Crise financeira da PUC-SP resulta em demissão de 30% dos professores

A intervenção do cardeal d. Cláudio Hummes, arcebispo metropolitano de São Paulo, na crise financeira da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) resultou hoje na demissão de 29,5% dos professores (472) e 28,7% dos funcionários (374). Com isso, a instituição afirma ter zerado o déficit mensal de R$ 4 milhões, uma das metas para amortizar a dívida bancária de R$ 82 milhões.

O anúncio foi feito hoje pela reitora, Maura Véras, em uma sessão extraordinária do Conselho Universitário, que terminou com aplausos, vaias, lágrimas e protestos de parte de alunos, professores e funcionários, que votarão em assembléia na segunda-feira uma proposta de greve.

A lista final dos dispensados – pelo acordo coletivo da categoria hoje era o último dia para as demissões – foi feita por dois padres interventores da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC, uma vez que a reitoria não conseguiu sozinha chegar à economia dos R$ 4 milhões – com todas as medidas adotadas no último semestre, foram reduzidos R$ 3,1 milhões.

"Não conseguiria fazer esses cortes nesse prazo de uma semana, porque estava seguindo os cânones de um processo democrático", disse a reitora, após afirmar desconhecer os critérios para o corte, que incluiu 211 professores e 114 funcionários além dos escolhidos desde dezembro pelos departamentos. "Fiquei chocada. Tinha pessoas na lista que considero importantes para a universidade."

Maura disse que tomou conhecimento dos nomes apenas hoje junto com os dispensados, que estavam sendo avisados pelos seus respectivos departamentos. Segundo ela, ainda não houve tempo para a universidade reorganizar aulas, cursos e departamentos – alguns deles, como o de Educação, Pedagogia e Psicologia, perderam professores da graduação e pós-graduação, muitos com orientandos de mestrado e doutorado.

No entanto, Maura afirmou que no dia 2 de março, quando começam as aulas, as grades deverão estar prontas. E o número de alunos por sala de aula, em torno dos 50, não deverá subir, por causa do aumento na carga horária dos professores.

Mesmo assim, o clima no campus Monte Alegre, em Perdizes era de apreensão e dúvida. A associação dos funcionários e dos professores, assim como os centros acadêmicos, se posicionaram contra a intervenção e as demissões.

Após 43 anos – A lista de cortes incluiu um dos docentes mais antigos, Joaquim Villaça de Souza Campos. De seus 69 anos, 43 foram como professor de Sociologia da Faculdade de Educação. "É como se estivessem levando a minha casa. Eu jamais pediria demissão. Pensava que morreria aqui, como professor", disse, com um misto de revolta e decepção.

"Estão me mandando embora sem critério. Não sou qualquer um", continuou. Em seu extenso currículo, Campos tem doutorado na USP e pós-doutorado na Alemanha. Em meados dos anos 90, dirigiu a Febem. Atualmente é membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, além de fazer parte do Conselho de Administração e Finanças da PUC-SP. "Estão me mandando embora sem nenhum critério. Em vez de me homenagearem, por reconhecer que sou um exemplo para os outros professores, me mandam para o olho da rua."

Segundo ele, a universidade já passou por diversas crises sem sofrer intervenção. "Grupos conservadores da Igreja estão se aproveitando de uma crise financeira para interferir na parte acadêmica da instituição. Isso fere a autonomia universitária. É o fim do mundo", afirmou.

A crise financeira da PUC-SP se deve a uma dívida acumulada há cerca de 30 anos. Em agosto do ano passado, prestes a vencer, a dívida foi renegociada – e uma das condições dos bancos credores era que o déficit mensal de R$ 4 milhões fosse extinto. A reitoria iniciou então um processo de terceirizações, mudanças administrativas, expansão de vagas e cortes na folha de pagamentos. A meta não foi atingida, e a Fundação São Paulo assumiu para si a tarefa.

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