Controle externo

Jesus desafiava quem não tivesse pecado a atirar a primeira pedra na pecadora Madalena. O fato nos vem à mente quando aqui estoura o escândalo do mensalão, além de tantos outros, e se verifica que o pecado de embolsar dinheiro do povo é prática comum de pessoas de todos os partidos, inclusive do agora desvirginado Partido dos Trabalhadores.

Isso acontece quando o presidente do Brasil embarca mais uma vez para o exterior, desta vez para representar um dos tantos países pobres do mundo, como convidado do G8, o grupo dos ricos. O G8 cogita de perdoar as dívidas das nações mais miseráveis, especialmente do continente africano, ou encontrar outros meios de ajuda humanitária.

Pois no Brasil, bem que os beneficiários das malas de dinheiro roubado do povo que passa necessidades e até fome, a ponto de irmos mostrar, no G8, o nosso troféu de miséria, poderiam devolver o nosso dinheiro, minorando a pobreza. Talvez aceitando o desafio de Cristo, algum inocente jogaria a primeira pedra. Mas, sem desrespeito à palavra divina, a realidade que vivemos é que parecem tão poucos os políticos brasileiros sem o pecado do mensalão e outros, que ficamos a pensar que se algum gato pingado que o filósofo Diógenes aqui pudesse encontrar e identificar com sua lanterna como um homem honesto atirasse a primeira pedra, alcançaria uma multidão que se espraia de norte a sul, de leste a oeste, numa azáfama de roubalheira. E um só apedrejado ou punido não vai resolver o problema.

Se o mensalão foi para os bolsos de tantos deputados de todos os partidos, inclusive o PT, e já foram descobertos casos semelhantes em estados e municípios, temos de concluir que a compra de apoios e votos é um costume nacional. É mais um aspecto do Brasil, país pobre, onde há a segunda maior desigualdade social do mundo e cerca de 40% da população vive abaixo da linha da pobreza. É um país moralmente também pobre. Melhor dizendo, empobrecido por falsas lideranças políticas que conquistam seus elevados postos comprando votos e fazendo demagogia, tudo porque a sua gastança será recompensada com malas de dinheiro que cairão sobre seus colos no exercício dos mandatos.

Seria este um problema sem solução? Será que não dá para multidões de políticos honestos lançarem milhares de pedras sobre os pecadores? É possível, se bem que pouco provável. E a cada dia mais evidencia-se que é preciso fazer um reforçado controle externo sobre o governo. Já foi admitido que se faça sobre o Judiciário, mas por que não se faz também sobre os executivos e legislativos? O controle que hoje temos surte algum efeito. Ele se exerce através da imprensa vigilante, da OAB e de algumas ONGs dedicadas à moralização da vida pública brasileira. Mas a torpe realidade que se evidencia nos indica que é preciso montar outras estruturas de vigilância, externas e diversas. Estruturas com o direito de atirar pedras em ladrões do dinheiro público.

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