Crédito perde fôlego e comércio vê desaceleração nas vendas

Rio (AE) – As vendas do comércio varejista registraram em agosto, na comparação com o período anterior, a primeira queda em seis meses. O recuo de 0,38% ante julho foi atribuído pelo analista da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Reinaldo Pereira, à "acomodação" do crédito, cujo crescimento acelerado vinha impulsionando o setor. Na comparação com agosto do ano passado, o varejo completou 21 crescimentos consecutivos nas vendas, com expansão de 6,47%.

Pereira sublinhou que o crédito ainda apresenta crescimento, mas está perdendo ritmo nos últimos meses, o que acaba refletindo no varejo, que vinha crescendo especialmente por causa das melhores condições de financiamento. Agora, segundo ele, o endividamento dos consumidores começa a exaurir algumas formas de crédito, como o consignado, o que leva a uma "desaceleração" desse crédito e afeta os dados de comparações mais recentes.

O diretor-executivo do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV) – que reúne as maiores redes varejistas do País -, Aprígio Rello, concorda com Pereira e avalia que os dados do comércio são "modestos e decrescentes". Para ele, a queda nas vendas em agosto mostra que o crédito está chegando a um limite e sua expansão, agora, dependeria da ampliação do número de clientes com acesso a financiamento, o que, acredita, só juros menores poderiam possibilitar.

Pereira cita como exemplo dessa acomodação do crédito a estabilidade (0,03%) nas vendas de móveis e eletrodomésticos em agosto ante julho, já que essa atividade é a mais sensível aos financiamentos. Por outro lado, ele observou que os dados na comparação com agosto do ano passado continuam impulsionados pelo crédito – que mesmo com perda recente de ritmo é mais intenso que em 2004 – e, ainda, pelo dólar baixo e pela recuperação do poder de compra dos consumidores.

O diretor do IDV disse que esses fatores levaram o Dia dos Pais deste ano a ser melhor do que 2004. Ante igual mês do ano anterior, o crédito impulsionou as vendas de móveis e eletrodomésticos (16,61%) e, segundo Pereira, isso ocorreu porque, mesmo com uma acomodação do crédito na ponta da série (ante mês anterior), a oferta ainda é muito superior que a registrada em 2004.

A recuperação do poder de compra, com aumento, "mesmo pequeno" no rendimento, e a queda da inflação estimularam o segmento de hiper e supermercados (4,07%), enquanto o dólar manteve aquecidos os artigos de informática, levando o grupo de material para escritório, informática e comunicação a um aumento de 63,76% das vendas no mês.

Pereira disse que os dados do setor em agosto mostram uma tendência "de arrefecimento da atividade do varejo, uma desaceleração que, se vier a se confirmar, é causada por uma acomodação do crédito". Para Rello, do IDV, o crescimento acumulado do comércio varejista em 2005 não deverá ultrapassar 5 5%, ante 9% registrados no ano passado.

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