Triste dia dos pais

Cortejo de sargento do Bope é marcado por muita emoção

Início do cortejo do sargento Matos, do Bope, baleado numa abordagem em Itaperuçu.

Muita emoção. Assim foi marcado o velório e os últimos momentos de despedida, neste domingo (14), ao sargento Wellington de Matos, que morreu no início da madrugada deste sábado (13), no Hospital Evangélico. O sargento, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Polícia Militar do Paraná, estava internado desde a última terça-feira (9), quando foi baleado na perna à queima-roupa durante uma tentativa de abordagem em Itaperuçu, na Região Metropolitana de Curitiba.

“Ele lutou muito durante todos esses dias. Os médicos também fizeram tudo o que estava ao alcance dele, mas foi um ferimento muito sério”, lamentou o tenente-coronel Hudson Teixeira, comandante do Bope. Segundo ele, ao perceberem a piora na recuperação do sargento, familiares e policiais mais próximos do militar foram chamados para se despedir. “Ele estava em coma, mas mesmo assim as pessoas mais queridas puderam dar esse último adeus e, pouco depois da meia-noite, ele acabou falecendo”.

A abordagem, que terminou com o sargento baleado, foi na Rua Edna Valente Cury, no Jardim Itaú. De acordo com a PM, Matos e equipe tentaram abordar Alan de Miranda, de 20 anos. Sem tempo de reação para os policiais, o rapaz abriu fogo contra os agentes. “O sargento foi socorrido ainda consciente e chegou a orientar a equipe sobre o que fazer e como proceder para tentar estancar o sangramento, mas depois só complicou”.

Devido à distância da cidade em relação a Curitiba, o PM foi perdendo os sentidos e chegou ao hospital inconsciente e entubado. De acordo com a assessoria de imprensa do Evangélico, Matos sofreu uma grave hemorragia. Isso porque ele foi atingido por um disparo de arma calibre 12, que acabou atingindo a veia femoral e a munição contava com uma esfera de rolamento que aumenta o potencial ofensivo. Mesmo após ter passado por uma amputação, não resistiu ao ferimento.

Cortejo do argento Matos, do Bope, baleado em Itaperuçu durante uma abordagem. Fotos: Gerson Klaina
Cortejo do sargento Matos, do Bope, baleado em Itaperuçu durante uma abordagem. Foto: Gerson Klaina

O destino dos bandidos

Encurralado após atirar contra os policiais, Alan tentou se esconder dentro de uma casa e trocou tiros com a equipe, mas acabou morto durante o confronto. Os familiares do rapaz ficaram indignados com a atitude dos PMs. Em desdobramento à tentativa de abordagem, os policiais conseguiram prender dois homens ainda no local do crime.

Com os detidos – o irmão e o padrasto de Alan –, foram apreendidos uma espingarda, uma pistola e um colete balístico. Os suspeitos e o material foram entregues à Polícia Civil de Rio Branco do Sul. Algumas pessoas já foram ouvidas sobre o caso e um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias do crime, mas os dois detidos já foram soltos pela Justiça.

A PM chorou

O sargento Wellington de Matos foi velado na capela da Associação da Vila Militar (AVM), no bairro Rebouças. Em silêncio, com lágrimas nos olhos e com as sirenes ligadas, os policiais seguiram em cortejo para o cemitério Jardim da Colina, em Colombo (RMC). O comandante da PM, coronel Mauricio Tortato, esteve presente e se manifestou apenas na cerimônia final. “Momento de dor. Muita dor. E nós temos o direito de nos emocionar. Mas as honras neste momento não são pela morte e sim pela vida deste policial, pelo trabalho que desempenhou”.

Foto: Divulgação/Polícia Militar.
Foto: Divulgação/Polícia Militar.

Para o comandante da PM, o momento serve como alerta não só para a corporação, mas também para que as autoridades de modo geral comecem a parar para pensar. “Os policiais dedicam suas vidas à sociedade e, neste cenário insano, têm que sobreviver. Estamos sozinhos, mas não perdemos a batalha”.

O sargento Matos tinha 34 anos e deixou esposa grávida de dois meses do primeiro filho do casal. “E ele se foi como um verdadeiro herói. Fazendo seu trabalho da melhor forma possível”, finalizou Tortato, seguido de uma salva de palmas em homenagem ao sargento. A despedida se findou com pétalas de rosas que foram jogadas do alto, pelo helicóptero da PM.

Legislação é falha

“Se aumentarmos o calibre das nossas armas, teremos uma guerra civil ainda maior do que já vivemos”, disse o secretário da segurança.

Rever a legislação é algo que tem se tornado cada vez mais importante e necessário em nosso país. Essa é a opinião do secretário da segurança pública e administração penitenciária do Paraná, Wagner Mesquita. “Nós passamos hoje por um momento muito crítico. Índices de violência estão cada vez maiores, principalmente por conta da quantidade de armas nas mãos dos criminosos”.

Para o secretário, os policiais têm desenvolvido seus trabalhos da melhor forma possível que conseguem, mas a Justiça não colabora. “Os policiais, por mais que se dediquem, esbarram em indivíduos que reincidem. São presos, mas voltam para as ruas. Nós continuamos investindo nos policiais, mas isso de nada vai adiantar se não fizermos uma reflexão com relação à legislação penal”.

Há 13 anos como policial, Wagner Mesquita considera que a entrada de armas pesadas no país tem sido algo fácil para os bandidos. “Antes, apreender um fuzil era uma coisa rara. Hoje é quase comum quadrilhas terem fuzil ou armas de maior calibre e enfrentam mesmo a polícia. Não temos só que melhorar a qualidade do armamento dos policiais, mas rever a legislação, que permite que esse armamento entre no país. Se aumentarmos o calibre das nossas armas, teremos uma guerra civil ainda maior do que já vivemos”, explicou.

Veja aqui a saída do cortejo no vídeo transmitido ao vivo pela Tribuna do Paraná no Facebook.