Com mais de US$ 400 milhões em arrecadação em dois finais de semana, o novo filme do Superman conquista todas as idades. Por trás da criação do visual mais recente da cidade fictícia de Metrópolis está a arquiteta curitibana Daniela Medeiros. Apelidada pelos colegas de “Embaixadora de Metrópolis”, ela é uma das seis pessoas diretamente ligadas à Direção de Arte do filme.

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“Tivemos que pensar em cada detalhe da cidade, desde nomes de ruas, placas de trânsito, identidade visual de lojas, times, veículos e muito mais. Um dos sets mais legais foi a rua principal, repleta de fachadas de lojas e restaurantes, incluindo a entrada principal do famoso Daily Planet, da qual também tive a honra de participar na criação e execução do icônico globo do jornal”, conta Daniela em entrevista à Tribuna.

Além de construir cenários, Daniela também ajudou na “destruição” de alguns deles. A cratera da cena em que Mali salva o Superman, na praça do Museu de Arte Moderna de Metrópolis, não foi feita com efeitos especiais, mas sim com o uso da boa e velha britadeira.

“Contamos com o apoio da cidade de Cleveland, onde gravamos essa cena, e passamos dias cavando aquele buraco, colocando cada pedrinha no seu lugar certo, com uma equipe enorme envolvida. Esse set tem um dos meus Easter Eggs favoritos relacionados à famosa frase ‘É um pássaro? É um avião? Não, é o Superman!’. Também tem uma aparição especial minha. Vamos ver quem consegue encontrar esses dois detalhes”, revela.

Daniela na cratera onde Superman é salvo. Foto: Arquivo pessoal
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Nos últimos anos, a curitibana também participou de outros projetos que conquistaram o público. Como set designer, desenhou espaços para filmes como Twisters (2024), Megalópolis (2024), Guardiões da Galáxia Vol. 3 (2023) e o vencedor do Oscar Mank (2020). Já como designer de produção, contribuiu em longas-metragens como All These Voices (2015) e Icebox (2016).

Da folha de papel às telonas

Antes de dar vida ao novo universo da DC Comics, o visual da cidade começa em uma sala de reunião e na ponta do lápis. Segundo Daniela, o trabalho da Direção de Arte inicia na fase de pré-produção. “Geralmente, somos um dos primeiros departamentos contratados, se não o primeiro. Começamos a partir do roteiro e da ideia do mundo em que a história acontece”, explica.

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O processo exige colaboração mútua, mesmo quando alguns conceitos já estão pré-estabelecidos pelos criadores. “Em Guardiões da Galáxia, por exemplo, já existia um conceito pré-definido sobre o mundo Knowhere em outros filmes e quadrinhos, mas ainda assim tivemos liberdade para implementar nossa versão desse universo. Eu fui a set designer responsável por cuidar dessa cidade, que era um set muito grande, e foi especialmente gratificante e desafiador criar, desenhar e acompanhar a construção do prédio residencial onde moravam Quill e Rocket”, conta.

Set de Knowhere em Guardiões da Galáxia. Foto: Arquivo pessoal

Em Mank (2020), produção indicada ao Oscar de Production Design, o desafio foi construir uma versão fiel de um lugar real, o Hearst Castle. Ainda assim, o projeto foi confiado à equipe: “tivemos liberdade artística para interpretar o local de uma forma que fizesse sentido para o filme, para a cena e para as limitações de orçamento e prazos. Precisamos ser fiéis à realidade, mas também criar um mundo cativante para o público, que o transporte para lá.”

Projeto de set para Mank (2020) baseado no Hearst Castle. Imagem: Arquivo pessoal

Para Daniela, o envolvimento já no início faz toda a diferença para quem trabalha na produção, já que são os diretores de arte que escolhem a paleta de cores do filme, as locações a serem filmadas e até os quadros pendurados nas paredes.

“Temos que ir além da construção do ambiente em si. Precisamos conceber um mundo e pensar em como as pessoas habitam esse universo. O quadro na parede é uma decisão da equipe, mas naquele mundo, foi o personagem que o colocou ali, e isso revela muito sobre a personalidade dele”, conta.

Independente de qual o filme e o gênero da narrativa, a primeira etapa envolve pesquisa, busca por referências e troca de ideias com os colaboradores: “é o que dá clareza ao objetivo e facilita a mudança de chave de projeto para projeto.” A dica de Daniela para “construir mundos” está na construção de repertório por meio de estudos e leituras, por exemplo.

“Essa construção acontece a partir da atenção aos pequenos detalhes do mundo ao nosso redor, do cotidiano, como aquela vendinha na esquina do Seu Luís, ou a casa da vó Francisca. Também por meio de viagens, sempre que possível conhecendo lugares novos, pessoas e culturas diferentes. Assim, quando uma nova história aparece, fica mais fácil saber por onde começar”, explica a arquiteta.

De Curitiba para Hollywood: como curitibana entrou no universo dos filmes

Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e em Design de Mobiliário pela Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR), Daniela começou a entender o papel do design nas telonas ainda na universidade. “Sempre me interessei muito por contar histórias e criar espaços que instigassem a imaginação”, afirma.

Logo após concluir as graduações, mudou-se para Los Angeles, nos Estados Unidos, para cursar mestrado em Direção de Arte no American Film Institute. “Assim que terminei o mestrado, comecei a trabalhar na área. Meu primeiro trabalho como set designer foi no filme Thor: Ragnarok. Desde então, não parei mais”, relembra.

Mesmo com o preparo e a oportunidade, para ter a própria sorte de participar dos blockbuster é necessário lidar com as provocações de sempre tentar ser o melhor. De Curitiba a Hollywood, Daniela aponta que há muitos caminhos possíveis, mas que exigem paciência para passar pelas etapas indispensáveis de formação.

“O cinema é uma indústria bastante competitiva, então conquistar espaço é um grande desafio. De fora, Hollywood parece glamourosa, mas a realidade são horas e horas de trabalho duro para cumprir prazos e objetivos. Tudo isso em outro país, longe da família e dos amigos. É um desafio pessoal e profissional ao mesmo tempo”, relata.

Para atrair novos projetos, um dos diferenciais da curitibana é ser uma profissional multidisciplinar, assim como produtores que também entendem de administração, por exemplo. Daniela se encontra na interseção entre arquitetura e cinema: Direção de Arte e Design de Produção. “É preciso ter mente aberta para encontrar essas possibilidades e criar um portfólio que represente seu trabalho”, comenta.

Curitibana que faz parte da criação dos cenários de Superman também estará em Duna

O próximo projeto da curitibana a estrear é na segunda temporada de Duna: A Profecia, parte do universo cinematográfico dirigido por Denis Villeneuve baseado na obra de Frank Herbert. As datas de lançamento ainda não foram confirmadas.

Entre as horas de trabalho e estudo, a produção audiovisual permite que Daniela realize alguns sonhos. Atualmente, ela faz parte da equipe que produz a nova série Harry Potter, baseada nos livros de J.K. Rowling, com estreia prevista para 2027. “É um universo do qual sonho fazer parte desde os 11 anos e acabei de realizá-lo!”, comemora.

A lista de desejos de Daniela ainda inclui trabalhar com diretores renomados mundialmente. “Sonho em trabalhar com Martin Scorsese, que dispensa apresentações; Greta Gerwig, uma diretora talentosíssima que representa uma nova geração de vozes no cinema; e Jordan Peele, responsável por projetos incríveis que provocam questionamentos importantes”, completa.

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