Sem foro

Fora do governo, Beto Richa cai ‘nas mãos’ de Moro

Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo
Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo

O inquérito que apura se três campanhas eleitorais do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) foram abastecidas ilegalmente com dinheiro da Odebrecht, e que tramita há menos de um ano no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, será enviado para a Justiça Eleitoral do Paraná e também para a 13ª Vara Criminal de Curitiba, comandada pelo juiz federal Sergio Moro, à frente dos processos da Lava Jato no primeiro grau.

A decisão é do relator do inquérito no STJ, ministro Og Fernandes, e foi assinada nesta quinta-feira (26). Na prática, a suposta prática de crimes eleitorais ficará a cargo da Justiça Eleitoral. Já eventuais crimes comuns – como corrupção, por exemplo – serão tratados no âmbito da Justiça Criminal.

A transferência do processo para a primeira instância do Judiciário ocorre porque Richa renunciou ao cargo de governador do Paraná, no último dia 6, perdendo o foro especial por prerrogativa de função. O tucano é pré-candidato ao Senado nas urnas de outubro e, para participar da disputa, ele é obrigado a deixar o cargo no Executivo a seis meses do pleito.

Em nota encaminha à imprensa, Beto Richa critica a decisão do relator do caso: “A decisão do ministro Og Fernandes, determinando a remessa do caso à Justiça Eleitoral e à Justiça Federal, atende requerimento do Ministério Público Federal, que muito estranhamente diverge totalmente do posicionamento adotado em casos similares. A defesa de Beto Richa afirma ainda que buscará a observância do princípio da isonomia de tratamento em investigações que muito se assemelham”.

No último dia 12, o inquérito que também envolvia delações da Odebrecht, relacionado ao ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), foi encaminhado apenas para a Justiça Eleitoral de São Paulo. A decisão foi da ministra do STJ Nancy Andrighi. Alckmin renunciou ao governo de São Paulo porque é pré-candidato a presidente da República.

Beto Richa também é alvo de outros processos no STJ. Cabe a cada relator definir o destino deles: se segue para a primeira instância da Justiça Estadual, da Justiça Federal ou mesmo para a Justiça Eleitoral, por exemplo.

O inquérito 1181, aberto pela Procuradoria Geral da República (PGR) sob o guarda-chuva do STJ, chegou ao gabinete do ministro Og Fernandes em junho de 2017. Os desdobramentos da investigação, entretanto, são desconhecidos, já que o inquérito tramitou desde então de forma sigilosa.

No dia 12 de abril, o ministro-relator Herman Benjamin, do STJ, havia decidido enviar à Justiça Federal uma ação penal contra o ex-governador. Neste caso, o tucano, quando prefeito de Curitiba, teria empregado recursos do Fundo Nacional de Saúde em desacordo com os planos originais, que eram as reformas de três unidades municipais de Saúde.

O caso

A investigação foi iniciada com base em delações de pessoas ligadas à Odebrecht. O ex-executivo da empreiteira Benedicto Júnior relatou à Operação Lava Jato que foram repassados R$ 2,5 milhões via caixa 2 à campanha de reeleição do governador do Paraná Beto Richa em 2014. Em troca, a empresa “abateria” tal montante da Parceria Público-Privada (PPP) para duplicação da rodovia PR-323, no trecho entre Paiçandu e Francisco Alves, no Noroeste do Paraná. A obra deveria ter começado em 2014, mas não saiu do papel.

Já Valter Lana Júnior, que chegou a ocupar o cargo de diretor-superintendente Sul da Odebrecht, afirmou à força-tarefa da Lava Jato que intermediou as doações da Odebrecht às campanhas de Richa em 2008, quando a disputa era pela prefeitura de Curitiba, e em 2010, ao governo do Paraná.

Segundo o delator, na disputa pela prefeitura, a campanha de Richa levou R$ 100 mil da empreiteira, doados via caixa 2. Já em 2010, quando a disputa era pelo governo do Paraná, o valor repassado foi de R$ 450 mil, também como caixa 2, pagos em espécie.

Os dois delatores que citam Richa na “megadelação da Odebrecht” afirmam que não negociaram as doações diretamente com Beto Richa, mas com tesoureiros de campanha. Juraci Barbosa Sobrinho, tesoureiro da campanha de 2014, e Fernando Ghignone, tesoureiro das campanhas de 2008 e 2010, sempre rejeitaram a narrativa dos delatores.

Nas planilhas de pagamentos a políticos elaboradas pela Odebrecht, Beto Richa chegou a ganhar dois codinomes, “piloto” e “brigão”, contam os delatores.

Beto Richa chora ao dar adeus ao governo do Estado