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Contra superlotação, Curitiba aposta em transporte coletivo elétrico

Curitiba tem um problema urgente para resolver: a superlotação do transporte coletivo em horários de pico. E um problema futuro: encontrar um sistema que continue servindo até 2030, quando a população deve estacionar em 4,5 milhões de habitantes, segundo as projeções. A prefeitura já falou muito sobre o metrô, que pode ser uma solução definitiva. Mas, pelo custo altíssimo de implantação, estuda o VLP (Veículo Leve sobre Pneus) e o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos).

A administração busca opções que aumentem a capacidade de passageiros e sejam ecológicas, ou seja, veículos 100% elétricos ou híbridos de elétrico com diesel. Estão em análise: o BRT (Bus Rapid Transit – o ‘azulão‘ biarticulado); o VLT/VLP; e o metrô. Com exceção do BRT, os outros são 100% elétricos, silenciosos, mais rápidos e não emitem poluentes. O BRT que existe é totalmente movido a diesel. Há um acordo de estudo com a Suécia para viabilizar um BRT híbrido. Todas as possibilidades estão sendo consideradas pela prefeitura e qualquer uma delas pode ser implantada na capital paranaense.

O secretário municipal de Planejamento e Administração, Fábio Scatolin, diz que o metrô não foi esquecido. Mas, diante da crise, está difícil conseguir formas de financiamento, já que é a possibilidade mais cara – começou com orçamento de R$ 4,7 bilhões e saltou para R$ 5,5 bilhões. Se a prefeitura conseguir remediar a superlotação nos eixos mais críticos com o VLT/VLP, o projeto do metrô deve ficar para mais tarde.

Custo x benefício

“Temos que analisar a quantidade de passageiros por hora em determinados eixos. No Norte-Sul (Cabral – CIC), por exemplo, transitam cerca de 20 mil pessoas por hora/sentido. A melhor alternativa para este eixo é o metrô, que pode transportar até 45 mil pessoas por hora/sentido. Um VLP/VLT não serviria, pois operaria quase no seu limite, que é de 25 mil passageiros por hora/sentido. Já no eixo Colombo-CIC, por exemplo, temos um fluxo de aproximadamente 10 mil pessoas por hora/sentido. Para este trecho, o metrô é um investimento alto demais. O VLP/VLT já seria adequado”, explica o secretário de Planejamento.

Já a ligação Santa Cândida-Pinheirinho talvez não possa receber o VLP. Segundo Scatolin, as vias estruturais por onde passam os ligeirões e BRTs (com as avenidas Sete de Setembro, João Gualberto e Paraná) possuem 65 intersecções com outras ruas. “Se colocamos um comboio de VLPs nestas ruas, o trânsito não anda. Os motoristas vão ficar muito tempo parados esperando a passagem dos comboios”.

O secretário acredita que após a implantação destes dois modais elétricos, talvez seja necessário apenas aumentar a frequência dos veículos, e não mais o tamanho dos vagões ou trocar por um sistema com maior capacidade.

Usar as canaletas ou não?

Curitiba já tem uma estrutura boa para comportar o VLP/VLT, que são as canaletas do expresso. Isso reduziria um tanto o custo de implantação do novo modal. Basta comprar os veículos elétricos e instalar o sistema de energia que vai abastecê-los, ou seja, o trilho no chão, no caso do VLT, ou as catenárias, que é a fiação elétrica por cima dos veículos, para o VLP. Esta é uma idei,a antiga do urbanista, ex-prefeito e ex-governador Jaime Lerner.

Segundo o secretário de Planejamento, Fábio Scatolin, ainda não está definido se os expressos e BRTs seriam substituídos por VLP/VLT, se compartilhariam as canaletas (já que os veículos elétricos não precisam de via exclusiva) ou seriam criadas novas rotas.

Quatro rotas estratégicas

A ideia prévia da prefeitura é criar quatro linhas de VLP/VLT, ligando CIC ao Uberaba (com possibilidade de integração com aeroporto e Araucária); Barreirinha à Linha Verde; aeroporto ao Centro Cívico (via Marechal Floriano, onde já tem canaleta de expresso, ou via Avenida das Torres, onde a Copel anunciou intenção de tirar as torres de alta tensão); e Atuba ao Tatuquara.

Esta última seria feita pela Linha Verde que, segundo o secretário, pode ser estendida até Fazenda Rio Grande e Araucária ao sul, e até Colombo, ao norte. “É uma via que possibilita muitas integrações. E para integrar com o Centro de Curitiba, é possível pela Avenida Afonso Camargo ou pela Avenida Marechal Floriano Peixoto. Ainda há um trecho da Linha Verde que está em obras, no Atuba, e deve ficar pronto até o ano que vem. Com a conclusão da obra, temos uma estrutura praticamente pronta para receber o VLT/VLP, que é a canaleta”, analisa Scatolin. Porém estas definições só serão possíveis após a prefeitura concluir a Pesquisa Origem-Destino.

Inédito no Brasil

Em maio, a Prefeitura de Curitiba abriu um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) para resolver a saturação do transporte coletivo usando modais elétricos ou híbridos (elétrico/diesel), já que a capital assinou um acordo internacional para reduzir a quantidade de carbono emitido pela cidade.

No início de junho, a empresa francesa NTL, fabricante de Veículos Leves sobre Pneus (VLP), mostrou que seus VLPs já funcionam em Paris, na França; Shanghai, na China; e Veneza, na Itália. Curitiba pode ser a primeira cidade brasileira a ter um VLP. Empresas chinesas também devem visitar a capital paranaense com este intuito, nas próximas semanas.

Veja o que mudou nas cidades brasileiras que já implantaram o VLT!