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Condomínio de “João-de-Barro” dá vida ao cemitério de concreto do Pinheirão

Condomínio de João-de-barro construído no estádio Pinheirão, em Curitiba. Foto: Natalia Filippin/G1

Um trabalhador incansável, esse é João-de-Barro (Furnarius rufus), pássaro conhecido por suas construções de ninhos de barro. Muito comum em Curitiba e no Paraná, não é difícil se deparar com um ninho no animal em árvores e postes. No entanto, um “condomínio” com onze ninhos, separados em dois “prédios”, é mais incomum ainda.

A construção foi feita na estrutura de concreto que faz parte do antigo Complexo Poliesportivo Pinheirão, no Tarumã, em Curitiba. Incomum, o feito tem impressionado os moradores que passam pelo local.

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Ao G1 Paraná, o ornitólogo Antenor Silva Junior, que é curador geral das coleções de aves do Museu de História Natural do Capão da Imbuia, disse que as aves realizam um trabalho colaborativo na construção dos ninhos para abrigar os filhotes.

“Sendo uma das aves mais comuns do Brasil, o joão-de-barro é uma espécie territorialista. Os casais têm os territórios juntos a outros joões-de-barro. Mas, esses ninhos geralmente são feitos pelo mesmo casal. Todo ano ele constrói um ninho, às vezes quando racha, ele usa a base e constrói em cima. O mais comum é ele construir apenas uma vez em cima. O casal vive mais de 12, 13 anos e eles fazem um ninho por temporada”, diz.

Ele ainda explica que esses casais constroem seus ninhos em formato de forno. No período reprodutivo, os joões-de-barro, então, têm que ter disponibilidade de material, que é o barro, esterco misturado à palha, gramíneas para fazer a liga e a fibra.

“Como no Pinheirão tem um substrato muito bom e ali tem duas colunas, uma do lado da outra, fica mais fácil de conservar e fazer com que os ninhos não caiam com o tempo. Como estamos no Sul, aqui as aves fazem as paredes das casinhas mais grossas do que o normal, por causa do frio”, diz o especialista ao portal de notícias.

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Esses ninhos levam de 18 a 30 dias para ficarem prontos, dependendo se o clima está seco ou não. Para que a construção fique perfeita, o João e a Maria de barro trabalham juntos. Eles deixam a abertura do ninho bem estreita para que predadores não entrem no local.

O ornitólogo afirma também que o local onde os joões-de-barro construíram o “condomínio” deles na capital é mais seguro do que se eles fizessem, em galhos de árvore, janelas de casa e postes, que não têm estabilidade para manter tantos ninhos um em cima do outro.

“Provavelmente, eles tenham tentado fazer em árvores um em cima do outro, mas sem sucesso. Então, ali onde as aves construíram, é o ideal. Um ‘terreno’ excelente para os ‘imóveis’ deles”, brinca Antenor.

João-de-barro

A ave de 19 centímetros tem o queixo e o pescoço brancos, o dorso marrom-avermelhado e o ventre em tons claros.

O ornitólogo pontua ao G1 que os joões-de-barro são conhecidos como pássaros trabalhadores e inteligentes. A espécie é encontrada com frequência caminhando no solo, em busca de cupins, formigas e içás.

“Você normalmente vai ver o joão-de-barro onde tem gramado com alguma cobertura vegetal, mesmo que exótica, tem gramado. Ali está presente uma microfauna, insetos, formigas, cupins, aí ele se alimenta disso também”, afirma Antenor.

Outra característica do animal é o canto. Considerado festivo, o som se parece com risadas e é emitido em duetos.

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