou aprendiz de cervejeiro na fábrica da Brahma, que ficava na Avenida Iguaçu.

“Fazer cerveja exigia conhecimento do alemão. Era um programa instituído pela empresa”, contou. “Os livros de fabricação eram todos em alemão. Uma coisa é sair cozinhando cerveja por aí, a outra é seguir padrões de qualidade em escala, ter domínio técnico, se especializar. O trabalho exigia um conhecimento aprofundado”, completa ele.

Depois da Brahma, veio a contratação pela Coca Cola, onde atuou no Paraná e Santa Catarina por oito anos. “Ali, era o inglês. Os supervisores vinham de fora. Tinham checklist pra tudo. Você tinha que saber o que estava acontecendo”, conta. 

O espanhol, esse veio das obrigações profissionais com os manuais de instruções. Aliás, Geraldo segue manuais até hoje. Na gaveta da sua escrivaninha tem um manual de antiguidades. Mas, pra ele, o que manda mais é a prática do negócio. “Você aprende muito com o tempo”, aponta.

O antiquário 

Faz cerca de oito anos que Geraldo se aposentou e decidiu investir no antiquário. A carreira como químico industrial foi longa. Passou pela Brahma, Coca Cola e foi prestador de serviço terceirizado. Ele lembra que, quando “se livrou do patrão”, viajou bastante por algumas cidades e estados. Em Embu das Artes (SP), se encantou com o que viu, com os artistas produzindo peças na hora, com o movimento, o comércio, e se imaginou entrando em um ramo semelhante.

“Nos finais de semana, cheguei a alugar até um chalé por lá. Pensei, vou ficar aqui. Puxa, isso me interessa. Já tinha decidido que, quando me aposentasse, o farol estaria voltado para esse lado”, revela.

O acervo do antiquário ele comprou do antigo dono, já falecido. O local funciona no mesmo endereço há 32 anos. “O fundador começou por um viés e foi evoluindo. Eu decidi comprar o inventário, organizar uma logística aqui dentro, de forma que o cliente circule e veja tudo. Já são oito anos fazendo negócios. E não é um hobby. É pra valer”, explica.

Geraldo detalha que possui um universo variado de produtos que vão lembrar o passado. Ele conta que muitos itens são adquiridos quando as pessoas trocam de casas. “Elas deixam coisas para trás. Paixões, momentos. O antiquário se beneficia disso. De certa forma, é o antiquário que se torna essa memória”, destaca.

Algumas peças que chegam para o inventário estão em perfeito estado, outras o tempo degradou. Para resolver qualquer problema, o antiquário tem um equipe de restauradores. “Os restauradores têm o felling, almoxarifado de peças, uma vocação para o restauro. As peças voltam a ser como se fossem compradas na época. Vão acabar sendo a paixão de outras pessoas. É uma continuidade. O processo se renova”, reflete.

No local tem de tudo. máquina de escrever, lustres, peças de Jeep, câmeras fotográficas, bolsas, malas, instrumentos musicais, quadros, louças, máquinas de costura, bicicletas. A exposição dos itens é uma confusão organizada para os olhos atentos dos clientes. É o lugar certo para quem gosta de compra e venda.

Pique para o trabalho

Aos 76 anos, a motivação para o trabalho parece não acabar. Geraldo pega ônibus todos os dias para chegar ao antiquário. De Santa Felicidade para o Centro. Na ida e na volta. Não quer nem saber de carro, só quando tem que transportar alguma coisa da loja. A folga é somente às segundas-feiras.

Ele é casado há 54 anos e têm três filhos formados na universidade. “Era um objetivo a ser alcançado: mandar todo mundo pra UFPR. Conseguimos”, orgulha-se. A esposa se aposentou como enfermeira.

“Sempre digo que todo o idoso deveria trabalhar aqui. A mente fica sempre alerta. Você tem que raciocinar, calcular, conversar. É a melhor coisa a se fazer para evitar que o Alemão te pegue”, receitou ele, referindo-se à Doença de Alzheimer.

O pique de vida não vem só do trabalho. Geraldo também pratica exercícios físicos para manter a saúde em dia.

A única reclamação é não ter com quem deixar a loja no futuro. “Não terei seguidores. Meus filhos têm as suas vidas. Você, por acaso, tem interesse em comprar a loja quando chegar a hora?”, brincou Geraldo, ao se despedir da equipe da Tribuna.

Serviço

Antiquário Candelária
Endereço:
 R. Mateus Leme, 85  – São Francisco
Horário de atendimento: de terça a sexta, das 9 às 18 horas; sábado e domingo, das 9 às 14 horas.
Telefone: (41) 99520-0756

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