Fazendo o bem

Ajudante do Papai Noel recupera bonecas no Boqueirão; conheça Dona Olga

Olga ajudante de Papai Noel
Dona Olga e as bonecas reformadas. Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Quando pensamos em ajudantes de Papai Noel, logo nos vem a imagem de duendes trabalhando apressados em uma fábrica de brinquedos. Mas no Boqueirão, em Curitiba, a empregada doméstica aposentada Olga Rodrigues da Silva, 89 anos, mostra que fazer a alegria das crianças no Natal é bem mais real do que a simples imaginação. Há cerca de cinco anos, ela se transformou em uma verdadeira ajudante do bom velhinho, reformando bonecas velhas para presentear crianças carentes.

A história da Olga é inspiradora. Cheia de energia e dona de uma alegria contagiante, ela perdeu as contas de quantas bonecas e bichos de pelúcia já reformou. Toda a fantasia do Natal começa em uma “fábrica de brinquedos” improvisada na mesa de jantar da casa dela, onde fica uma máquina costura, panos de limpeza e sabão fabricado em casa. O trabalho manual é detalhado, começa com a limpeza das bonecas, ordenação das partes do corpo dos brinquedos e muito carinho.

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“Passo horas aqui. Como sou muito baixinha, costuro em pé. Se eu sentar, a mesa fica muito alta. Mas eu já estou acostumada. Dá serviço, mas é um trabalho que me me deixa feliz e emocionada”, conta a ajudante, que faz questão de contar que tem 1,36 de altura e enxerga apenas com o olho esquerdo. “Isso não me atrapalha”, brinca.

As bonecas e bichinhos de pelúcia velhos que chegam para ser reformados vêm de doações. Catadores de lixo reciclável do bairro já conhecem o caminho da casa dela. Também amigos e parentes. “Meus netos e bisnetos não ficam com ciúmes dos brinquedos reformados. Eles gostam da ideia de fazer doação para crianças carentes. Inclusive, quando eles acham algum brinquedo velho, eles me trazem”, explica.

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Olga tem 17 netos, 18 bisnetos e dois tataranetos. O tataraneto mais novo tem cinco meses de vida. E se engana quem pensa que ela não conhece todos eles. Natural de Siqueira Campos, no Norte do Paraná, ela mora em Curitiba, mas a família é “espalhada”, como ela conta. “Ainda tem gente em Siqueira, em São Paulo. Eu viajo pelo menos uma vez por ano pra fazer as visitas, seja qual for a cidade. A idade não me segura. E quando nasce alguém na família, eu vou conhecer”, orgulha-se.

A idosa veio morar no Boqueirão há cerca de 60 anos, com o marido e sete filhos. Atualmente, divide a casa com um dos filhos e dois netos.

A simpatia dela e o desejo de contribuir para um mundo de mais solidariedade vêm das lembranças da infância pobre e da batalha durante a vida adulta. “Éramos da roça, bem pobrezinhos. No Natal, eu não tinha como ganhar brinquedos novos. Fico pensando nisso, por isso agora faço a minha parte”, diz.

Olga não sabe para quais crianças os brinquedos que ela faz são doados. Ela conta que não conheceu nenhuma, pois não participa do momento das doações. Os itens vão para ações de programas de televisão, de um grupo de ciclistas e ações do Boqueirão. “Mas eu imagino a alegria de cada uma delas. Consigo ver em pensamento os olhinhos brilhando”, emociona-se.

*Fotos: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Arte da costura que aprendeu na roça

A arte da costura Olga aprendeu ainda na roça, quando criança. Os pais dela desgastavam muito as roupas, durante a lida no campo. “Eu fui aprendendo a fazer os remendos, desmontando uma roupa velha aqui, outra ali, e fazendo os cortes. Eu brinco que, hoje em dia, o pessoal costuma usar roupas remendadas que estão na moda. Veja, a gente já estava na moda, naquela época, mas só não sabia”, ri.

As peças para fazer as roupas novas e o corpo das bonecas reformadas, como pedaços de tecidos, vem do ateliê de uma das filhas, que é artesã. Alguma outra coisa que falta, Olga compra. Há partes das bonecas que são costuradas à mão. O restante vai para a máquina de costura. Olga faz o corpo, vestidos, calcinhas e até o cabelo.

“No cabelo, parece que elas vão para o salão de beleza. Eu lavo, desembaraço fio por fio. Depois penteio, faço as tranças quando precisa. É um passa-tempo”, conta.

Sobre o dia a dia de Olga, além do trabalho com os brinquedos, ela procura manter a saúde em dia praticando exercícios físicos quatro vezes por semana.

Mas não é só isso. A vaidade também tem o seu lugar no coração de Olga. Recentemente, ela foi eleita Rainha da Terceira Idade da Regional Boqueirão. “Já é a segunda vez”, comemora. A ajudante de Papai Noel também adora dançar, ir a bailes da terceira idade, assistir à novelas e telejornal. “A pandemia me segurou um pouco. Cuidei bastante da saúde e não saí de casa. Até a viagem pra visitar a família eu não fiz. Mas vamos nos programar. E a televisão é companheira. Vejo minhas novelas e o jornal pra ficar bem informada”, finaliza.

Ajudante real é inspiração

A equipe da Tribuna foi embora da casa de Olga com um brilho a mais nos olhos. A ajudante real de Papai Noel inspira mesmo, desde o primeiro momento em que se entra na residência. São várias bonecas espalhadas pelo sofá da sala, sacolas com doações, muitos retratos de família nas paredes que trazem lembranças. Vive-se uma verdadeira energia do Natal.

E a mensagem de Olga para o 24 de dezembro é simples e direta, para as crianças e para os “grandes”, como ela fala. “Menos violência entre as famílias e bastante saúde para todos. Quem puder ajudar, doar presentes, novos ou usados, façam isso para dar bastante alegria para as crianças e os pais. Lembrem que os que não podem comprar, ficam esperando. Que Nossa Senhora e o Menino Jesus proteja a todos, trazendo a paz”, deseja ela.