Precária!

Após paralisação, policiais civis afirmam que corporação está sucateada

Foto: Gerson Klaina.

A manifestação que levou policiais civis a paralisarem as atividades ontem colocou em discussão algo ainda mais sério: a classe denuncia que a Polícia Civil do Paraná está sucateada. Segundo os policiais, caso sejam aprovados os projetos do Governo Federal, a PLP 257 e a PEC 241, a tendência é de que a situação da segurança pública do Estado piore ainda mais.

“Nossos policiais trabalham hoje, em 2016, com o mesmo efetivo que tínhamos em 1982. Esse número chega a ser ridículo se pararmos para pensar em algo óbvio: a população cresceu”, explicou Fábio Barddal Drummond, vice-presidente do Sindicato das Classes Policiais Civis no Estado do Paraná (Sinclapol).

Conforme informou o Sinclapol, hoje, são aproximadamente 4 mil policiais civis, quando deveríamos ter um efetivo de mais de 7 mil. “O índice de criminalidade aumentou, nós temos poucos policiais para cumprir as investigações, porque, continuam mobilizados para uma função que não lhes cabe: cuidar de presos”, disse Fábio.

Categoria é contra as propostas, diz Fábio.
Categoria é contra as propostas, diz Fábio.

Falta gente

Segundo os policiais, faltam equipes para irem às ruas apurarem detalhes de investigações e fortalecerem os registros de ocorrências, para que os inquéritos sejam feitos da forma que deveriam. “A gente costuma dizer que, no Paraná, boletim de ocorrência serve para duas coisas: estatística e fazer segunda via de carteira de identidade de graça”, denunciou um policial, que não se identificou.

O problema citado pelos policiais vai além quando o assunto é plantão nas delegacias. “Tem lugar importante, que deveria receber forte segurança nas madrugadas, por exemplo, que tem apenas um policial para o plantão. Me diga: qual segurança esse policial tem de trabalhar? Se ele está inseguro, quem dirá a população?”, desabafou o mesmo policial.

Manifestação nacional

O protesto dos policiais civis do Paraná foi feito também em várias partes do país. Ontem, eles apenas atenderam casos de flagrante. Os motivos da manifestação, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, chamada de “Novo Ajuste Fiscal” pelo Governo Federal, e o Projeto de Lei Complementar (PLP) 257, ainda não foram aprovados. ‘”Mas caso isso aconteça, com certeza vão piorar a situação da polícia de modo geral e dos serviços públicos”, explicou Fábio Barddal Drummond.

A PEC 241 limita despesas primárias da União aos gastos do ano anterior, corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Basicamente, ela congela os gastos públicos por 20 anos – recursos vão ser canalizados para pagamento da dívida pública. Já o Projeto de Lei Complementar (PLP) 257, trata da negociação das dívidas dos Estados com a Federação. A medida implica em manter as mesmas condições em dois anos. Para os sindicatos, tanto a PEC 241, como o PLP 257, têm o mesmo objetivo: congelar ou reduzir os gastos com o serviço público. Esse congelamento, que seria feito para que o governo conseguisse pagar dívidas, valeria para salários, direitos dos servidores e para a quantidade de serviços colocados à disposição da população.

Versão da corporação

Em nota, o Departamento da Polícia Civil (DPC) informou que respeita as manifestações de classe e que os serviços emergenciais (como flagrantes e boletins de ocorrência) não serão prejudicados, a fim de evitar prejuízos nos atendimentos à sociedade. Em relação à superlotação nas carceragens, a Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária, assim como a Direção da Polícia Civil e do Departamento Penitenciário (Depen), afirmaram estar cientes do problema de superlotação nas carceragens das delegacias do Estado. A nota salientou que já houve avanços e diminuição no número de detentos de 2011 para cá: de 14 mil para 9,5 mil. Segundo o DPC, 7 mil novas vagas devem ser abertas cm a construção e ampliação de 14 presídios no Estado. Sobre o efetivo policial, a nota destacou que cerca de 40% dos policiais civis foram contratados no atual governo e que a abertura de novos concursos públicos é debatida constantemente entre a Sesp e outras secretarias. O DPC informou ainda que nos últimos anos vários serviços que eram feitos somente de forma presencial, podem ser feitos online, retirando profissionais que tinham especificamente essas atribuições. (Leilane Benetta)

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