CPI faz acareação entre Costa Neto e Valério

Os extratos bancários que comprovam pagamentos regulares do esquema de Marcos Valério Fernandes de Souza ao PL serão o principal instrumento da CPI do Mensalão na acareação que colocará frente à frente o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, o próprio Marcos Valério, sua gerente financeira na SMP&B, Simone Vasconcelos, e o ex-tesoureiro do PT Delúblio Soares.

Marcada para quinta-feira, a acareação é o item mais importante da agenda carregada da CPI nesta semana e vai incluir também os tesoureiros do PTB, Emerson Palmieri, e do PL, Jacinto Lamas, além do ex-assessor do PP João Cláudio Genu e do ex-presidente da Casa da Moeda Manoel Severino dos Santos.

Costa Neto renunciou ao mandato parlamentar, sustentando a tese de que não passava de invenção o pagamento de "mesada" a parlamentares governistas, denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) para incriminar o governo, o PT e seus aliados.

Mas os técnicos da CPI que esmiuçaram os repasses de R$ 6 milhões da SMP&B de Marcos Valério ao PL, entre fevereiro e agosto de 2003, estão convencidos de que as transferências sistemáticas reforçam a idéia do ‘mensalão’ e não de pagamentos eventuais para socorrer o caixa de campanha do partido.

Em um exercício de contabilidade, os técnicos da CPI constataram que, divididos os R$ 6 milhões ao longo dos cinco meses em que foram realizados os repasses, obtém-se uma transferência mensal de R$ 1,5 milhão. E se esta quantia for repartida entre os 41 deputados e senadores filiados ao PL à época, lembram os técnicos, chega-se ao valor mensal de R$ 36,5 mil por parlamentar, bem próximo do "número mágico" de R$ 30 mil do ‘mensalão’ denunciado por Jefferson.

Para mostrar que Marcos Valério continua disposto a colaborar com as investigações, seu advogado enviou uma correspondência à CPI do Mensalão na sexta-feira, propondo uma espécie de "roteiro" que os téncnicos consideraram útil não só para comprovar as denúncias do publicitário como para avançar no inquérito. "Esses dados, registros e documentos tornarão mais eficiente e produtiva a atividade investigatória desta CPI nas acareações do dia 27", disse o advogado Marcelo Leonardo.

Como Simone Vasconcelos afirmou que além das operações bancárias, ela também realizava pagamentos em espécie, o advogado sugere à CPI que providencie o registro de entrada e presença em três hotéis de Brasília (Grand Bittar, Nacional e Blue Tree) e outros quatro de São Paulo (Blue Tree, Sofitel, Intercontinental e Paulista Plaza), nas datas de recebimento dos repasses que constam da lista entregue por Marcos Valério à CPI.

Também propõe que a Comissão trabalhe com os registros das quebras de sigilo telefônico com os telefonemas dados e recebidos por Simone e Marcos Valério aos acareados, assessores, funcionários ou parentes. O advogado aponta, ainda, para a necessidade de a CPI ter em mãos cópias dos recibos dos saques assinados pelos acareados, funcionários e parentes, com as respectivas datas e valores.

Além do ‘mensalão’, a CPI também vai investigar esta semana a compra de votos para a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. Estão convocados para depor às 11h30 desta terça-feira os ex-deputados Osmir Lima (PFL-AC), que renunciou para não ser cassado, e Chicão Brígido (PMDB-AC), que teria testemunhado as negociações. Na quarta-feira, será a vez de Ronivon Santiago, outro que renunciou para fugir à cassação.

Na semana passada, Ronivon apresentou um atestado de saúde para justificar sua ausência na CPI, mas o presidente da Comissão, senador Amir Lando (PMDB-RO), já avisou que daqui em diante os convocados que alegarem doença para faltar ao depoimento terão de se submeter à junta médica para comprovar a alegação.

O ex-assessor do ministério da Cultura, Roberto da Costa Pinho, que aparece na lista dos beneficiários de repasses de Marcos Valério, deverá depor na sexta-feira, dia 28.

Pinho, que assessorou a campanha do presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS), era aguardado pela CPI na quinta-feira passada, mas está desaparecido e nem a Polícia Federal havia conseguido localizá-lo. Seu advogado telefonou à CPI para avisar que o cliente encontrava-se em uma fazenda no interior do País e que estaria disponível para prestar depoimento no final da semana.

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