Consumir com cautela

As boas notícias na economia que o governo tem anunciado ainda não foram suficientes para convencer a parcela de consumidores de renda alta a aumentar suas compras. Preços altos e temor crescente quanto a uma mudança drástica no horizonte imediato tornam menos otimista a perspectiva de consumo de bens de custo elevado.

O cenário adverso foi revelado por uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontando nos juros altos o principal fator do encolhimento da intenção de comprar por parte da maioria das famílias ouvidas em doze capitais.

Comparando com os seis meses anteriores, 53,7% das 1.440 pessoas entrevistadas entre os dias 7 e 22 de março responderam que não pretendem aumentar seus gastos. É uma indicação objetiva de que os resultados até certo ponto favoráveis da economia ainda não foram capazes de despertar a confiabilidade das famílias de renda média e alta.

Segundo o coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas da FGV, Aloísio Campelo, não se pode garantir que haja mudança nítida no ambiente político capaz de gerar uma alteração na confiança do consumidor. Em outras palavras, o consumidor continua muito cauteloso porque em outras ocasiões testemunhou ciclos de retomada de crescimento econômico de efêmera duração.

Os pesquisadores também descobriram que os consumidores haviam feito a reposição desse tipo de bens no ano passado, fato confirmado pelos registros de aumento expressivo na produção de automóveis e eletroeletrônicos. O aperto da política monetária também contribuiu para trazer alguma preocupação com o mercado de trabalho nos próximos meses, temendo-se um corte sensível de postos de trabalho entre os salários mais altos.

Não podia ser diferente, mesmo para as classes mais abastadas, num País que tem a taxa de juros básicos – 19,25% ao mês – entre as maiores do mundo. Caldo de galinha e barbas de molho não fazem mal a ninguém.

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