Consumidor dá pouca importância a ações sociais das empresas

As ações de responsabilidade social das empresas interferem de forma muito restrita na decisão dos consumidores. As pessoas não levam isto em conta no momento da compra. As iniciativas se ampliaram nos últimos anos, mas o brasileiro não toma atitudes par a prestigiar ou punir uma empresa. Os dados são de uma pesquisa realizada pelos institutos Ethos e Akatu e o Indicator GfK, que resultaram no relatório "Responsabilidade Social das Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro, Pesquisa 2004", a ser divulgado esta semana.

Há quatro anos, os efeitos das medidas sociais eram mais amplos, pois 24% das pessoas tomavam decisões de compra com essa consideração, contra 58% que nem pensavam em fazer isto. Hoje, apenas 17% praticam o consumo consciente, contra 70% que não ligam para o comprometimento social na hora da compra nem falam bem da empresa com atitudes responsáveis.

Da mesma forma, poucos rejeitam empresas que não tenham conduta socialmente responsável. No último ano, 14% disseram ter adotado atitudes punitivas e 76% declararam não ter pensado em agir desta forma. Quatro anos atrás, o engajamento era maior: 19% diziam punir empresas irresponsáveis socialmente e 63% efetivamente não fizeram isto.

O estudo foi patrocinado pelo Grupo Carrefour e tinha o objetivo de aferir a percepção dos consumidores brasileiros sobre o papel social das empresas e suas expectativas sobre a contribuição empresarial para o desenvolvimento econômico e social.

Passividade

O levantamento mostrou que existe um distanciamento entre o que o consumidor pensa e seu comportamento real. Ao mesmo tempo em que é exigente com relação aos deveres da empresa, no momento de agir manifesta uma atitude passiva. Na opinião de Oded Grajew, presidente do Instituto Ethos, o que falta ao brasileiro são informações claras sobre as ações das empresas, tanto positivas como as negativas, como as de agressão ao meio ambiente. "O brasileiro tem dificuldade de passar do discurso à ação", disse.

Foram ouvidas mil pessoas nas regiões metropolitanas de Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Distrito Federal, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo em dezembro do ano passado. Além da percepção do consumidor, foram abordadas questões ligadas à globalização, à economia, ao envolvimento das empresas com os problemas sociais e confiança nas instituições. O relatório faz parte de uma pesquisa internacional da Indicator GfK, envolvendo 21 países: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Chile, China, Espanha, EUA, França, Grã-Bretanha, Grécia, Índia, Indonésia, Itália, México, Nigéria, Rússia, Turquia e Uruguai.

O Brasil está no grupo dos oito países em que a população tem mais interesse em saber o que as empresas estão fazendo na área social, pois perto de 72% disseram querer se informar melhor sobre isso. À frente do Brasil estão México, Canadá, França, Itália , África do Sul, Austrália, Nigéria. Os países com menor interesse são Argentina, Espanha, Rússia e Uruguai.

Uma parte expressiva dos entrevistados, 76%, acredita que a sociedade pode interferir na maneira como uma empresa atua. Mas as opiniões se dividem quando a questão é se o governo deve criar leis que obriguem grandes empresas a irem além do seu papel econômico tradicional, mesmo que isso implique em preços mais altos e menos empregos – 57% concordam e 42% discordam.

Há um impasse também diante da indagação se as empresas grandes estão fazendo um bom trabalho em construir uma sociedade: 54% concordaram e 43% discordaram. A pesquisa mostrou também que as instituições que inspiram menos confiança dos entrevistados para trabalhar pelo interesse da sociedade são as companhias internacionais com operação no Brasil: 60% das pessoas disseram não ter confiança nelas, ao passo que apenas 8% manifestaram muita confiança e 31% alguma confiança.

Quem, entretanto, tem o melhor conceito nesta área são as ONGs, nas quais 65% dos entrevistados disseram confiar, seguida pela Nações Unidas e a imprensa/mídia, cada uma com 52%. Na avaliação sobre a competência do governo federal, houve uma divisão: 54% manifestaram confiança e 46%, desconfiança. Com relação às grandes companhias brasileiras, perto de 58% dos entrevistados disseram ter confiança e 41% não.

Grajew acrescentou que uma atitude mais crítica do consumidor está condicionada ao ambiente econômico e reconhece que em momentos de crise existe maior dificuldade em influenciar o comportamento de consumo, pois muitas decisões esbarram na questão preço.

Com as perspectivas mais positivas para o próximo ano, o cenário pode se alterar. Segundo ele, um dos grandes objetivos do Instituto Ethos para 2005 é colocar em prática um amplo projeto, já em preparação, com indicadores sobre empresas, destinado a dar subsídio ao consumidor para influenciar esta decisão.

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