CPI dos Bingos

Foi aprovado o relatório da CPI dos Bingos e outras jogadas, com uma fragorosa derrota do governo no Congresso. Embora a opinião pública não foque o governo Lula quando se fala no assunto, o fato é que se o relatório não fosse aprovado com os indiciamentos que pede, o Congresso é que seria atingido pela condenação popular. Esta foi uma CPI criada para investigar os bingos e o envolvimento de criminosos com esse tipo de jogo, além dos tentáculos ilícitos que dele penetram no serviço público e na política brasileira. Mas, em matéria de negociatas, no Brasil investigar é como coçar. É só começar e aparecem maracutaias das mais diversas e que vão se ampliando, seja em gravidade como em extensão, atingindo muita gente que pensávamos estivesse acima de qualquer suspeita.

Há de parte do grupo situacionista a esperança de que na Justiça anulem o relatório e as suas conseqüências, porque a comissão não se cingiu à investigação dos bingos. Pode até ser que tal aconteça, mas será lamentável que se isentem criminosos porque não tinham uma relação direta com o jogo, mas com outras jogadas que produziram enriquecimentos ilícitos e prejuízos à população e aos cofres públicos. O simples nome da CPI não pode, e se pode não deve servir de escudo para proteger criminosos que usaram de outros artifícios para burlar a lei.

O relatório final da CPI, redigido e lido pelo seu relator, senador Garibaldi Alves, do PMDB, foi aprovado pela ampla maioria de 12 votos a 2. Maioria de oposicionistas, mas inclusive senadores governistas votaram a favor, tal a eloqüência dos indícios condenatórios que pedem ao Ministério Público o indiciamento de nada menos de 79 pessoas, entre elas o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, e o ex-ministro Antônio Palocci, além de quatro empresas. Os votos situacionistas em favor do relatório foram negociados. Os homens ligados ao presidente Lula não queriam que o secretário da Presidência da República, o paranaense Gilberto Carvalho, e o ex-ministro José Dirceu entrassem na lista dos indigitados. O relator concordou e saiu a aprovação.

?Não tenho motivo para agradar o presidente Lula. E o senhor Gilberto Carvalho eu conheci aqui, na CPI. Não tenho o mínimo relacionamento com ele. Sinto-me constrangido diante dos apelos dos meus colegas (para incluir Carvalho e Dirceu na lista), mas eu não tenho como sugerir o indiciamento de um homem que não acho que mereça ter sua conduta tipificada como outros tiveram?, declarou o relator. Dos parlamentares governistas, Magno Malta, Eduardo Suplicy, Leomar Quintanilha, Valdir Raupp e Wellington Salgado votaram com o relator Garibaldi. Para o senador Tião Viana (PT-AC), o governo não foi surpreendido porque, ?com a derrota iminente, os senadores ficaram liberados?.

Tudo o que se contém na decisão da CPI é grave. Mas o mais grave parecem ser o indiciamento de Paulo Okamoto, presidente do Sebrae, aquele que diz ter pago contas particulares de Lula e a recomendação de que o Ministério Público aprofunde investigações envolvendo o próprio presidente Lula. Todas as denúncias abrigadas pelo relatório vão para o Ministério Público, que poderá denunciar algumas ou todas as 79 pessoas indiciadas pela CPI.

Voltar ao topo