Coordenador solitário

O presidente Lula desabafou com um amigo e reclamou da situação de abandono a que foi relegado pela renúncia de alguns de seus ministros mais importantes, cujo trabalho e influência contariam muito em sua campanha pela reeleição.

Uma versão do desabafo, registrada por eficiente repórter político de Brasília, destaca a estupefação do presidente em imaginar-se coordenador de si mesmo, tendo em vista que a responsabilidade de articulador da campanha seria confiada ao ex-ministro Jaques Wagner, cuja preferência, no entanto, recaiu sobre o governo da Bahia.

O novo ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, acorreu em defesa do presidente solitário e reafirmou a existência de uma coesão bastante forte em torno de Luiz Inácio, de tal forma que ele poderá lançar-se à campanha eleitoral sem a menor dúvida quanto ao apoio irrestrito da base partidária.

Uma das atribuições imediatas do ministro é reatar os laços entre o PT e os partidos da base (PTB, PP, PL, PCdoB e PSB), além de ajudar no esforço de soldar a adesão do PMDB governista.

Desgastado por uma cascata de escândalos e pela recente queda do ministro Antônio Palocci, motivada pelo abjeto recurso de quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, que expôs a face mais condenável de um governo aparentemente sem comando, o presidente Lula debate-se com a proximidade duma campanha em que seus adversários não pouparão a artilharia bem municiada.

Não é de todo irrazoável o sentimento de abandono detectado pelo presidente da República, numa reprise quase perfeita do alvoroço típico da marinhagem ao perceber que o navio pode ir a pique.

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