Perigo!

Brincadeira se transforma em tragédia em cava do Rio Iguaçu

Foto: Giuliano Gomes.

“A brincadeira se transformou em tragédia”. Foi assim que um garoto de 11 anos descreveu a situação que mobilizou o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar em uma cava do Rio Iguaçu, nas margens do Contorno Leste. Nesse local, ele foi salvo por um pescador na tarde desta terça-feira (3), mas viu a amiga Célia Gonçalves do Nascimento, de 14 anos, morrer após ficar cerca de 20 minutos submersa.

Segundo o sargento Pereira, que atendeu a ocorrência, um pescador que estava na mesma cava com sua família avistou diversas crianças se afogando e acionou a equipe de emergência. “Quando chegamos ali, a primeira vítima já estava fora da água e passava bem, mas a moça que tentou ajudar o garoto acabou se afogando e ainda estava submersa”, contou.

O pescador Cláudio salvou a vida de um garoto. Foto: Giuliano Gomes
O pescador Cláudio salvou a vida de um garoto. Foto: Giuliano Gomes

Neste momento, os bombeiros entraram na água e, com o apoio do homem que havia acionado a equipe, tentaram retirar a jovem. “Ela estava a cerca de três metros de profundidade, e nós precisávamos retirá-la com mergulho livre. Foram necessários cerca de oito mergulhos porque não tínhamos visibilidade nenhuma e ainda havia muitos galhos embaixo d’água”.

Depois de alguns minutos, a equipe conseguiu retirar a jovem, então os médicos do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) iniciaram todos os procedimentos de reanimação cardiorrespiratória. No entanto, não tiveram sucesso.
O garoto salvo pelo pescador também foi atendido pelos médicos e passa bem. Já os irmãos e amiguinhos que estavam com ele sem a presença dos pais foram levados para casa.

Crianças sozinhas

Quando a equipe da Tribuna do Paraná chegou ao local da tragédia, diversas crianças estavam na margem da cava. Duas delas, uma garota de 13 e outra de sete anos, são irmãs da vítima e contaram que não avisaram a mãe que iriam ali. “Nossos amigos estavam vindo, aí nós falamos que íamos no parquinho porque nossa mãe não ia deixar virmos junto”, confessou a irmã de 11 anos com os olhos cheios de lágrimas, enquanto abraçava a menor e tentava esquentá-la.

Segundo ela, a situação foi terrível e muito assustadora, pois quase todos se afogaram. “Nós sentíamos como se a água nos puxasse, então um começou a segurar o outro até chegar à margem. Só que um amigo nosso não conseguiu sair e minha irmã tentou ajudá-lo”, disse.

O herói largou a vara de pescar

Nesse momento, todas as crianças começaram a gritar desesperadas e chamaram a atenção do empresário Cláudio Demétrio, 34 anos, que pescava com a família na outra margem. “Eu decidi dispensar meus funcionários hoje e vim pescar com minha irmã, meu filho e os sobrinhos. Quando chegamos, vimos essas crianças sozinhas e falamos pra elas ficarem perto de nós, onde era bem raso, mas elas foram para o outro lado. Foi aí ouvimos vários ritos. No início, achei que era alguma brincadeira, mas vi o garoto se afogando”.

Ao ver aquela cena, Cláudio esqueceu que estava com a perna machucada devido a um estiramento muscular e saiu correndo ao redor da cava. “Cheguei até o outro lado, me joguei na água e tirei o garoto, que já estava inconsciente e bem roxo. Minha irmã estava cuidando da nossa família, então eu mesmo chamei a emergência enquanto fazia massagem cardíaca no menino”.

Quando o garoto deu as primeiras tossidas e voltou a respirar, as crianças começaram a gritar dizendo que a jovem que havia tentado salvar o menino ainda estava na água. “Aí eu fiquei muito preocupado porque não tinha visto mais ninguém na cava. Mergulhei de novo e, lá no fundo, meu pé encostou na menina. Quando eu saí para respirar, vi que os bombeiros estavam chegando para ajudar”.

Não nade em cavas!

Segundo o sargento Pereira, esses espaços são muito perigosos e deveriam ser evitados. “Você não sabe a profundidade, então perto de você pode ter um buraco. Além disso, no fundo costuma ter muita lama, galhos e até pedras. A recomendação é não frequentar esses locais, principalmente sem a supervisão de adultos”, pontuou.

Segundo o Corpo de Bombeiros, nos quatro primeiros meses de 2016 foram registradas 29 mortes por afogamentos como este no Paraná, dos quais cinco foram registrados em cavas na Grande Curitiba. Já as ocorrências que necessitaram de resgate chegaram a 700 no mesmo período.

Foto: Giuliano Gomes
Foto: Giuliano Gomes